O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) julgou hoje as primeiras denúncias envolvendo a partida entre Fortaleza e CRB, pela última rodada da fase de grupos da Série C do Campeonato Brasileiro.

O Fortaleza foi absolvido do pedido de exclusão do campeonato, o CRB foi condenado a pagar R$ 20 mil por conta do atraso e perdeu os atletas Paulo Rodrigues, por um jogo que já foi cumprido, e Cristiano por dois jogos, sendo que um já foi cumprido.

Foi assim que ficou definido as punições em relação aos julgados:

Fortaleza absolvido da possibilidade de exclusão do campeonato. Fortaleza e CRB punidos em R$ 20 mil pelo atraso no retorno para o segundo tempo. Fortaleza punido em R$ 5 mil pela garrafa atirada no gramado. Árbitro Gutemberg de Paula Fonseca absolvido. Paulo Rodrigues, do CRB, punido por um jogo. Goleiro Cristiano, do CRB, punido por dois jogos. Maizena, também do CRB, absolvido. Carlinhos Bala punido em R$ 10 mil e seis partidas de suspensão

Votos

O primeiro auditor a votar foi o relator do caso, Francisco de Assis que votou assim: absolve o Fortaleza da possibilidade de exclusão do campeonato; multa Fortaleza e CRB em R$ 20 mil pelo atraso no retorno ao gramado; absolve o árbitro Gutemberg de Paula Fonseca; aplica um jogo ao jogador Paulo Rodrigues, do CRB; aplica dois jogos ao goleiro Cristiano, também do CRB e absolve o jogador Maizena, do CRB, que teria dito "deixa fazer". A maior punição foi para o atleta Carlinhos Bala, que pegou seis jogos.

E Francisco de Assis ainda lembra que provavelmente haverá uma ação de impugnação da partida para ser analisada pelo Tribunal Pleno do STJD.

O auditor Otacílio Araújo disse que iria acompanhar o relator quase na totalidade. “ É difícil condenar sem prova. Houve alguma coisa sim. Carlinhos Bala tentou. Mas daí aos jogadores do CRB aceitarem isso, não acredito. Se quisessem combinar um resultado, teriam combinado antes do jogo. Dentro das quatro linhas, com o jogo rolando, não tenho como acreditar nisso”

“Vou divergir em relação à multa aplicada: R$ 15 mil pelo atraso do Fortaleza e R$ 10 mil ao CRB. Vou divergir também em relação a garrafa jogada: mais R$ 5 mil ao Fortaleza. E absolvo o Carlinhos Bala. Não vi corpo mole do CRB por isso é impossível impugnar essa partida” - disse.

O terceiro voto foi do auditor Marcelo Tavares. “Mantenho a pena de R$ 20 mil aos clubes pelo atraso. Absolvo o Fortaleza da exclusão do campeonato. Acompanho o Otacílio na multa de R$ 5 mil pelo arremesso da garrafa. Também absolvo o árbitro assim como meus companheiros. Acompanho o relator na punição aos jogadores expulsos (Paulo Rodrigues e Cristiano) e ao Maisena, - Aplico a multa de R$ 10 mil e pena de 12 partidas ao atacante Carlinhos Bala - disse.”

O quarto voto foi feito por Jonas Lopes. “Acompanho a multa de R$ 20 mil para os dois clubes pelo atraso. Os próprios assumiram que foi deliberado. Sobre a garrafa arremessada ao campo eu também puno o Fortaleza em R$ 5 mil. Absolvo também o Fortaleza da pena de exclusão do campeonato. Acompanho os companheiros na punição aos expulsos e na absolvição do Maizena. Por fim, o Carlinhos Bala. Desde o início me convenci que houve a prática do jogador para tentar facilitar a partida. Mas, apesar da tentiva, não consegui enxergar o CRB facilitando a vida do Fortaleza. Por esse motivo condeno o jogador de R$ 10 mil e seis partidas de suspensão”

O último a votar foi o auditor Paulo Valed. “Acompanho o relator na multa o clubes, mas puno o Fortaleza em R$ 5 mil pela garrafa alterada. Vou discordar em relação ao árbitro. Foi um jogo com uma série de fatos anormais. Ele deveria narrar, pelo menos, a tentativa da comissão técnica e dos reservas de avisar aos jogadores do CRB o resultado da outra partida. E ele deveria também ter narrado na súmula que os jogadores voltaram do intervalo com as camisa trocadas. Peço a suspensão do árbitro por 30 dias. Quanto aos jogadores mantenho a pena do relator. Já sobre o Carlinhos Bala, aplico multa de R$ 10 mil e 12 jogos – disse”

A Sessão

A sessão foi bastante movimentada e contou com as presenças dos presidentes das federações da Paraíba, Rosilene Gomes e do Ceará, além dos advogados de Fortaleza, CRB e Campinense.

