É possível fazer filme independente sem dinheiro público no Brasil? Três servidores da Ancine --agência que regula o setor audiovisual no país-- querem provar que sim.
"Dia de Preto", que será exibido hoje pela primeira vez numa telona, dentro da programação do Festival do Rio, custou R$ 270 mil.
Em vez de vir de leis de incentivos ou de editais, o dinheiro partiu do bolso dos diretores Marcial Renato, Daniel Mattos e Marcos Felipe Delfino e de permutas durante a produção.
"É um filme com uso racional dos recursos e que aposta na distribuição. Dependemos unicamente do resultado comercial para mostrar ser possível fazer cinema que se sustente no país", afirma Renato, 36.
O longa é descrito como uma "comédia de aventura", com direito a viagens no tempo, perseguições e cenas de época. A trama faz uma relação entre o primeiro escravo libertado no Brasil com um motorista de uma família rica nos dias atuais (os dois personagens são vividos pelo ator Marcelo Batista) que se envolve no roubo de uma relíquia.
Segundo Renato, as referências vão desde a série "De Volta para o Futuro" e "Curtindo a Vida Adoidado" a diretores aclamados pela crítica, como Terrence Malick e Martin Scorsese.
O desejo de fazer um longa vem dos tempos de quando o trio ainda estudava na faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles concluíram o curso em 1998 e, em 2000, aprovaram o primeiro projeto para captação de recursos via lei de incentivo fiscal. No entanto, não conseguiram arrecadar nada.
Em 2004, Renato fechou parceria com um shopping do Rio e resolveu tocar o projeto adiante. Depois de algumas adaptações no roteiro, fez daquela sua principal locação. As filmagens começaram em 2006 e duraram um ano e dois meses, ocorrendo somente nas madrugadas dos fins de semana -- nos intervalos do trabalho regular dos três.
O desafio do trio de neocineastas é fazer o filme ser visto. Todos os que participaram da produção tornaram-se sócios e a única renda deles virá da bilheteria.
O problema é que, até agora, o filme não tem distribuidor. Para Renato, a exibição em festivais foi a saída para fazer o trabalho acontecer. Entre os eventos pleiteados, estão os festivais de Sundance e de Miami.
DIA DE PRETO
DIREÇÃO Marcial Renato, Daniel Mattos e Marcos Felipe Delfino
PRODUÇÃO Brasil, 2011
QUANDO sábado (8), às 19h15, na Cinemateca do MAM
CLASSIFICAÇÃO 14 anos