Neste ano, várias empresas lançaram smartphones e tablets “prontos para a tecnologia 4G”, a sucessora da tecnologia 3G, usada para acessar a internet móvel. No entanto, os diversos sistemas de banda larga desse tipo ainda precisam se desenvolver para oferecer, de fato, internet móvel com velocidade de conexão ultrarrápida.
No Brasil, a chegada de uma nova geração ainda não tem data definida, pois depende de um leilão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) previsto para acontecer até o final de 2012. O cronograma é baseado no objetivo da agência de ter 4G em funcionamento no país até a Copa do Mundo de 2014, quando a busca por internet rápida deve ser muito maior que a atual.
As operadoras devem brigar pelas licenças para explorar a faixa de frequência de 2,5 GHz (gigahertz), necessária para que as tecnologias que disputam o título de “4G pleno” possam operar no país.
Essa nova geração não será apenas um passo a mais para se ter uma banda larga de verdade. Ela representa a convergência, já que usa a mesma rede de dados da telefonia fixa, que se transforma em VoIP (voz sobre IP, como no Skype). Com o 4G, voz, dados, vídeos e mensagens passam todos pelo mesmo lugar, como se o usuário pudesse ficar 100% conectado, transmitindo e recebendo o que quiser o tempo todo e com qualidade.
Marco Galaz, diretor de Telecom da empresa de consultoria everis Brasil, diz que os usuários ganham novos recursos com a banda larga móvel 4G.
- Não é uma mudança apenas de velocidade. O usuário terá mais recursos, por exemplo assistir à televisão igual ao que se vê ao vivo e não com imagens cortadas como acontece hoje. Além disso, a concorrência entre as operadoras deve aumentar entre si para buscar consumidores a partir dos novos recursos.
Com o 4G, o usuário de internet móvel poderá baixar arquivos mais pesados em menor tempo que o atual e curtir, por exemplo, jogos com 3D e alta definição.
Conheça as tecnologias
Para Newton Scartezini, especialista em telecomunicações e diretor da Horizontes Consultoria, embora a Anatel trabalhe com a meta de oferecer 4G até a Copa do Mundo de 2014, a tendência da chegada de uma rede mais rápida para dispositivos móveis acontece por uma demanda dos próprios usuários e do mercado de telefonia.
- Um evento como esse acrescenta usuários temporários, como turistas, mas em comparação com a base de usuários que já existem no Brasil, não é tanta diferença assim. Pelo volume de usuários de celular que o Brasil tem hoje, não é isso que vai fazer grande diferença. A tecnologia é só um meio. As pessoas compram pelas aplicações, pelos recursos que despertam seu interesse. É isso que motiva o usuário a comprar um celular cada vez melhor.
No dia 6 de dezembro de 2010, a União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês) informou que, enquanto o órgão não define claramente os requisitos básicos para que uma tecnologia possa ser considerada de quarta geração, sistemas que avançaram muito a partir do 3G podem ser chamados de 4G. A decisão final da ITU sobre os requisitos para quarta geração deve sair até abril deste ano.
Enquanto isso, no Brasil, sinônimo de banda larga móvel é o 3G, comercializado pelas quatro principais operadoras de telefonia celular (Vivo, Tim, Claro e Oi). A maioria dos smartphones prontos para o 3G que existem no mercado brasileiro atualmente – como é o caso do iPhone 4 – utiliza uma tecnologia chamada HSPA (High Speed Packet Access ou Acesso de Pacote de Alta Velocidade), com potencial de velocidade média real de conexão de 1 Mbps (megabits por segundo).
Na edição deste ano da Campus Party (maior evento brasileiro que reúne fãs de tecnologia), a Vivo testou o uso da HSPA+, tecnologia até pouco tempo apelidada de 3,5G e que oferece velocidade de 7,2 Mbps ou mais. Assim como o 3G, o modelo HSPA+ só funciona em equipamentos prontos para esse sistema, que não tão potente quanto outras duas tecnologias – LTE e WiMax – devem dominar o mercado 4G.
