O município de Quebrangulo, atingido duramente pela enchente do rio Paraíba, em junho do ano passado, será o primeiro a entregar as primeiras unidades habitacionais às famílias desabrigadas. O conjunto habitacional Frederico Maia Filho começou a ser erguido em agosto do ano passado e a previsão de conclusão da obra é junho deste ano. Inicialmente, serão contempladas 201 famílias.
Mas para que a obra avance sem interrupção e cumpra o prazo estabelecido pelo governo de Alagoas e pela Caixa Econômica Federal, a empresa responsável pela construção tem enfrentado o grande desafio: contratar mão de obra qualificada da própria comunidade e da região.
Um dos pontos exigidos pelo governo de Alagoas é que a mão de obra empregada durante a construção das casas seja prioritariamente constituída por famílias atingidas pela enchente ou que residam na própria cidade. No entanto, a contratação de mão de obra continua sendo a principal dificuldade das empresas, como constata o engenheiro responsável pela obra em Quebrangulo, Iremar Segundo: “Nossa maior dificuldade atualmente é com a escassez de trabalhadores na região”, diz.
Iremar Segundo explica ainda que a solução que vem sendo adotada pela construtora para suprir essa carência é capacitar o trabalhador com pouca experiência através de operários experientes na própria obra. “Com essa metodologia, diminuímos, sem dúvida, o índice de produtividade da construção”, constata o engenheiro.
De acordo com informação do técnico em edificações Durval Vieira, que também é responsável pelas obras do conjunto habitacional, a empresa contratou 170 trabalhadores, dos quais 90% são moradores da cidade de Quebrangulo e da região próxima. “No ato da contratação, foi constatado que desse grupo de trabalhadores, 30% já apresentavam experiência no mercado, enquanto o restante tinha concluído o curso de formação pelo Senai”.
Na construção do segundo conjunto habitacional em Quebrangulo, que receberá o nome de Geraldo Passos Lima, serão erguidas mais 559 casas. A empresa responsável já iniciou a limpeza do terreno e a montagem do canteiro de obra. Entre carpinteiros, pedreiros, serventes, encanadores e eletricistas, serão contratados mais 130 profissionais.
Recomeço - Alonso Severino dos Santos, casado, 49 anos, é uma das vítimas que perdeu tudo na enxurrada de junho do ano passado. Natural de Quebrangulo, teve a residência e sua casa de negócios destruídas pela força das águas.
Dos móveis e pertences da residência, pouca coisa restou. O que conseguiu salvar foram poucas peças de roupas e documentos dele e de sua esposa. Já na casa de negócios, localizada no centro comercial da cidade, onde vendia ração para animais, nada conseguiu recuperar, nem mesmo o prédio, que foi arrastado pela enchente.
“Ao ver a destruição fiquei sem acreditar no que tinha acontecido. Mas não desanimei e muito menos pensei em qualquer desgraça”, relata Alonso, com capacete na cabeça e uniforme da construtora, onde atualmente trabalha como pedreiro.
Apesar da tragédia, Alonso explica que não ficou desamparado, muito menos revoltado com a vida. Com o que sobrou da tragédia, foi morar na casa de uma irmã, que a enchente não conseguiu destruir. “Até pensei em tentar a sorte fora de Alagoas, mas desisti”, confessa o ex-comerciante e hoje trabalhador da construção civil.
Ao ouvir o anúncio pela Rádio Comunitária Vitória FM, sobre o curso de pedreiro, não pensou duas vezes. Dirigiu-se à prefeitura e fez sua inscrição no curso promovido pelo Serviço Nacional da Indústria (Senai) em parceira com a prefeitura de Quebrangulo.
Nos 45 dias em que esteve no curso de formação de pedreiro, Alonso Severino dos Santos aprendeu técnicas sobre alvenaria, cálculos, terreno, rebouco, contrapiso, entre outros, e conseguiu concluir a capacitação para a construção civil. “Nunca imaginei trabalhar na construção de casas, mas as circunstâncias me levaram a isso”.
Além de comerciante, Alonso também já tinha trabalhado como eletricista na antiga Salgema – hoje Braskem –, em Maceió, e ainda nas cidades de São Bernardo do Campo e Taubaté, no estado de São Paulo.
Atualmente, com uma carga horária de 8 horas por dia em seis dias da semana, Alonso faz parte de um grupo de trabalhadores que estão – literalmente – com as mãos na massa. Mas o diferencial, no caso do pedreiro Alonso, é que uma das casas do residencial será ocupada por ele e sua esposa. “Não vejo a hora de estar morando nela”, comemora.
Emprego e renda - A construção dos conjuntos residenciais em Quebrangulo e na cidade de Cajueiro, onde as obras de construção estão bastante avançadas, vem movimentando a economia desses municípios, gerando renda e empregos.
Rosival da Silva Oliveira, de 31 anos, residente no povoado de Rua Nova, em Quebrangulo, é um dos pedreiros contratados pela construtora e já está há 20 dias com carteira assinada e com sua equipe trabalhando no novo conjunto habitacional. “Sempre trabalhei como pedreiro na região, fazendo 'bico' em várias construções. Mas agora estou mais satisfeito porque tenho minha carteira assinada", disse. Rosival informou que não foi vítima da enchente do rio Paraíba, mas seu trabalho está contribuindo para ajudar as famílias que perderam tudo com a tragédia.
