Manifestações de apoio ao presidente sírio Bashar-al-Assad, confrontado a protestos sem precedentes, serão organizadas nesta terça-feira em todo o país. Ao mesmo tempo, Latakia, principal porto da Síria, parecia nesta segunda-feira uma cidade fantasma depois de confrontos violentos do final de semana. A Síria vive um movimento de protesto sem precedentes desde a chegada de Assad ao poder, em 2000.
As manifestações de apoio acontecem quando o presidente Assad se prepara para pôr um ponto final no estado de emergência em vigor há cerca de cinco décadas na Síria. As lojas e escolas de Latakia, de 450 mil habitantes, amanheceram fechadas nesta segunda-feira e os funcionários não foram trabalhar.
Issam Jury, jornalista e diretor do Centro de Desenvolvimento Ecológico e Social, ouvido por telefone, afirmou que "as forças de segurança foram surpreendidas pela intensidade da violência". Reforços do exército chegaram na madrugada de domingo ao porto para tentar restabelecer a ordem.
À noite, nos bairros desta cidade onde convivem sunitas, alawis e cristãos, foram constituídos comitês de bairro. Nos três últimos dias, 13 militares e civis morreram, assim como dois insurgentes, e mais de 185 pessoas ficaram feridas, segundo balanço oficial.
Durante o final de semana, jovens armados de bastões e navalhas atacaram lojas e pessoas, ao mesmo tempo em que franco-atiradores instalados nos telhados de prédios disparavam contra os que passavam. Jury disse que era muito cedo para determinar quem eram esses homens, mas uma investigação está em curso. Segundo as autoridades, são "fundamentalistas" que tentam provocar a divisão religiosa na cidade.
Abdel Karim Rihaui, presidente da Liga síria de defesa dos Direitos Humanos, disse que "a maioria dos homens armados foram detidos pela população que os entregou às forças de segurança. São árabes de diferentes nacionalidades; possuíam armas e importantes somas em dinheiro". Pela primeira vez desde a chegada ao poder do partido Baath, o Parlamento sírio observou domingo um minuto de silêncio "pelos mártires ".
Segundo as organizações de direitos humanos, 130 pessoas morreram, principalmente em Deraa, sul do país, epicentro da revolta contra o regime. O Parlamento sírio também pediu ao presidente Bashar-al-Assad que explique as medidas de democratização prometidas, informou o deputado Mohammed Habashe.
Protestos irradiam por norte africano e península arábica
No dia 16 de dezembro de 2010, em ato de protesto contra o governo, um jovem desempregado morreu após imolar-se em público na capital da Tunísia. Poucas semanas depois, uma onda de protestos por melhores condições varreu o país, culminando na deposição do presidente Ben Ali. Em fevereiro, o mesmo sentimento popular tomou corpo no Egito, onde a população manteve protestos massivos até a renúncia de Hosni Mubarak.
Estes feitos irradiaram pelo norte africano e pela península arábica. Na Líbia, protestos desembocaram em uma violenta guerra civil entre rebeldes e forças de Muammar Kadafi, situação que levou a comunidade internacional a intervir no país. Mais recentemente, Iêmen e Síria vêm vivendo protestos de maior vulto. Argélia, Bahrein, Jordânia, Marrocos e Omã também vêm sendo palco de contestação política.