Boa alternativa
Erasmo Rojas, diretor da entidade 4G Americas para a América Latina e Caribe, diz que, enquanto os sistema LTE não chega, o HSPA+ pode ser uma boa alternativa.
- A velocidade do HSPA+ é de mais ou menos três ou quatro vezes a do 3G. Se falarmos sobre experiência de navegação dos usuários comuns, o HSPA+ tem uma velocidade suficiente, mas em caso de eventos maiores como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 ou Jogos Olímpicos de 2016, em que serão necessárias grandes concentrações de dados, de informação, e geração de imagem, talvez a tecnologia LTE seja realmente necessária. Acredito as operadoras possam usar daqui a poucos anos o HSPA+ e o LTE, dependendo do tipo de negócio que queira ofertar.
O sistema LTE (Long Term Evolutions ou Evoluções em Longo Prazo), atinge velocidade de download de até 100 Mbps em dispositivos móveis. Seus usuários poderão experimentar velocidade real cinco vezes maior que a do 3G.
A associação 4G Americas apoia o desenvolvimento do modelo HSPA+ e LTE. Fazem parte do grupo companhias como a Motorola, Research In Motion (RIM), que fabrica o BlackBerry, Telefonica, entre outras.
Pode ser possível que o LTE cumpra as exigências da ITU para se estabelecer como 4G padrão, mas já está em desenvolvimento uma versão chamada de LTE-Avançado, cuja velocidade de transmissão é 40 vezes superior ao atual 3G.
O sistema foi recentemente testado na Coreia do Sul e permitiu ver imagens de televisão em 3D e alta definição em um veículo que se movimentava a menos de 40 km/h, além de baixar dados a uma velocidade de 600 Mbps (megabits por segundo), o que permite fazer o download de um arquivo de 700 megabytes (algo equivalente a um filme de uma hora e meia) em 9,3 segundos. O LTE-Avançado pode entrar em funcionamento no país até 2015.
Assim como o LTE, o WiMax também junta voz e dados no IP e depende do leilão da Anatel para usar a faixa de freqüência de 2,5 GHz e crescer no Brasil.
“Superweb” sem fio
As operadoras brasileiras tendem a investir em médio prazo em HSPA+ e LTE, porque a adaptação a esses sistemas é compatível com suas estruturas técnicas, mas há empresas, no Canadá, por exemplo, que preferem o WiMax, que evolui a partir do Wi-Fi (conexão à web sem fio).
O WiMax serve principalmente para oferecer acesso sem necessidade de cabos em grandes áreas, permitindo manter cidades inteiras conectadas, como é o caso de Estocolmo, na Suécia.
O WiMax Forum, grupo de empresas que incentivam a adoção dessa tecnologia, quer aproveitar o grande mercado de celulares e banda larga móvel da América Latina para espalhar esse sistema pela região, como explica Jonathan Singer, gerente de marketing e pesquisa do WiMax Forum.
- A América Latina tem registrado um crescimento significativo em telefonia, e o número de aparelhos celulares na região é impressionante. São cerca de 400 milhões de assinantes, mas ainda há uma lacuna enorme no acesso à banda larga. Para suprir a demanda por conexões, o WiMax Forum trabalha para que o WiMax avance. De olho no futuro, a entidade já fala em WiMax 2, obviamente mais rápido que o sistema atual.
LTE e WiMax podem ser rivais na briga pela banda larga móvel 4G, mas há a possibilidade de que ambas se complementem, de acordo com as necessidades de cada região ou do interesse das operadoras.
Para Scartezini, o WiMax mantém uma tendência de se tornar uma tecnologia de nicho.
- Nenhuma tecnologia morre, mas o que está acontecendo no Brasil e no mundo com o WiMax é que ele se tornou uma tecnologia de nicho. O WiMax tem sido usado em projetos de cidades digitais porque se trata de uma cobertura muito grande e aí não tenha problema que seja fixa. Mais tarde, se criou uma versão móvel, mas não é um mercado de massa. Outro problema é que a interface do WiMax com o equipamento do usuário é mais cara. Como não explodiu em termos de volume, o WiMax não consegue baixar esses custos.