O ex-presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, deposto por uma revolta popular em janeiro, depois de 23 anos de poder, e sua mulher, serão julgados à revelia a partir de segunda-feira. O proceso contra o ex-presidente, que se refugiou na Arábia Saudita no dia 14 de janeiro, será aberto na Câmara Criminal do Tribunal de Primeira Instância de Túnis.

Ben Ali, que desde o exílio forçado vem mantendo extrema discrição, fez saber sábado, através de uma pessoa ligada a ele, que pretende impugnar as acusações. Segundo um membro de seu entorno, o ex-presidente vê neste julgamento "a ilustração de uma justiça de vencedores construída sobre falsas acusações".

Ben Ali e sua mulher Leila Trabelsi deverão responder por fabulosas somas de dinheiro e joias encontradas no palácio em Sidi Bu Said, subúrbio de Túnis, e de drogas e armas, no palácio presidencial de Cartago.

Nestes dois casos, Ben Ali poderá ser condenado, teoricamente, à pena de 5 a 20 anos de prisão. Posteriormente, serão examinadas, por uma jurisdição militar, as acusações de homicídios e torturas, lavagem de dinheiro e tráfico de peças arqueológicas, que podem representar uma condenação à pena capital.

Mas a Arábia Saudita não manifestou, até agora, qualquer intenção de entregá-lo às autoridades tunisianas. Cerca de 300 pessoas morreram e 700 ficaram feridas entre o dia 17 de dezembro, quando começou a revolta na Tunísia contra o regime de Zine El Abidine Ben Ali, e 14 de janeiro, quando o ditador caiu, denunciou o relator especial da ONU contra a tortura, o argentino Juan Méndez, citando dados do governo.

Já uma militante de direitos humanos tunisiana, Radhia Nasraui, denunciou a morte sob tortura de centenas de presos, durante o regime do presidente Ben Ali e afirmou que esta prática continua existindo no país, inclusive após a revolução.