O saldo positivo entre trabalhadores contratados e dispensados no setor da construção civil tem sido sustentado por quem ganha menos, segundo pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) divulgada nesta quinta-feira.

A faixa que engloba quem recebe até dois salários mínimos teve 325.611 mais admissões do que desligamentos em 2010. Acima desse patamar, o movimento se inverte, com o fechamento de 70.375 postos, o que reduziu o total para um saldo positivo de 254.178 novas vagas, incluindo na conta os dados com renda ignorada.

O mesmo já havia acontecido em 2009, mostrando que, apesar da exigência de maior escolaridade, o rendimento no setor ainda continua baixo, mesmo com a grande demanda por mão de obra no país.

"Se olharmos uma série histórica mais longa, vamos ver que esse não é um fenômeno de 2009 e 2010 na construção civil. E isso acontece em outras atividades também, algumas com mais intensidade porque tem a ver com a estrutura salarial do setor", afirma José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.

A ocupação que apresentou o maior saldo no ano passado foi servente de obras, com 142.896 novos postos de trabalho formais, seguida de pedreiro (19.872), de acordo com o estudo do Dieese sobre os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

A rotatividade é outro problema apontado pelo levantamento, já que enquanto 2,464 milhões de trabalhadores foram contratados em 2010, outros 2,210 milhões perderam o emprego.

Um dos motivos é uma particularidade do processo produtivo: a duração do tempo de trabalho. O período se dá por contrato temporal ou empreitada, logo o contrato desses trabalhadores acaba assim que termina uma fase da obra ou eles são transferidos para outros canteiros.

A outra razão é a redução dos custos para a construtora, já que a rotatividade diminui o salário dos trabalhadores do setor.

Silvestre destaca ainda que a maioria (39,9%) dos ocupados na construção civil trabalha por conta própria, segundo os dados da PNAD referentes a 2009. Apenas 28,7% têm emprego com carteira assinada e outros 23,1% são informais. "Eles não têm nenhuma proteção social, nenhum vínculo", reforça. O coordenador de relações sindicais do Dieese lembra ainda que os 254.178 novos empregos criados em 2010 é o melhor saldo da série, criada em 1996.

Na análise por faixa etária, a principal geração de vagas foi contabilizada entre jovens de até 24 anos --84.926 em 2009 e 118.675 em 2010, 47% do total em ambos os anos.

Por grau de instrução, cerca de 40% das vagas foram ocupadas por trabalhadores com ensino médio completo, o que reforça a busca das empresas por trabalhadores mais qualificados.

Em 2010, todas as categorias na construção civil tiveram reajuste salarial igual à inflação, considerando como índice o INPC, ou ganho real, resultado melhor do que em 2009 (96,5%) e semelhante ao de 2008.

No ano passado, cerca de um quarto das negociações analisadas conquistaram reajustes com aumento real acima de 4%. Em 2008, foram apenas 4%.