Além do aproveitamento da mão de obra, com experiência ou não no mercado de trabalho, as construções das casas em Quebrangulo e Cajueiro estão possibilitando o incremento financeiro na região. Na cidade de Quebrangulo, por exemplo, a folha de pagamento dos trabalhadores chega a 100 mil reais por mês, sem levar em consideração que a cada quinzena a construtora libera 40% dos salários de seus funcionários.
“De fato, isso significa que todo investimento feito pela empresa no município reflete diretamente no comércio local. Sem dúvida, é um ganho para todos”, explica Iremar Segundo, engenheiro responsável pelos conjuntos habitacionais que estão sendo construídos em Quebrangulo.
Ele informa ainda que além da folha salarial, outros gastos no próprio canteiro de obras refletem também diretamente no comércio local, como a compra de areia, pedra-rachão e o combustível para máquinas e para a frota da empresa.
Dois residenciais são construídos em Cajueiro
O município de Cajueiro, distante 70 quilometros da capital, será contemplado com a construção de 365 novas moradias. As equipes do Programa da Reconstrução e da prefeitura de Cajueiro definiram e os conjuntos habitacionais estão sendo construídos em duas áreas: Poço Grande e Cohab.
A construção das primeiras 177 unidades habitacionais está em ritmo acelerado e o conjunto residencial leva o nome de Palmery Soriano Melo. A empresa responsável pela obra contratou 82 trabalhadores, 60 residentes em Cajueiro. São pedreiros, serventes, carpinteiros, armadores, eletricistas, encanadores e vigilantes.
O engenheiro responsável pela construção, Marcos de Almeida, informa que a definição do projeto de terraplenagem foi um item que fez com que a obra iniciasse com um breve atraso. O outro foi a escassez de mão de obra qualificada na construção civil. Ele explica: “Além da carência de trabalhadores na região, o terreno definido para a construção é um pouco acidentado”.
Marcos afirma que tão logo foi solucionado o problema da contratação de pessoal e do serviço de terraplenagem, a obra vem seguindo seu calendário estabelecido pela empresa com a Caixa Econômica e com o governo do Estado. “Nossa previsão é entregar as primeiras casas às famílias no final do mês de agosto”.
O engenheiro responsável pela obras informou também que dos 30 pedreiros contratados pela construtora, dez foram classificados no próprio canteiro de obras e dez estão em fase de estágio com os trabalhadores mais experientes. “Foi uma alternativa que encontramos para suprir a carência de trabalhadores na região”, afirmou Marcos Almeida.
Além da circulação de dinheiro no comércio local, com a liberação de salários dos trabalhadores da construtora a cada 15 dias, areia e aterro para rebouco, alvenaria e concretagem também são adquiridos nas lojas comerciais do município. A alimentação de grande parte dos trabalhadores também é fornecida no local de trabalho, onde foi montado um refeitório e uma área para uso comum.
Classificação - Dorgival da Silva, 38 anos, casado e pai de três filhos, com larga experiência na construção civil, conta que já trabalhou também em São Paulo e no Rio de Janeiro como servente. Hoje é um dos pedreiros classificado na própria obra. “A primeira chance que apareceu eu agarrei e aprendi com meus colegas no canteiro da obra”, comemora.
O pedreiro Dorgival não teve sua casa destruída pela enchente do rio Paraíba, que corta a cidade de Cajueiro. Já suas duas irmãs não tiveram a mesma sorte. Perderam suas casas e móveis e agora aguardam as casas novas que estão sendo construídas pelo Governo, por meio da Caixa Econômica. Cadastradas, as irmãs de Dorgival vão ser contempladas e vão morar no novo conjunto residencial, onde ele é um dos protagonistas da obra.
“Pra mim é uma grande felicidade. Além de estar empregado, sei que duas casas dessas já estão reservadas para minha irmãs, que perderam tudo”, comemora Dorgival, que foi classificado no trabalho, passando de ajudante para pedreiro.
Início - No segundo conjunto residencial de Cajueiro, o Palmery II, já teve início o trabalho de infraestrutura, com limpeza do terreno, terraplenagem e instalação do canteiro de obras. Para erguê-lo, a construtora responsável vai precisar contratar ainda mais trabalhadores.
Como informa o engenheiro responsável, Marcos Almeida, serão construídas mais 187 unidades habitacionais. “Vamos usar o mesmo sistema de construção que já está sendo empregado no residencial Palmery I, ou seja, por produção”.
Marcos explica que nessa metodologia, quanto maior a produção, mais o trabalhador melhora o seu rendimento salarial e, consequentemente, diminui o tempo da conclusão da obra. “A nossa estimativa é que até o mês de janeiro próximo, estaremos concluindo o segundo conjunto residencial para as famílias beneficiadas pelo governo”.
O engenheiro responsável pelas obras explica a estratégia que vai trabalhar: “Enquanto um grupo de operários se encarrega no trabalho de escavação, outro faz a marcação, outra equipe se encarrega do embasamento e outra cuida da parte de alvenaria”. Segundo ele, essa técnica fará com que o ritmo de trabalho tenha mais velocidade, já que a construtora tem um prazo determinado para a entrega das casas.