Um ativista chinês cego que está sendo mantido sob prisão domiciliar desde que foi libertado da prisão foi espancado até ficar inconsciente e impedido de procurar um médico, disse sua mulher, segundo um grupo americano de defesa de direitos. O grupo ChinaAid divulgou nesta quinta-feira o que afirmou ser o relato, escrito à mão, por Yuan Weijing de como ela e seu marido, Chen Guangcheng, sofreram maus-tratos e foram esmurrados por dezenas de guardas à paisana.
Os guardas teriam invadido a casa do ativista, em um vilarejo, e espancado o chinês até desmaiar. Ele permaneceu inconsciente por duas horas.
A Reuters não pôde averiguar independentemente a carta, que foi enviada por e-mail e também postada no site da ChinaAid na Internet (www.chinaaid.net).
O fato pode reacender a indignação internacional pelo caso de Chen, nascido em um vilarejo na província de Shandong, no leste da China, onde superou o fato de ser cego desde a infância, estudando direito como autodidata e aconselhando moradores que se queixavam de grilagem de suas terras e outros abusos. Chen atraiu atenção em 2005, quando acusou autoridades da província de Shandong de forçar mulheres em final de gestação a abortar, numa campanha para implementar as regras que limitam a maioria dos casais a um filho apenas, para os que vivem nas cidades, e dois, para os moradores da zona rural.
Em fevereiro, o ChinaAid divulgou um vídeo de Chen, filmado em segredo, descrevendo como permanecia efetivamente preso em sua casa, sob vigilância constante, apesar de ter sido libertado da prisão no ano passado. Agora, o grupo, com sede no Texas e que faz campanha contra as restrições impostas pela China à religião, divulgou uma cópia do que afirmou ser a descrição feita por Yuan dos acontecimentos que se sucederam após o vídeo ser divulgado no exterior."Eu e meu marido, Chen Guangcheng, novamente sofremos um espancamento brutal e mais de duas horas de abusos e tortura", diz a carta, que incluía alguns erros de ortografia chinesa.
"Sem quaisquer procedimentos legais, nossa casa sofreu uma limpa às mãos de mais de uma dúzia de ladrões que não usavam uniforme. Eu e meu marido fomos gravemente espancados, e ainda não nos permitiram sair de casa para buscar tratamento médico", conta a esposa do ativista.
De acordo com a carta, em 18 de fevereiro, mais ou menos uma semana após a divulgação do vídeo de Chen, dezenas de homens invadiram a casa deles na zona rural de Shandong, no leste da China. Um dos homens teria dito: "recebemos ordens de nossos superiores para fazer isto. Você deveria entender sem que eu precise falar nada." Mais de uma dúzia de homens a seguraram sob um cobertor e a chutaram e, quando ela conseguiu olhar para fora do cobertor, viu dezenas de homens cercando Chen, puxando e esmurrando-o.
"Como Guangcheng está fraco, depois de sofrer de diarreia por muito tempo, ele não teve forças para resistir e, depois disso continuar por mais de duas horas, ele finalmente desmaiou", informa a carta.
Chen foi libertado em setembro, mais de quatro anos depois de ser condenado por danificar propriedade e atrapalhar o trânsito em um protesto e, desde então, é mantido sob virtual prisão domiciliar em seu vilarejo. Ele e sua família afirmam que as acusações não têm fundamento.