A dissidente soviética Elena Bonner, viúva do Prêmio Nobel da Paz Andrei Sakharov, e infatigável crítica de Vladimir Putin, faleceu sábado nos Estados Unidos depois de uma longa enfermidade, aos 88 anos, anunciou sua filha Tatiana Yankelevich à agência de notícias RIA Novosty.

Bonner, pediatra de profissão e una figura de importancia histórica, morreu em Boston (Estados Unidos), onde residia, depois de uma terceira cirurgia cardíaca, declarou à AFP sua amiga e companheira de luta em favor dos direitos humanos Lyudmila Alexeyeva.

Foi uma crítica enérgica da União Soviética desde o final dos anos 1960, tendo sido casada com o físico nuclear Andrei Sakharov. Sakharov, chamado "o pai da bomba atômica" soviética tornou-se logo um dissidente do regime. Ele morreu aos 68 anos, em 1989.

"Estou surpresa, infelizmente, de que nossa juventude não saiba quem foi Sakharov. Lamentavelmente, Bonner é ainda menos conhecida", afirmou Alexeyeva, radicada em Moscou.

Durante muitos anos, Elena Bonner foi o alvo principal da KGB (serviço secreto e polícia política soviética), que evitava atacar de frente seu marido. A KGB destacava suas origens judaicas para acusá-la de estar a serviço de potências estrangeiras e ter "desviado do bom caminho" o Prêmio Nobel.

Elena Bonner recebeu o Nobel da Paz concedido a seu marido durante cerimônia de entrega de prêmios em 1975 em Oslo, depois que Sakharov foi proibido de viajar ao exterior, devido a persistentes críticas que fazia às violações dos direitos humanos na então União Soviética.

Em 1938, quando Elena Bonner tinha 15 anos, no momento mais forte da repressão stalinista, seu pai foi fuzilado e sua mãe, condenada a oito anos de trabalho forçado. Inicialmente, Bonner aderiu ao Partido Comunista, abandonando-o em 1968, quando as forças soviéticas invadiram o que era então a Tchecoslováquia.

Disse depois que a decisão de ingressar no partido foi o pior erro de sua vida. Nos anos 1970, participou de protestos contra as detenções em massa de outros dissidentes, tornando-se em fonte vital de informações sobre o destino dos detidos e exilados pelo regime soviético.

Em 1980, Sakharov, o principal científico nuclear do país da época, foi confinado em Gorki, atualmente Nizhny Novgorod, por protestar contra a invasão soviética ao Afeganistão.

Sua mulher tornou-se o único vínculo de Sakharov com o exterior, até que em 1984 foi condenada a cinco anos de confinamento em Gorki por ter "divulgado sistematicamente informações caluniosas da União Soviética".

Depois da era soviética, Bonner participou de importantes organizações de defesa dos direitos humanos e, em seguida, tornou-se uma ardente opositora de Vladimir Putin, um ex-agente do KGB que presidiu a Rússia entre 2000 e 2008, e é, hoje, primeiro-ministro.