A agência de classificação de risco S&P (Standard & Poor´s) negou que tenha cometido um erro de cálculo que levou ao rebaixamento da nota de risco de dos Estados Unidos, segundo a edição eletrônica do "Wall Street Journal".
A agência rebaixou na sexta-feira a nota de risco de crédito do país de "AAA" para "AA+" pela primeira vez na história.
A acusação de que houve um erro de cálculo de US$ 2 trilhões foi feita por um funcionário do Tesouro americano, também ao "Wall Street Journal".
"Considerando um horizonte de longo prazo de 10 anos, o nível de endividamento líquido dos Estados Unidos no cenário atual seria de US$ 20,1 trilhões (85% do PIB previsto para 2021). Se levado em conta o cenário original [antes dos cortes de gastos], o nível de endividamento projetado seria de US$ 22,1 trilhões (93% do PIB de 2021)", disse a S&P.
Pela explicação dada pela agência, portanto, a S&P retirou a diferença de US$ 2 trilhões da expectativa de endividamento do país para os próximos 10 anos depois do o corte de gastos ter sido aprovado pelo governo.
ACUSAÇÃO
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusou nesta sexta-feira (5) a agência de classificação de risco S&P de ter cometido um erro de US$ 2 trilhões em seus cálculos para rebaixar pela primeira vez na história a nota da dívida americana de "AAA" a "AA+".
Segundo a versão do Tesouro, este recebeu a análise da agência de classificação de crédito na tarde de sexta-feira e alertou a S&P de um erro que elevava as projeções do deficit futuro em US$ 2 trilhões.
Em seu comunicado, a Standard and Poor's indicou que "o rebaixamento foi decidido porque a consolidação fiscal estipulada pelo Congresso e a Administração fica aquém da necessária para estabilizar a dinâmica da dívida do governo a médio prazo".
Desta forma, a agência cumpriu as advertências de rebaixamento da dívida dos EUA que emitira nas últimas semanas, durante as negociações no Congresso americano para elevar o teto da dívida e evitar a temida moratória.
REBAIXAMENTO
A agência de classificação de risco S&P rebaixou a nota da dívida americana para AA+ devido aos riscos políticos e ao peso da dívida americana em relação ao PIB (Produto Interno Bruto).
A agência decidiu anunciar a decisão na sexta-feira à noite, depois do fechamento do mercado, para dar tempo dos investidores se acalmarem durante o fim de semana.
Mais cedo nesta sexta-feira, já havia rumores de que a nota americana, que era AAA desde 1917, seria rebaixada. A agência também teria segurado a divulgação do "downgrade" porque funcionários do Tesouro americano encontraram erros na análise do S&P sobre a receita do governo e a situação do deficit.
A disputa entre os partidos --Democrata e Republicano-- sobre a política fiscal americana também deixou a agência pessimista sobre a capacidade dos EUA conter o deficit.
A perspectiva da nova classificação é negativa, afirmou a S&P em comunicado, um sinal de que outro rebaixamento da nota é possível nos próximos 12 a 18 meses.
A nota da dívida americana pode ser rebaixada para "AA" caso haja menos redução de gastos do que o previsto, taxas de juros mais elevadas ou aumento da trajetória da dívida maior do que o esperado.
O rating AAA permitia que o país tomasse emprestado recursos a uma taxa de juros mais baixa, pois governo é considerado estável, e seus títulos são tidos como seguros.
Agora, os títulos do Tesouro dos EUA, uma vez vistos como o investimento mais seguro do mundo, estão classificados abaixo de títulos emitidos por países como Reino Unido, Alemanha, França ou Canadá, conforme a "Reuters".
Em tempos de crise, investidores vendem suas ações em mercados emergentes, como o Brasil, e procuram abrigo em títulos seguros.
RECESSÃO
Nesta semana, os mercados tiveram dias bastante nervosos, principalmente na quinta-feira, e elevaram o receio de que a economia mundial entre em novo período de recessão. As Bolsas caíram na Ásia, na Europa e nas Américas --a de São Paulo teve um dos piores desempenhos no mundo, perdendo 5,72%, a maior queda desde novembro de 2008.
Por isso, investidores se desfizeram de ações e buscaram proteção no Tesouro americano. Apesar da discussão sobre o calote da dívida americana, os títulos dos EUA continuavam a ser os mais confiáveis, já que não havia outro papel que tivesse a mesma liquidez e outras grandes economias também enfrentam problemas.
O "downgrade" deve empurrar os mercados financeiros globais para um território desconhecido depois de uma semana volátil devido às preocupações sobre a crise da dívida na Europa -- que atinge agora Espanha e Itália -- e sobre a possibilidade de dupla recessão da economia dos EUA.
BOLSAS
Nesta sexta-feira, mais de 15,9 bilhões de papéis trocaram de mãos no dia com maior giro financeiro em mais de um ano, à medida que investidores se voltaram para ações de grandes empresas que haviam desvalorizado nos últimos dias, quando o mercado acionário registrou perdas expressivas.
O intenso movimento de vendas nesta semana reflete a frustração com o lento crescimento econômico e a falta de habilidade de políticos em solucionar os crescentes problemas sobre a alta dívida pública na Europa e Estados Unidos.
Os efeitos reais do rebaixamento só poderão ser sentidos quando as bolsas asiáticas abrirem na segunda-feira no horário local (noite de domingo no Brasil).
Outras agências de rating -- como a Moody's e a Fitch -- decidiram não rebaixar a nota americana. No entanto, alertaram que se os EUA não tomarem medidas adicionais para estagnar o débito, também poderão rebaixar a nota da dívida americana.