O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, solicitou nesta quinta-feira aos "parceiros internacionais" que contribuam economicamente para ajudar a Costa do Marfim, enquanto várias ONGs pediram auxílio para remediar o "enorme desastre humanitário" na região. "A França defenderá ativamente, perante as instituições financeiras internacionais (...), uma determinada mobilização para fornecer à Costa do Marfim a liquidez que necessita", declarou em comunicado o chefe da diplomacia francesa.

O pedido da França - que concederá 400 milhões de euros (R$ 918 milhões) ao país, 350 milhões (R$ 803 milhões) dos quais em forma de empréstimo - tem como objetivo "remediar a urgência humanitária e apoiar financeiramente a reconstrução do país, após o pedido do presidente marfinense, Alassane Ouattara". Além disso, 13 ONGs alertaram que a situação na região desencadeou um "enorme desastre humanitário" e pediram a arrecadação de fundos para o envio imediato de ajuda à Costa do Marfim e à Libéria, onde há dezenas de milhares de refugiados, vítimas do conflito eclodido após as eleições presidenciais de novembro.

"Apesar das recentes gestões políticas, a emergência humanitária persiste no país e as necessidades das pessoas afetadas por violentos confrontos continuam aumentando", indicaram as ONGs em comunicado conjunto. Enquanto isso, os advogados franceses do ex-presidente Laurent Gbagbo anunciaram o envio de uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para questionar a legalidade da prisão de seu cliente e denunciar supostos casos de tortura contra ele.

"Baseando-se em que fundamento jurídico o presidente Laurent Gbagbo, sua esposa, familiares e colaboradores estão detidos?", questionam os advogados em mensagem datada desta quarta-feira. Eles contestam também a autoridade sobre as prisões e a condição em que estão detidos. Os advogados consideram que a resolução 1.975 do Conselho de Segurança da ONU "não dá autoridade" à Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (Onuci) a "tomar medidas que privem a liberdade" do ex-presidente, que, após perder as eleições de novembro passado, se recusou a deixar o poder.

Os defensores jurídicos de Gbagbo pedem esclarecimentos sobre o local onde está seu cliente, diante do que chamam de "informações contraditórias" sobre o paradeiro do ex-líder. Segundo eles, Gbagbo "está sofrendo torturas dos carcereiros". Com o objetivo de avaliar o tratamento que o ex-presidente e seus parentes e colaboradores estão recebendo na prisão, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou nesta quinta-feira sobre o pedido às autoridades marfinenses de poder visitar Gbagbo e seus parentes, detidos na segunda-feira passada.

O CICV, que ainda espera uma resposta, solicitou acesso em Abidjan - principal cidade do país - às pessoas detidas durante o conflito político causado pela recusa de Gbagbo de entregar o poder a Ouattara, o que provocou o conflito entre simpatizantes de ambos. Enquanto isso, a rotina em Abidjan pouco a pouco volta à normalidade, como era possível constatar pela presença crescente de pessoas, carros e ônibus nas ruas.

A cada dia, mais lojas reabrem as portas e os preços dos bens de consumo começaram a diminuir, embora mantimentos básicos como pão tenham dobrado de preço. As autoridades buscam garantir esse retorno à normalidade e a proteção da população e esperam que, em breve, todos os guardas e policiais estejam mobilizados em seus postos e nas ruas.

O ministro do Interior marfinense, Hamed Bakayoko, indicou nesta quarta-feira que os agentes que apoiaram Gbagbo estavam demorando mais que o previsto para retornar a suas posições de trabalho por temores a represálias das Forças Republicanas da Costa do Marfim (FRCI), leais a Ouattara. "Sensibilizamos a todos para que entendam que agora somos irmãos com um objetivo comum: garantir a segurança da população e suas propriedades", disse Bakayoko, que considerou um bom sinal a submissão dos altos comandantes antes leais a Gbagbo à autoridade de Ouattara.