O trem de bambu, a pequena locomotiva cambojana que durante décadas transportou passageiros e mercadorias ao longo das deterioradas vias do país, vive seus últimos dias antes de ser proibido e de substituído por um serviço ferroviário mais moderno.

O "lorry", como é chamado pelos locais, consiste em uma "jangada" de madeira, às vezes de bambu, acoplada a dois conjuntos de roda de aço que é propulsada por um motor de lancha de rio ou, em algumas ocasiões, por uma motocicleta ancorada à estrutura.

Os cambojanos cobram um dólar por passeios de até 40 quilômetros ao longo de uma pista que foi danificada pela guerra de tal forma que há três anos não circula nenhum trem.

Sem horários estabelecidos nem paradas pré-determinadas, a principal vantagem do trem de bambu é a facilidade com que é montado e desmontado, algo indispensável em uma linha-férrea de mão única.

Quando dois trens de bambu se cruzam, os passageiros descem e o engenho é rapidamente desmontado e removido para dar passagem ao de menor carga. Logo depois, a locomotiva é prontamente remontada e a viagem continua como se nada tivesse acontecido.

Esse peculiar veículo começou a circular no início dos anos 1980, após a queda do regime do Khmer Vermelho, para suprir as carências de transporte em um país onde as estradas tinham grandes buracos e praticamente não tinha trens.

Com velocidade de até 50 km/h e graças a um sistema simples e barato, o "lorry" não demorou a ganhar popularidade, sobretudo, na linha do norte do país.

A cidade de Pursat, a 175 quilômetros da capital, Phnom Penh, se encontra no centro dessa linha ferroviária, a principal para o transporte de mercadorias apesar de as estradas terem sido restauradas.

"O lorry continua sendo mais barato que a moto e o carro, portanto muitos continuam usando-o para pequenas distâncias", afirma uma jovem vendedora que oferece bolos e pães em um dos pontos de abastecimento.

Srey Leang usufrui todos os dias desta "jangada" de madeira com rodas para percorrer os 17 quilômetros que separam seu povoamento, Teteng Tengai, aonde não chega nenhuma estrada, da capital provincial, Pursat, onde vende as verduras que cultiva em sua horta.

"Se não tivesse o lorry eu teria que caminhar até aqui com a carga", disse a mulher de 40 anos que ainda não sabe que em poucos meses terá que encontrar outro meio de transporte, pois a restauração da via próxima de Phnom Penh já começou.

"O trem de bambu não cumpre com os padrões internacionais de segurança e ele não será permitido após a rede de trem cambojana estiver reabilitada", afirmou à Agência Efe David Kerr, diretor da Toll Royal Railway, a empresa australiana encarregada da gestão do tráfego da linha-férrea.

A proibição também afetará os 189 proprietários dos trens de bambu, porém, segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento, serão oferecidas compensações de entre US$ 225 e US$ 275 para que possam comprar uma motocicleta e continuar seu negócio.

Pisath Bao conduz o seu há sete anos e ganha cerca de US$ 200 por mês, lucro respeitável em um país onde um terço da população vive com apenas um dólar por dia.

"Não me importa que haja trens. Quando a via estiver pronta continuarei com o lorry", disse o homem de 35 anos, que após compartilhar a linha-férrea com os trens até 2009, alega ter experiência suficiente para desviá-los graças às informações que recebe dos funcionários da estação de Pursat em troca de uma pequena comissão.

"Há mercadorias que não podem ser transportadas pela estrada, podem estragar", afirma.

A restauração da linha-férrea começou no final de 2009 e está previsto que os mais de 650 quilômetros que percorrem o porto de Sihanoukville, ao sul, até Poipet, na fronteira com Tailândia, fiquem prontos em 2013.

Em outubro de 2010, foi liberado o primeiro trecho de 110 quilômetros entre Phnom Penh e Tuk Urinas, ao sul do país.