No outro extremo da Europa, longe dos protestos da Acrópole ateniense, o governo alemão tem sido afetado intensamente pela crise grega. Assim que o pacote de medidas de austeridade foi aprovado no parlamento da Grécia, a chanceler Angela Merkel se manifestou, classificando como "notícia muito boa" a medida.
Ao longo do dia, outras figuras públicas do país declararam suas opiniões. O presidente alemão, Christian Wulff, alertou para a necessidade de “um programa sustentável, em que todos assumam reponsabilidades”. E Josef Ackerman, presidente do Deutsche Bank, disse que há disposição em ajudar, mas alertou para os riscos de operações apressadas, conforme reportagem publicada no site da revista Spiegel, uma das mais importantes do país. Tanta atenção ao caso acontece porque a Alemanha é, além da maior economia da zona do euro, o maior credor da Grécia.
Mas, apesar da aposta em ganhos futuros, tomar a dianteira nem sempre é um papel confortável. No caso dos alemães, em especial, há um desgaste político envolvido nas operações. Parte da população acredita que se o país investisse o dinheiro que cedeu à Grécia no próprio território, em indústrias ou na área social, a Alemanha ficaria mais competitiva. Soma-se a isso a impopularidade do corte de gastos da ordem de 7 bilhões de euros anuais até 2014, decidido pelo governo no ano passado.
Prova das dificuldades é que a aprovação do pacote grego exigiu um esforço político de Merkel. Foram seguidas conversas com banqueiros e ministros das finanças da zona do euro até a definição pela aprovação da ajuda.
Necessidade – Na visão de Merkel e de muitos políticos europeus, caso a Grécia não receba ajuda, dê calote na dívida, ou ainda pior, decida deixar do bloco, a situação seria ainda mais complicada. A Alemanha tem interesse direto no sucesso do parceiro de bloco porque, em primeiro lugar, grande parte das exportações germânicas destina-se à Europa – portanto, novas turbulências na economia não seriam boas para os negócios.
O segundo ponto é que, se a Grécia decidir adotar o 'dracma' (a antiga moeda grega) novamente, certamente o faria com uma grande desvalorização. Com isso, a Alemanha, que já investiu bilhões no país, perderia ainda mais, e não teria perspectivas de ver seu dinheiro de volta.
“A Alemanha tem produtividade surpreendente em relação a grande parte dos outros países europeus – e destina metade de suas exportações para a própria eurozona”, aponta Fernando Ribeiro, professor de economia da Pontificie Universidade Católica (PUC) e do Insper.
As boas relações comerciais do país com os Estados Unidos e com a China só complicam a situação. “Se várias moratórias se seguirem, a Alemanha vai ter problemas e vai arrastar mais economias com ela”, completa.
“Historicamente, a Alemanha é a locomotiva da União Europeia. Não há interesse de que o euro se enfraqueça”, disse Ingo Plöger, diretor de relações internacionais da Câmara de Comércio Brasil Alemanha. A perspectiva, claro, é que o pacote seja o primeiro passo para a recuperação da economia grega. Isto é o melhor que aconteceria para os gregos e alemães.