A principal característica dos 27 anos do Pontificado de João Paulo II foi o carisma do Papa, que fez com que vários tipos de fiéis se aproximassem da Igreja Católica. Para o padre José Roberto Abreu de Matos, que leciona Filosofia e Teologia na PUC-SP, "não só os fiéis, mas o mundo olhou para a Igreja de uma forma diferente" e, apesar de algumas vezes as pessoas não confessarem da mesma fé, aonde o Papa ia, "prestavam atenção nele". As informações são da Ansa.
"As pessoas, católicos, judeus, mulçumanos, quando se deparavam com ele, se identificavam com algo que vai além do nosso entendimento", disse o religioso.
O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, declarou recentemente que o reconhecimento do público ficou muito claro no funeral de João Paulo II, ocasião que contou com a presença de chefes de Estado "como nunca antes houve na história, em número e em diversidade".
"Eles eram provenientes de Estados e países que não têm cultura cristã, mas estavam lá para homenagear o Papa falecido. Chefes de Estado que estavam em guerra contra outros chefes de Estado ficaram lado a lado na Praça São Pedro, dando um sinal de que aquilo era verdadeiro", relembrou.
Para Scherer, que representará a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na cerimônia de beatificação que acontecerá no dia 1° de maio, João Paulo II não foi só importante para a Igreja, "mas também para a Humanidade".
O padre José Roberto Abreu de Matos, que já se reuniu com João Paulo II, lembra que o olhar do Papa era algo que ia além de "nossas capacidades inteligíveis". "Estar com João Paulo II foi sentir algo que é inexplicável, é algo humano, mas também divino, porque ele transmitia no olhar e corporalmente uma força que só poderia vir de Deus", relembra Matos, acrescentando que, quando ele chegava, "as pessoas se derretiam".
Para o religioso, isso talvez ocorresse graças ao contato que Karol Wojtyla teve com o teatro em sua juventude, que deu a ele uma linguagem corporal que permitia que "falasse com os olhos, não somente com a boca".
João Paulo II também ficou conhecido por se envolver e dar atenção especial aos jovens e trabalhadores. Segundo o assessor nacional do Setor Juventude da CNBB, padre Carlos Sávio, o Papa "tinha um amor todo especial por eles. Algo que vem do seu carisma, já que essa idade é complicada para tanta gente".
O frei italiano Mariano Sérgio Foralosso, professor da Escola Dominicana de Teologia, destacou, por sua vez, que a missão do papa Bento XVI de substituir João Paulo II "não é uma tarefa fácil", exatamente por conta de seu "carisma muito grande".
"Bento XVI não tem a projeção na mídia que João Paulo II tinha", afirma Foralosso, explicando que isso se dá por causa do "jeito alemão dele, mas também porque ele assumiu o Papado sendo não-amado". Isso porque, segundo o frei, ele tinha uma tarefa complicada na Congregação para a Doutrina da Fé, que pode ser comparada ao trabalho feito antigamente pela Inquisição.
No domingo, ocorrerá a cerimônia de beatificação de João Paulo II. A distinção ocorre depois da cura inexplicável de uma religiosa francesa que sofria de mal de Parkinson. Marie Simon-Pierre, enfermeira de profissão, segundo a Congregação para a Causa dos Santos, curou-se após fazer e pedidos dirigidos ao Papa, poucos meses após a morte do pontífice.
Centenas de milhares de pessoas são esperadas para a missa, quando o sucessor de João Paulo II, Bento XVI, vai pronunciar em latim a declaração de que um dos mais populares papas da história como um "abençoado" da Igreja