Mães de Maio reclamam de impunidade cinco anos após crimes em São Paulo

08/05/2011 19:20 - Brasil/Mundo
Por Redação

Quase cinco anos após os crimes de maio, as mães que tiveram seus filhos assassinados em uma retaliação aos ataques de uma facção criminosa que age a partir dos presídios paulistas ainda não viram a Justiça ser feita para os seus filhos. Os crimes foram cometidos em um período de 20 dias, contados a partir de 12 de maio de 2006. No total, 493 pessoas foram mortas em todo o Estado, sendo 446 civis. De acordo com o movimento Mães de Maio, a maioria desses casos foi arquivado pela Justiça.

Entre as vítimas dos ataques daquele ano, estava o filho de Débora Maria da Silva, líder do movimento Mães de Maio. Na época, ele tinha 29 anos e era pai de um garoto de três. Edson Rogério dos Santos foi encontrado morto com cinco tiros na periferia de Santos, litoral paulista, depois de sair da casa da mãe no dia 15 de maio de 2006.

Débora conta que, pouco antes de ser assassinado, ele foi abordado por dois policiais militares em um posto de gasolina e agredido pelos oficiais na presença de um amigo. Santos teria afirmado que era trabalhador, mas não teria chegado sua carteira de identidade verificada. Depois da agressão, o jovem chegou a sair de moto. Débora conta que ninguém viu o momento em que seu filho foi morto. Para ela, há indícios da participação dos policiais que abordaram o seu filho.

- Meu menino foi assassinado em um crime bárbaro. Ele era gari há sete anos, e não tinha passagem pela polícia.

O caso do filho de Débora foi arquivado no final de 2007. Ela e outras mães lutam agora para que os crimes cometidos nessa época sejam reabertos, mas agora, em esfera Federal.

- A morte dói muito, mas o que mais dói e a impunidade. Essa matança toda e todos os crimes arquivados. As famílias estão dilaceradas, cinco anos se passaram e até agora ninguém sabe de nada.

Sem resposta
O Dia das Mães passou a ser uma data dolorosa também para a aposentada Vera Lucia Andrade de Freitas. Seu filho tinha 21 anos voltava do colégio quando foi assassinado com três tiros por dois homens que passaram encapuzados em motos. O crime ocorreu no dia 17 de maio, em Santos.

- Todo mundo falou na televisão, inclusive o secretário [de Segurança Pública de São Paulo na época, Saulo de Castro] para dizer “está tudo bem, pode voltar a vida normal”[sic]. Aí, quando ele chegou no colégio, a diretora falou que não ia ter aula.

Mateus Andrade de Freitas, então, voltou e foi morto a menos de 100 m de distância da casa da mãe. Vera Lúcia fala que chegou a ouvir os tiros, e que o marido correu para ver o que tinha acontecido, quando encontrou o filho já morto na rua.

- O caso do meu filho não tem investigação nenhuma. Por que os policiais que chegaram na hora não foram atrás dessas motos? São muitas perguntas sem respostas [...] A cada pessoa que morre, cada menino desses, que passaram e mataram, para nós é um sofrimento. Volta tudo aquilo que a gente passou. É um grupo de extermínio, e nada está sendo feito. Isso é o que deixa a gente chocado.

Segundo Vera Lúcia, Mateus era um “menino sossegado, tranquilo” que queria fazer faculdade de ciências da computação.

Crimes de 2010
Em abril de 2010, várias pessoas foram mortas na Baixada Santista em ataques que tinham o mesmo perfil: homens encapuzados, usando motos e carros pretos passavam atirando em civis. Os crimes aconteceram após a morte do irmão de um policial militar no Guarujá. Em quatro dias, 26 pessoas foram assassinadas na região.

Foi assim que a enfermeira Flávia Gonzaga perdeu seu único filho, Marcos Paulo Canuto, na época com 18 anos. Ele acabava de sair de uma festa em São Vicente, com amigos, quando foi abordado por dois homens. O rapaz foi baleado com dez tiros e morreu na hora.

- Na época, me disseram que era briga de tráfico. Só que o meu filho não era bandido, não era traficante, não era viciado, não fumava, não cheirava. Meu filho não estava envolvido com marginalidade nenhuma.

As investigações da morte do filho de Flávia ainda estão em andamento. Mesmo assim, ela luta ao lado das mães que perderam seus filhos em maio de 2006 pela federalização dos crimes.

- Eu ainda consigo dar risada com algumas coisas, mas em cinco minutos começo a chorar. Não chorei no velório do meu filho, parecia mentira. A ficha está caindo hoje. Eu chego em casa, não tem ninguém, não tem bagunça, não faço mais comida. Estou sem rumo.

Procurada pelo R7, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que não poderá responder aos questionamentos nesse fim de semana. No último ano, quando questionada sobre o mesmo assunto, a assessoria de imprensa da pasta disse somente que “os inquéritos já foram relatados na Justiça e não que fazem mais parte da esfera policial”.

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