Farinha de mandioca de Arapiraca, em Alagoas, geleia de maracujá da Bahia e suco de laranja in natura de Sergipe estarão nos próximos dias nas prateleiras dos supermercados Pão de Açúcar e G. Barbosa (rede sergipana). Produtos normalmente encontrados nos supermercados, estes trazem o selo da agricultura familiar e representam a primeira iniciativa para a conquista de mercado em larga escala por pequenos agricultores reunidos em cooperativas.

 

A ação articulada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por meio de acordo assinado com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), integra o Plano Brasil Sem Miséria e começa com os produtos dos três estados nordestinos. “A ideia é apresentar esses produtos ao consumidor”, afirmou Paulo Pompilio, diretor de Relações Institucionais do Grupo Pão de Açúcar, nesta segunda-feira (25), na cidade alagoana, durante o anúncio de uma série de ações pela presidenta Dilma Rousseff e pela ministra Tereza Campello (veja quadro abaixo).

 

“Vamos colocar dois produtos em 60 lojas do Pão de Açúcar”, comemora Adilson Ribeiro, presidente da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Copercuc). A agricultura familiar dos três municípios baianos produz geleias, compotas, doces de goiaba (em corte e cremoso), maracujá e umbu. Com selo da agricultura familiar, certificado de exportação e produtos orgânicos, os 180 cooperados exportam para Itália, França e Áustria, mas ainda não conquistaram o mercado de varejo brasileiro. A produção anual se aproxima de 300 toneladas.

 

A aquisição de um equipamento para padronização e empacotamento vai reduzir os custos em 20% e garantir escala de produção da farinha de mandioca para colocação no supermercado. “Com a empacotadeira, a produção passa de 12 toneladas por semana para 16 por dia“, revela o gerente de Negócios da Cooperativa Agropecuária de Campo Grande (Cooperagro), Eloísio Barbosa Lopes Júnior.

 

A medida é a primeira ação de inclusão produtiva do Brasil Sem Miséria que visa aumentar a renda dos pequenos agricultores, especialmente dos que estão na extrema probreza – renda mensal por pessoa de até R$ 70. É o caso de praticamente todos os integrantes da Cooperagro. Segundo Lopes Júnior, a média de renda dos produtores de mandioca de Arapiraca gira em torno de R$ 3 mil por ano por família.

 

O representante da cooperativa destaca que a venda da farinha para supermercado é a única saída para os pequenos agricultores conquistarem escala na produção. “Mesmo com marca registrada e código de barra, a farinha de mandioca da Cooperagro não conseguia chegar ao mercado”, observa Lopes Júnior. O gerente da cooperativa declara que só com a articulação montada pelo Plano Brasil Sem Miséria, coordenado pelo MDS, foi possível aumentar a produção das 221 famílias cooperadas.

 

Em Sergipe, a iniciativa vai beneficiar 510 agricultores familiares de nove cidades. Eles produzem 3,5 mil litros de suco de laranja in natura comprados até agora pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Com a inclusão do suco na rede de supermercados G. Barbosa, a expectativa é de dobrar a produção em dois meses.

 

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, declarou que o acordo com a Abras significa inclusão para os pequenos agricultores, que poderão ter seus produtos vendidos não só para o PAA, mas também pela iniciativa privada. “Estaremos neste mês nos supermercados, garantindo que a produção da agricultura familiar seja comprada por todos os brasileiros”, concluiu.

 

Quilombolas – Estão previstas também pelo plano ações que reforçam a produção de comunidades quilombolas. A Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar do Sul da Bahia (Coofsulbra) vende produtos para o PAA. “É a sexta vez que assinamos a CPR (Cédula de Produtor Rural, documento que formaliza a compra por instituições públicas)”, informa Erivaldo Alves de Souza, da comunidade de Sapucaieira, localizada em Ilhéus. Ele produz banana, mamão, abacaxi, farinha e cacau e obtém, com a atividade, renda de um salário e meio por mês.

 

O agricultor Sebastião Damasceno, do município de Delmiro Gouveia, em Alagoas, comercializa 50 espécies de sementes, como milho, feijão, fava e palma. Com a venda, restrita à sua comunidade, arrecada um salário por mês.