O advogado Paulo Rubens do Fortaleza/CE, reclamou das novas provas inseridas pelo Campinense que mostrava um estudo feito pela confederação brasileira de surdos com a leitura labial dos diálogos da partida, que de acordo com o time paraíbano comprovam a combinação de resultado entre CRB e Fortaleza. Mas os relatores e auditores deferiram a prova de leitura labial.

O advogado do Fortaleza disse que a defesa do clube estava sendo cerceada, mas o relator do caso, Francisco de Assis Pessanha Filho ignorou as reclamações do advogado cearense.
O advogado do Fortaleza pediu para ouvir o atacante Rodrigo Dantas, também do Fortaleza, como testemunha. O presidente da Segunda Comissão, Paulo Valed, no entanto, indeferiu o pedido.

- Ele é parte interessada no caso. Não pode ser testemunha. Apenas informante - explicou Valed.

As provas de vídeo dos clubes foram apresentadas, cada uma com a edição que lhe era favorável. Em um momento de constrangimento o vídeo do Campinense terminou com o áudio de uma música do sambista Bezerra da Silva que dizia “se gritar pega ladrão”.

O jogador Carlinhos Bala disse que não ouviu nenhum jogador do Fortaleza pedir o resultado ao CRB. Já o juiz Gutemberg Barbosa negou que tenha dito a imprensa que viu os jogadores conversando entre si.

O procurador William Figueiredo foi contundente e disse: "A procuradoria tem o dever de tecer alguns comentários. Esse tribunal geralmente se ocupa de julgamentos mais comuns. Em ocasiões especiais como essa, existe um clamor público, uma espécie de espera por uma resposta do tribunal. Em 2009 julgamos o caso do Coritiba, que perdeu mando de campo de 30 jogos inicialmente. Mas foi uma decisão significativa em uma questão de violência".

“- Nos deparamos às vezes com questões de doping. Esses julgadores presentes já passaram por situações similares. E em todas a comissão agiu de forma exemplar. Temos o caráter pedagógico. Daqui saem decisões que passam regras de conduta para a sociedade em geral. Seria um retrocesso não fazer desse um caso exemplar - disse.”

O advogado do Campinense citou o caso como uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro, comparando-o à Máfia do Apito, de manipulações de resultados do Campeonato Brasileiro, em 2005. E diz ainda que o caso repercutiu internacionalmente

“Parece que ninguém viu nada, né? Carlinhos Bala, o árbitro... Aliás, o árbitro estava em campo? Aos 49 minutos do segundo tempo ele não viu um recuo para o goleiro do Fortaleza. Sem competição não há disputa. Foi uma covardia. Fere o princípio maior do esporte, que é a competição. Os autos do processo têm provas evidentes. O zagueiro do CRB disse "deixa fazer". Carlinhos Bala disse falta um. Seria uma cerveja? Não acredito. Quero preservar o espírito de competição” disse o advogado.

O advogado da Confederação Cearense de Futebol, Marcelo Desidério citou até o nazismo na defesa do Fortaleza.

“Me senti transportado para a Alemanha nazista diante desse discurso. Foi uma vergonha sim. Mas não o jogo, e sim o que o Campinense fez com o Fortaleza na última semana. Quem está mendigando é o Campinense, que quer entrar no céu sem morrer. Quer que este tribunal cancele o resultado que foi conquistado em campo. Só não entendi direito. Se o Campinense quer que o Fortaleza jogue outra vez, eles vão jogar de novo também?” disse ele.

“Não houve facilidade. No último gol, inclusive, dois jogadores do CRB dão carrinho na bola. Isso é facilitar? - explicou Desidério.

Advogado do CRB diz que time está em penúria financeira

O advogado do CRB, Osvaldo Sestário, surpreendeu e disse que o CRB está em uma penúria financeira e por isto não trouxe Maisena e Aloisio para depor.

“Pedi para que o Maizena viesse depor, mas o clube, em uma penúria financeira grande, não pode mandar o jogador. E nem o Aloísio. Simplesmente pela questão financeira. Mas, para mim, tudo isso é uma questão técnica. Há exagero. Primeiro peço que o clube não seja punido pelo atraso. O clube enfrentou muita pressão no jogo. E só demorou para voltar para o segundo tempo porque o Fortaleza também demorou - disse Sestário.”