CIUDAD JUAREZ, México, 21 Jun 2011 (AFP) -Ana Isela Martínez, uma professora premiada várias vezes por seu trabalho com crianças, está há quase um mês detida em uma prisão mexicana depois de terem sido encontradas drogas em seu automóvel, ao cruzar a fronteira com os Estados Unidos, um caso que vem sendo motivo de protestos em ambos os países.

No fim de maio, a professora foi detida na ponte Reforma, entre Ciudad Juárez, a cidade mais violenta do México, afetada por crimes dos cartéis do narcotráfico, e El Paso, nos Estados Unidos, quando levava sua filha de seis anos para uma escola americana.

Uma operação militar na ponte encontrou 48 quilos de maconha em malas colocadas no porta-malas do veículo, as quais ela nega que sejam suas.

Apenas duas semanas antes, essa mulher de 35 anos tinha sido eleita professora do ano pela segunda vez consecutiva.

Um juiz rejeitou a versão da educadora de que as malas não lhe pertenciam, e ignorou os depoimentos sobre seus anos de trabalho irrepreensível e comportamento exemplar, e ordenou prendê-la por "tráfico e exportação de drogas ilícitas".

A situação de "Miss Anna", como a chamam seus alunos em inglês, foi denunciada por vizinhos, familiares, várias ONG e inclusive autoridades locais como exemplo de incongruência na atuação de uma Justiça incapaz de deter líderes dos grupos do narcotráfico, mas que se enfurece com cidadãos comuns.

"São carregamentos menores que às vezes os narcotraficantes deixam como isca para distrair as autoridades, enquanto ao lado passam um caminhão com meia tonelada", comenta um responsável policial de Ciudad Juárez que pediu para não ser identificado.

"Miss Anna my heart is with you" ("senhorita Anna, meu coração está com você"); "Liberdade para a professora", "Miss Anna: não se renda", afirmaram vários cartazes colocados em diversos pontos de Ciudad Juárez e também da vizinha El Paso.

"Ninguém pode acreditar no que estão dizendo de ''Miss Anna''. Ela é uma professora íntegra cuja principal preocupação era que nossos filhos crescessem em paz, afastados da violência", disse Claudia Holguín, sua vizinha no bairro Habitat de Ciudad Juárez.

Na prisão de Ciudad Juárez, "Miss Anna" não perdeu tempo e começou a dar aulas de inglês a cerca de 30 de suas companheiras. "Apenas aguardo e confio que com o tempo tudo se resolverá", comentou a um fotógrafo da AFP que entrou na prisão para fotografá-la.

Do lado se fora, seus vizinhos esperam e se manifestam de quando em quando para apoiá-la. "Esta não é apenas uma Justiça cega e surda, mas também louca", comenta Fernando Gómez, que junto de sua filha - uma ex-aluna de Isela - participa dos protestos promovidos quase diariamente pelos vizinhos para exigir sua libertação.

O prefeito de Ciudad Juárez, Héctor Murguía, anunciou o início de uma campanha para divulgar o caso da professora e também para evitar que ocorram novos casos como o dela, incluindo a divulgação de mensagens de rádio aconselhando os vizinhos a revisar seus veículos antes de cruzar a fronteira e o que fazer caso encontrem uma mala com drogas.

"Não tente desfazer-se do material, reúna duas testemunhas e avise as autoridades", afirma uma das mensagens transmitida pela rádio local.

O advogado da professora, Salvador Urbina, lembra que abundam em Ciudad Juárez relatos semelhantes de pessoas que encontram droga em seus veículos e acabam na prisão.

No início do ano, um médico americano de origem queniana, Justus Lawrence Opot, e a enfermeira mexicana Marisol Pérez ficaram detidos por duas semanas depois de denunciar que nos porta-malas de seus veículos tinham sido colocados 50 quilos de maconha. "Não há tranquilidade para ninguém quando os delinquentes continuam nas ruas e os inocentes vão para a prisão", disse Urbina.