Oito anos de parceria, seis títulos e Sidnei Lobo segue dando suporte a Mano Menezes sem a pretensão de aparecer. A postura do auxiliar-técnico faz a Seleção Brasileira voltar a ter no cargo um profissional discreto, que foge dos holofotes e deixa o foco todo em cima de um treinador que tem na Copa América seu primeiro desafio no novo trabalho.
Durante o comando técnico anterior na Seleção, o auxiliar assumiu um papel de quase treinador. Jorginho participava de todas as entrevistas ao lado de Dunga, respondia a perguntas e servia de escudo. A sensação era quase de um comando duplo, para o bem e para o mal, que abria especulações até que o verdadeiro técnico era o auxiliar.
O exemplo clássico desta sobreposição veio na convocação para a Copa do Mundo, quando Jorginho atravessou uma pergunta a Dunga e esbravejou alegando uma "torcida contra" da imprensa. Um ano mais tarde, é impossível a ocorrência de uma situação parecida, mesmo que Mano Menezes passe a perder, sofra desgaste e se sinta pressionado.
"Eu penso que para o trabalho fluir, a melhor maneira é aparecer o mínimo possível", disse o auxiliar, que, assim como Mano, tem o cuidado de não fazer paralelos com o trabalho anterior. Mas as diferenças são tão nítidas que as declarações apenas comprovam a mudança de filosofia.
"Quando um treinador perde, é sempre ele que sofre a pressão. Então também é justo não aparecer quando está tudo bem", disse. Curiosamente, hoje Jorginho segue como treinador, comandando a campanha surpreendente do Figueirense no início deste Brasileiro, enquanto Dunga não assumiu nenhum clube desde a sua demissão.
Na conquista da Copa do Mundo de 2002, o Brasil teve sucesso com uma dupla que lembra muito Mano/Sidnei. Felipão e Flavio Murtosa também cresceram juntos, conquistaram títulos por clubes e chegaram à Seleção como inseparáveis - Murtosa teve uma rápida experiência como treinador do Palmeiras.
Nas duas Copas anteriores, o Brasil experimentou auxiliares mais próximos do perfil Jorginho. Em 1994, Zagallo virou personagem central da conquista do tetracampeonato com suas declarações ufanistas e proteção a Parreira. Quatro anos depois, Zico tornou-se auxiliar de Zagallo e, até mesmo por sua fama, não tinha como se esconder. Jairo Leal em 2006 era mais marcado pela discrição.
Evolução constante
Sidnei começou a sua carreira como jogador no São Paulo e passou por Fluminense, Atlético-PR, Criciúma, Paraná, Juventude e times do interior paulista antes de chegar ao Iraty, clube no qual foi treinado por Mano Menezes em 2003. No mesmo ano, Mano recebeu convite do 15 de Novembro de Campo Bom e, impressionado pelo conhecimento tático do volante, o convidou para ser auxiliar.
Sidnei aceitou trocar o gramado pela área técnica e iniciou uma trajetória que até o momento não teve retrocessos. A dupla ganhou notoriedade ao levar o Grêmio de volta à Série A em 2005, chegar à final da Libertadores em 2007 e comandar um Corinthians vitorioso entre 2008 e 2010. Receberam o convite da Seleção depois de seis títulos e uma relação já consolidada.
"Desde o início no 15 de Campo Bom aos poucos eu fui conquistando a confiança do Mano e construímos uma relação de lealdade. Este tempo junto faz com que eu absorva o seu perfil profissional, as suas ideias, sua filosofia, a sua leitura de jogo e a maneira como está pensando", explicou Sidnei.
O auxiliar sempre chega aos treinamentos acompanhando Mano e conversa com o amigo enquanto o preparador físico Carlinhos Neves passa os primeiros exercícios aos jogadores. Às vezes ajuda na organização do treino, carregando até traves. Quando a atividade é tática, apenas observa, mas toma o controle em trabalhos técnicos e de fundamentos.
Fora dos treinos, serve de principal interlocutor de Mano e diz que tem como meta estimular discussões que auxiliem na arrumação do time. Não perde um jogo na televisão e ajuda na análise de adversários. "Eu vejo tudo. Série B, Sub-20... Nessa semana, vi 4 ou 5 jogos", contou.
Sem pressa
Quarenta e um anos de idade, oito de parceria com Mano Menezes e um futuro em aberto na carreira. Sidnei poderia já se considerar pronto para bater asas sozinho, mas se diz satisfeito com a sua posição atual. "Estamos no topo, que é a Seleção Brasileira".
A história de auxiliares que depois viraram técnicos contam sucessos como o de Oswaldo de Oliveira e Muricy Ramalho, e carreiras que não decolaram. Sidnei Lobo um dia vai testar qual será a sua trajetória, mas quando isso vai ocorrer segue como incógnita.
"Eu serei um treinador um dia. Não sei se vai ser em cinco anos ou se vai ser em dez. As coisas estão funcionando bem até aqui e não tenho pretensão nenhuma de fazer isso agora. Nosso caminho ainda está sendo traçado", disse o auxiliar, que tem na Seleção a chance perfeita de encerrar a parceria com um "gran finale".
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