Emerson diz que Pietro é agressivo. Pietro afirma ter uma tocada suave no volante. Em comum, a paixão pelo automobilismo, o sobrenome, o sangue, o pioneirismo.
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No sábado, Pietro Fittipaldi, 15, tornou-se o primeiro piloto brasileiro a vencer uma prova em uma divisão da Nascar. Foi no oval de Hickory, na Carolina da Norte, pela Whelen All American Series, campeonato-escola da stock car americana.
"Esse pioneirismo é muito legal. Falei pra ele que vai ficar na história", diz Emerson, primeiro brasileiro a vencer na F-1, em 1970.
No próximo mês, ambos terão mais um ponto em comum. Aos 64, o bicampeão da F-1 e campeão da Indy experimentará uma novidade. Vai testar o carro do neto. "Só espero não levar tempo dele", contou, rindo.
A Folha conversou com os dois por telefone.
Folha - Como é o estilo de pilotagem do Pietro?
Emerson Fittipaldi - O Pietro sempre foi mais agressivo na corrida do que na classificação. Isso é bom na Nascar, porque você guarda os pneus para o momento mais decisivo. Ele está aprendendo na base da Nascar, que é uma categoria de muito contato. É diferente de tudo o que eu aprendi.
Pietro Fittipaldi - Gosto de ser suave com o volante. Quanto mais suave, menos pneu você gasta. Se você fica mexendo muito com o volante, de um jeito nervoso, o pneu acaba rápido.
Folha - Que tipo de dicas você passa pro Pietro?
Emerson - A dica que eu dei no sábado foi para ele terminar a corrida. Era a primeira vez que ele largava na frente, tinha essa pressão... Eu disse para ele não assumir risco nenhum e tentar levar até o final, que o vovô estaria na torcida.
Pietro - Ele sempre liga, a gente sempre se fala, mas ele não gosta de se meter pra falar do carro. São mais dicas para eu não ficar nervoso, para manter a calma.
Folha - E depois da vitória, como foi a conversa?
Emerson - Eu disse que a pressão agora vai crescer. E disse algo que sempre falo pra quem está começando: no automobilismo, você precisa aprender a se frustrar. A próxima corrida pode não ser tão boa, mas sempre haverá outra.
Folha - Com essa idade você ainda corria de moto...
Emerson - Em Interlagos. E eram motinhos 50 cilindradas, de 8 cavalos! E agora meu neto corre na Nascar [o carro de Pietro carrega um motor de 430 cavalos].
Folha - Você, Pietro, não cogita tentar um fórmula?
Pietro - Quando eu era pequeno, meu sonho era a F-1. Mas aí comecei a ver meu tio [o italiano Max Papis, casado com Tatiana Fittipaldi] na Nascar e gostei mais do estilo. Achei mais competitivo. Você está sempre lado a lado com outro carro, enquanto na F-1 um piloto está sempre a 8 ou 10 segundos do mais próximo.