O Brasil não vai deixar de comprar produtos alimentícios do Japão nos próximos dias, mesmo depois do terremoto e do tsunami que assolaram o país há quase duas semanas, segundo informou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ao R7.
Isso porque as empresas brasileiras só compram produtos livres do risco de contaminação por radiação, segundo as regras da OMS (Organização Mundial da Saúde), e também porque o próprio país asiático congelou a venda de mercadorias sob suspeita para o exterior.
A gerente de alimentos da agência, Denise Resende, explica que o país importa do Japão, dentro da categoria alimentos, apenas “mistura e pasta para preparação de produtos de padaria, pastelaria e indústria de bolachas e biscoitos” - item que vem embalado e chegou ao Brasil, pela última vez, no início de fevereiro. Portanto, está fora de risco porque desembarcou antes da tragédia e do vazamento de material radioativo da usina nuclear de Fukushima.
- O ministério da saúde do Japão já fez uma nota proibindo a exportação de produtos [sob risco de contaminação] enquanto houver essa situação. Ou seja, o próprio governo japonês se antecipou e parou de vender para outros países. Mesmo porque eles precisam se organizar para providenciar alimentos para o consumo interno.
A venda dessas mercadorias está suspensa por tempo indeterminado, mas, segundo Denise, quando os carregamentos de comida japonesa voltarem a desembarcar nos portos e aeroportos brasileiros, a Anvisa deverá ganhar a ajuda da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) para fazer um raio-X mais detalhado da carga.
- Já conversamos com a Cnen, que é o órgão que cuida de radiação no Brasil. Eles têm um laboratório... Nós pedimos para verificar a possibilidade de emprestar o laboratório para fazer a análise de radiação em alimentos e, se for necessário, depois que a gente perceber que esses produtos voltarem a entrar no Brasil, a gente fará a análise deles.
A gerente de alimentos da Anvisa explica que, a princípio, o Brasil não tem um porquê para impor barreiras aos produtos japoneses, embora essa decisão possa mudar a qualquer momento.
- A gente precisa avaliar, nessa situação de crise, as ações a cada momento. Hoje, a posição nossa é essa. Amanhã, se houver alguma evidência de risco, nós vamos reavaliar nossas ações e adotar medidas para garantir a segurança da população.
Alerta internacional
O Brasil faz parte de uma rede mundial de informações instantâneas relacionadas à contaminação por radiação, explica Denise.
- Nós temos hoje uma rede, a Infosan [Rede Internacional de Autoridades em Inocuidade de Alimentos], que é ligado à OMS e conecta todos os países com alerta sanitário. Se um país recebe um alimento e é detectado um nível elevado de radiação, no mesmo momento, todos os países recebem a informação e adotam medidas. No momento, não temos porque criar um alarde nacional.
Comércio Brasil-Japão
O Japão é o sexto principal vendedor de mercadorias ao Brasil, de acordo com dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). No primeiro bimestre deste ano, 2.498 empresas brasileiras compraram R$ 1,98 bilhão (US$ 1,193 bilhão) em produtos japoneses, sendo que 99,4% desse total são manufaturados (processados pela indústria).
O Brasil compra, principalmente, peças de automóveis e motos, carros, instrumentos de medidas e verificação, máquinas de xerox, pneus, partes para motores, parafusos, aparelhos médicos, equipamentos para produção de celulares e TVs, entre outros.