Os governos da França e do Reino Unido se mostraram nesta terça-feira inconformados com o curso da operação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Líbia e pressionaram a entidade a intensificar seus ataques contra as forças leais ao líder Muammar Kadafi e garantir a proteção da população civil.
Paris e Londres, que junto a Washington iniciaram a intervenção internacional na Líbia, consideram que a Aliança não está cumprindo suficientemente seu papel de líder da operação. Para o Governo francês, a Otan deve destruir "as armas pesadas" que há semanas atingem a localidade.
O ministro de Exteriores francês, Alain Juppé, insistiu ao longo do dia que "não é aceitável" permitir a Kadafi continuar bombardeando a cidade rebelde de Misrata, principal ponto de preocupação dos aliados por causa da dramática situação de conflito no local. "A Otan quis comandar a operação, agora deve cumprir (com seu papel)", assinalou Juppé, depois de se reunir com os demais chanceleres da União Europeia (UE) em Luxemburgo.
Já o responsável de Exteriores britânico, William Hague, pediu à Aliança "intensificar os esforços militares". De Bruxelas, a Otan respondeu às críticas da UE e garantiu que poderia obter melhores resultados se tivesse mais meios militares à disposição, mas indicou que não reduziu o ritmo de seus ataques aéreos na Líbia.
Desde que os Estados Unidos decidiram que os aviões americanos deixariam de participar dos bombardeios contra alvos terrestres na Líbia, França e Reino Unido têm de assumir a responsabilidade pela maior parte das ações ofensivas - motivo pelo qual ambos reivindicaram nesta terça-feira mais contribuições de seus parceiros na Aliança.
Forças de quase todos os países da Otan, e também de alguns países não-membros do organismo, participam da operação aérea na Líbia, mas não têm autorização de seus governos para disparar contra as forças de Kadafi em terra. Um deles é a Espanha, que nesta terça-feira sustentou que "cada país contribui conforme suas capacidades e prévio mandato interno". O secretário de Estado espanhol para a União Europeia, Diego López Garrido, afirmou também que a Otan está fazendo "um ótimo trabalho" na Líbia.
Apesar disso, a oposição a Kadafi também reivindicou nesta terça "mais esforços" na proteção de civis e denunciou que as forças leais ao regime de Trípoli mataram mais de 10 mil pessoas e feriram cerca de 30 mil - 7 mil delas correm risco de morte - desde o início do conflito.
Os responsáveis de Exteriores do Conselho Nacional de Transição (CNT) - órgão governamental dos rebeldes líbios -, Ali Esaui e Mahmoud Jibril, se reuniram nesta terça-feira em Luxemburgo com os ministros europeus para discutir o futuro do país. Segundo revelou o chanceler italiano, Franco Frattini, os rebeldes apresentaram um "plano muito ambicioso de transição", com "períodos muito claros", entre os quais se inclui a criação de um comitê nacional constituinte (para assim que Kadafi deixar o poder), a aprovação de uma constituição e a preparação de eleições com a participação de "todos os grupos".
A UE voltou nesta terça-feira a enfatizar a necessidade de que qualquer solução política para a Líbia deve incluir a saída de Kadafi do poder, tal como reivindicam os opositores. No plano humanitário, os membros da UE discutiram os preparativos da missão que elaboraram para auxiliar a população civil, conforme expectativas Nações Unidas.
Segundo a alta representante de Política Externa e Segurança Comum da UE, Catherine Ashton, esse planejamento será completado nos "próximos dias". Os ministros tinham previsto aprovar nesta terça-feira o "conceito operacional" da missão, um novo passo técnico após o sinal verde que os países já deram à operação, mas decidiram adiá-lo por questões internas de alguns países.
Enquanto isso, fontes diplomáticas começaram a admitir nesta terça-feira que a ONU vê com reticências o uso de meios militares - como prevê a UE - na operação humanitária. Por isso, parece cada vez menos provável que finalmente se solicite a intervenção europeia.