Após um mês do massacre, dor e alegria marcam Dia das Mães em Realengo

08/05/2011 19:00 - Brasil/Mundo
Por Redação

A dor e a alegria dividem o bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, neste domingo (8), Dia das Mães. Para as famílias que perderam os filhos no massacre do dia 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, será uma data difícil. Já para aqueles que sobreviveram, o dia será comemorada com alívio.

Adriana Maria da Silveira Machado, mãe da menina de 14 anos, Luiza Paula da Silveira Machado, que morreu na tragédia, não consegue pensar em nada. Ela disse que ainda não teve coragem de voltar para casa.

- O mundo perdeu a cor para mim. Não sei o que fazer da minha vida. Não tive coragem de voltar para minha casa. Meu bem mais precioso não está ao meu lado.

Sônia Moreira Torres, avó de Larissa dos Santos Atanázio, 13 anos, que criou a menina, uma das 12 vítimas mortas por Wellington Menezes, disse que não existe mais Dia das Mães para ela. A adolescente comemorava a data todos os anos ao lado da avó.

- Para mim acabou, não vai ter Dia das Mães. Eu não quero mais Natal, não quero mais nada na minha casa. A Larissa ficava aqui comigo no Dia das Mães. À tarde, ela encontrava com a mãe e com a avó materna.

Sônia lembra com tristeza do dia da tragédia. Segundo ela, Larissa, que não costumava se atrasar para chegar à escola, saiu de casa mais tarde naquele dia e esqueceu a mochila. A avó alertou a menina e ela voltou para buscá-la.

- Eu não costumo acordar cedo, mas naquele dia eu acordei. Larissa levantou antes de mim para lavar os cabelos, mas acabou se atrasando. Quando saía de casa, vi a mochila em cima do sofá. Gritei e falei para ela voltar. Se ela não tivesse voltado, talvez não tivesse conseguido entrar na escola e estaria aqui com a gente.

Um Dia das Mães diferente

Andréia Tavares, mãe de Tayane Tavares Monteiro, menina de 13 anos que foi baleada na barriga, na cintura e no braço, está feliz, apesar de passar o Dia das Mães em um hospital. Ela diz que o mais importante é ver a filha com vida. 

- Eu estou feliz. Seria muito doloroso se ela não estivesse comigo.

A mãe do menino Carlos Matheus Vilhena de Souza, 13 anos, está animada. Carla Daniele Vilhena de Souza vai fazer um almoço especial neste domingo para os dois filhos e para o marido.

- Nós passamos o Dia das Mães em casa há seis anos e este não será diferente. Estamos animados.

Na residência de Maria José dos Reis Rocha, avó de Bianca Rocha Tavares, que morreu no massacre, e da irmã gêmea Brenda Rocha Tavares, que foi baleada, o dia será de dor e alívio ao mesmo tempo. Apesar de uma das netas ter sobrevivido ao ataque, a família preferiu não preparar nada especial.

- Todo ano eu me reúno com as filhas na minha casa. Acho que mãe nenhuma estava preparada para o que aconteceu. Não vamos fazer nada este ano.

Entenda o caso

Por volta das 8h do dia 7 de abril, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, entrou no colégio após ser reconhecido por uma professora e dizer que faria uma palestra (a escola completava 40 anos e realizava uma série de eventos comemorativos).

Conheça as vítimas do ataque à escola Tasso da Silveira

Acompanhe a cobertura completa do caso

Armado com dois revólveres de calibres 32 e 38, ele invadiu duas salas e fez dezenas de disparos contra estudantes que assistiam às aulas. Ao menos 12 morreram e outros 12 ficaram feridos.

Duas adolescentes, uma delas ferida, conseguiram fugir e correram em busca de socorro. Na rua Piraquara, a 160 m da escola, elas foram amparadas por um bombeiro. O sargento Márcio Alexandre Alves, de 38 anos, lotado no BPRv (Batalhão de Polícia de Trânsito Rodoviário), seguiu rapidamente para a escola e atirou contra a barriga do criminoso, após ter a arma apontada para si. Ao cair na escada, o jovem se matou atirando contra a própria cabeça.

Com ele, havia uma carta em que anunciava que cometeria o suicídio. O ex-aluno fazia referência a questões de natureza religiosa, pedia para ser colocado em um lençol branco na hora do sepultamento, queria ser enterrado ao lado da sepultura da mãe e ainda pedia perdão a Deus.

Os corpos dos estudantes e do atirador foram levados para o IML (Instituto Médico Legal), no centro do Rio de Janeiro, para serem reconhecidos pelas famílias. Onze estudantes foram enterrados no dia 8 e uma foi cremada na manhã do dia 9.

Oliveira só foi enterrado na manhã do dia 22 porque nenhum parente compareceu ao IML para liberar o corpo no prazo de 15 dias. O cadáver foi catalogado como "não reclamado" e sepultado em uma cova rasa no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, zona norte, após autorização da Justiça.

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