Uns o chamam de o ‘Prefeito do Povo’, outros de ‘Prefeito do Lixo’. A vida de Cícero Almeida (PP) vem sendo marcada por altos e baixos. O radialista que viu sua carreira política emergir de forma acelerada e caiu no gosto popular é hoje o chefe do executivo municipal que possui um dos governos com maior aceitação.
Almeida começou como repórter policial em diversas rádios e na TV Alagoas. Sua vida na política teve início em 2000, quando conseguiu ser eleito para vereador pelo extinto Partido Social Liberal (PSL). Sem completar o mandato, Almeida disputou em 2002 e saiu eleito como deputado estadual.
Ficou conhecido como o político que não concluía mandato, Almeida novamente deixou pela metade seu caminho no Legislativo e disputou a Prefeitura de Maceió, com o apoio de seu padrinho João Lyra (PTB), derrubando o candidato do PSB, Alberto Sextafeira (apoiado pelo então governador Ronaldo Lessa e pela então prefeita Kátia Born, da qual era vice-prefeito). Em sua reeleição, Almeida somou 81,5% dos votos válidos no primeiro turno, sendo o maior percentual entre os candidatos nas capitais do Brasil.
Recentemente, o prefeito de Maceió viu seu nome brotar em meio ao lixo da cidade, após investigações do Ministério Público Estadual (MPE) que descobriu um esquema fraudulento envolvendo empresas de coleta de lixo e que desviou dos cofres públicos R$ 200 milhões.
Sua carreira foi colocada em ‘xeque’ com a possibilidade da criação, pela Câmara de Maceió, da Comissão Especial de Inquérito, a famosa ‘CEI do Lixo’, que acabou sendo enterrada pela bancada Almeidista.
Apesar das especulações de que sua carreira política teria chegado ao fim, o cientista político Eduardo Magalhães acredita que Almeida ainda terá um caminho promissor a percorrer. Para ele, o prefeito é um dos maiores fenômenos políticos na história de Maceió.
“Ser um fenômeno não tem explicação lógica. Ele surgiu do nada, tem a capacidade de atrair eleitores, seguidores. Não depende de ninguém. Mas da mesma forma que esses fenômenos surgem, eles desaparecem, pois tem um prazo de validade. E é aí que precisa ter cuidado, pois aos poucos vai perdendo o brilho”.
Magalhães lembra ainda, que não dá para creditar a ascensão de Almeida a outros políticos. “Isso não é resultados de grupos, nem de aliança. Os fenômenos crescem, surgem sozinhos. Isso é uma característica marcante desses tipos de políticos”.
Questionado sobre uma comparação da atuação de Almeida nas duas gestões, o cientista político coloca que o prefeito aproveitou, no primeiro mandato vários projetos que já estavam encaminhados na gestão anterior. “Não dá para discordar que ele fez uma administração razoável, criou infraestrutura para a cidade, dando andamento a vários projetos que já estavam aprovados. Rendeu sim uma boa administração”.
Bombardeado diversas vezes, adversários políticos chegaram a colocar em jogo a administração de Almeida em seu segundo mandato, que teve início em 2009. Mas o cientista político afirma que o fato do prefeito estar mais ofuscado em sua nova gestão não está associado de que seu governo seja menos compromissado.
“O que acontece é que esses fenômenos são solitários e encontram dificuldades em criar grupos e de se manter no poder. Essas alianças interferem no caminho de qualquer político, mas Almeida sempre se mostrou independente nas suas escolhas, com uma carreira que não depende de ninguém, apenas a importância pessoal. Por isso a dificuldade de buscar trabalhos em conjunto”.
O prefeito de Maceió sempre demonstrou gratidão quando o assunto é seu padrinho político, o empresário e atual deputado federal, João Lyra. Sobre o assunto, Magalhães é contundente em afirmar que mesmo com todo o apoio depositado pelo usineiro, Almeida não precisaria de muito para chegar mais além.
“A aliança entre Almeida e Lyra não teve importância decisiva para as conquistas do prefeito. Ele não precisou da ajuda de ninguém para chegar onde está. Independente de ter João Lyra, a marca dele por trás, a campanha de Almeida não foi milionária. Ele era conhecido pelo trabalho que vinha desenvolvendo na periferia, um cidadão do povo. Ele não se elegeu por prestígio de ninguém”, colocou o cientista, acrescentando que foi Almeida quem transformou a filha de JL, Lourinha Lyra, em vice-prefeita.
Já sobre a possibilidade de Almeida ter a imagem ‘arranhada’ após a vinculação de seu nome no esquema do lixo, ele acredita que isso não vai interferir em sua caminhada política.
“Quando se tem um crescimento visível, a pessoa se transforma em alvo para inveja. Como disse, ele sempre foi uma pessoa de ideologia pessoal, não teve a necessidade de formar grupos. Cresceu isoladamente e os fenômenos não admitem concorrência, nem pessoas que ofusquem sua liderança. Grupos o atacaram com insinuações para minar a confiança do eleitor, credibilidade e capacidade de ganhar uma eleição. Ele recebeu várias críticas violentas, mas nenhuma sem comprovação”.
Indagado se Almeida conseguiria voltar a brilhar no cenário político do Estado, Magalhães afirma que a candidatura do prefeito para uma vaga na Câmara Municipal de Maceió é apenas uma questão de tempo.
“Ele será vereador, tem potencial para isso. Deverá também ainda disputar cargos majoritários, mas vale lembrar que para ser governador ou senador precisará trabalhar mais em grupos, já que esse é um requisito primordial para conseguir ir muito mais longe”, finalizou.