O presidente do grupo francês Casino, número dois do varejo, Jean Charles Naouri, confirmou nesta quinta-feira que mantém sua decisão de tomar o controle em 2012 de sua filial brasileira CBD Pão de Açúcar, alvo de uma dura disputa com o Carrefour, gigante do setor. Interrogado durante a apresentação dos resultados semestrais sobre se seguirá em frente com esta decisão, Naouri limitou-se a responder: "sim".

O presidente do Casino opôs-se energicamente nas últimas semanas a um projeto de fusão de sua filial brasileira com o gigante francês Carrefour, defendido pelo fundador do CBD, o influente empresário brasileiro Abilio Diniz.

O fracasso deste projeto em meados de julho não significa o fim dos procedimentos de arbitragem lançados pelo Casino contra Diniz diante da Câmara de Comércio Internacional, nos quais exige o respeito de um pacto de acionistas com seu sócio brasileiro.

Segundo este pacto entre o Casino e a família Diniz, o grupo francês espera assumir o controle do CBD Pão de Açúcar em meados de 2012. Até agora o Casino tem uma participação de 43,1% no CBD Pão de Açúcar.

A proposta do multimilionário brasileiro de 75 anos revelada pelo Carrefour no dia 28 de junho colocou em perigo os planos iniciais do diretor do Casino, que qualificou o projeto de "hostil" e ilegal". "É preciso respeitar os acordos. Esperamos das outras partes envolvidas que respeitem os acordos", declarou nesta quinta-feira Naouri, que assegurou que não tem intenções de pedir a revogação de Diniz.

Naouri também confirmou que o conselho de administração da Wilkes, holding com a qual o Casino compartilha com Diniz o controle de CBD, previsto para 2 de agosto, foi anulado. Interrogado sobre o papel de Diniz nas atividades do Pão de Açúcar, Naouri negou-se a "emitir considerações pessoais sobre o papel de Diniz".

Em troca, ressaltou sua confiança na gestão do Pão de Açúcar ao considerar que suas relações com a direção da filial brasileira são "excelentes". O Casino anunciou nesta quinta-feira um lucro líquido em queda de 22,9% no primeiro semestre de 2011, a 134 milhões de euros, e vendas em alta de 18,8%, a 16,14 bilhões de euros (US$ 23,055 bilhões), graças aos países emergentes. O Casino concentra seu desenvolvimento internacional no Brasil, Colômbia, Vietnã e Tailândia. "Hoje em dia não há projetos para entrar em outros países", indicou Naouri.

Entenda
O grupo francês Carrefour anunciou em 28 de junho ter recebido uma proposta de fusão de ativos no Brasil com os da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), do grupo Pão de Açúcar. O BNDESPar e o BTG Pactual foram os parceiros escolhidos por Abílio Diniz para tentar concretizar a união, em uma complexa operação para não ferir acordo de acionistas. Diniz e Pão de Açúcar estavam impedidos de negociar diretamente com o Carrefour sem o consentimento do grupo Casino, que detém 43% da rede brasileira, devido a cláusulas do acordo de acionistas firmado em 2006. Segundo o documento, o Casino tem o direito de assumir o controle do Pão de Açúcar em junho de 2012.

Pelos termos apresentados, a Gama (fundo do BTG) e o braço de investimentos do BNDES formariam a Nova Pão de Açúcar (NPA). Após uma série de etapas, o Carrefour teria sua operação no Brasil incorporada pelo Pão de Açúcar. A negociação previa que a aquisição das lojas do Carrefour no Brasil por meio da Gama teria investimento de 1,7 bilhão de euros (cerca de R$ 4 bilhões) do BNDESPar e de 300 milhões de euros pelo BTG Pactual, que arcaria com dívida de 500 milhões de euros da varejista francesa no Brasil. Após pressão da opinião pública, o BNDES voltou atrás antes mesmo da oferta ser suspensa no dia 12 de julho.

A fusão envolvendo o Carrefour no Brasil surgiu depois que o Pão de Açúcar comprou nos últimos anos Ponto Frio e Casas Bahia, consolidando sua liderança no varejo do País. As duas aquisições ainda não passaram pelo crivo do órgão antitruste, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Porém, a operação nem chegou ao Cade. Em reunião com Diniz, os conselheiros do Casino foram contra a fusão, alegando que as sinergias foram "fortemente superestimadas". A holding que representa os Diniz afirmou em nota que o sócio francês "não analisou devidamente todos os aspectos da proposta" e que a decisão foi "profundamente lamentável".