Os Estados Unidos reagiram com prudência e pragmatismo ante as revoltas do mundo árabe, tentando manter a estabilidade de uma região crucial para seus interesses e, ao mesmo tempo, apoiar as aspirações democráticas de suas populações.

Barack Obama recebeu com todas as honras, em setembro de 2010, seu homólogo egípcio, Hosni Mubarak, no âmbito da retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos. Mas, no dia 11 de fevereiro, pronunciou-se sobre sua renúncia após manifestações e protestos sem precedentes: "O povo egípcio falou".

Desde o início dos movimentos populares contra os regimes autoritários do Oriente Médio e do Norte da África, há seis meses, a administração Obama parece respoder caso por caso a acontecimentos sobre os quais tem pouca influência.

"Não foram os Estados Unidos que jogaram as pessoas nas ruas da Tunísia ou do Cairo. As próprias pessoas criaram estes movimentos", admitiu Obama no dia 19 de maio em um discurso dedicado às revoltas nesta parte do mundo, no qual apelou ao seu país para demostrar "humildade".

Exemplo desta diferença de trato: diante da repressão sangrenta, a Casa Branca exige que o coronel Muamar Kadhafi abandone o poder e se envolva em uma operação militar para apoiar os rebeldes líbios. Na Síria, intima o governante Bashar al-Assad a "dirigir a transição ou renunciar", enquanto pede à família que reina no Bahrein que "crie as condições de um diálogo frutífero" com a oposição.

"Cada país é diferente", repetem os porta-vozes da Casa Branca para explicar sua diferença de reação em relação a acontecimentos que estão modificando o mapa geopolítico da região.

Os observadores destacaram assim o silêncio de Obama sobre a Arábia Saudita e outras monarquias petroleiras autoritárias, como a do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos durante seu discurso. Os países do Golfo fornecem aos Estados Unidos um sétimo de suas importações petroleiras.

Entre outros interesses que os EUA pretendem "garantir" figura a segurança de seu aliado Israel: no mesmo dia da queda de Mubarak, a Casa Branca pedia ao Cairo que respeitasse o tratado de paz com o Estado hebraico.

Washington prossegue com suas operações contra a Al-Qaeda na Península Arábica, apesar da incerteza sobre o futuro do regime do iemenita Ali Abdullah Saleh, que também enfrenta uma violenta revolta e está sob cuidados médicos na Arábia Saudita, após ser atacado.

Em vez de se ocupar com as alianças dos Estados Unidos com regimes autoritários - realizadas em nome de sua segurança e algumas das quais continuam sendo importantes para contra-atacar a influência iraniana -, Obama preferiu fazer referência no dia 19 de maio "às oportunidades" trazidas pelos últimos acontecimentos, em particular as econômicas.

Também prometeu uma mudança de enfoque dos Estados Unidos sobre a região e uma ajuda econômica aos países que empreendem uma transição para a democracia no modelo da assistência à reconstrução da Europa Oriental após a queda do comunismo.

Durante seus giros pela América Latina em março e pela Europa em maio, Obama havia estabelecido paralelismos entre os acontecimentos em curso no mundo árabe e a recuperação da democracia em países como Chile, Brasil ou Polônia nos últimos 30 anos.

"Apesar de todas as dificuldades futuras, temos muitas razões para ter esperança", havia afirmado no dia 19 de maio.



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AFP