Dois caças espanhóis F-18 levantaram voo na manhã desta segunda-feira (21) rumo à Líbia inaugurando a chamada “fase 2” da operação militar internacional que foi instaurada após a aprovação da resolução do Conselho de Segurança que aprova o uso da força para a proteção da população civil líbia da ditadura de Muammar Gaddafi - há mais de 40 anos no poder.

A primeira fase teve a participação de Reino Unido, Estados Unidos, Dinamarca, Canadá, França e Itália – em diferentes escalas e funções – e teve como alvo anular bases aéreas, estradas e outros elementos que pudessem ser usadas para ataque aos rebeldes ou à coalizão.

Na segunda fase participam os países citados com a ajuda de Espanha, Noruega, Bélgica, Grécia, Qatar e Emirados Árabes Unidos.

No entanto, a posição da Liga Árabe de criticar as operações levadas no fim de semana – o órgão considerou que ela extrapolava as funções estabelecidas pela resolução da ONU – levantou dúvidas sobre a participação de países árabes. A rede de TV americana CNN fez pergunta sobre esse quesito para Bernard H. Lévy, conselheiro do presidente da França, sobre tal aspecto.

Ele negou um recuo árabe e disse que a ação está dentro dos parâmetros legais estabelecidos.

A Líbia volta nesta segunda-feira a ser o centro de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, a primeira desde o início da intervenção militar Odisseia do Amanhecer – nome da operação em curso.

Os membros do conselho, presidido neste mês pela China, se reunirão a portas fechadas a partir de 15h (16h em Brasília). O encontro ocorre em resposta a uma carta da Líbia e um pedido da Rússia.

 

Gaddafi disse que o Conselho de Segurança tem uma responsabilidade de interromper o que ele chamou de uma "agressão" contra a Líbia e acusa as forças aliadas de atacar civis, descumprindo a resolução aprovada na última quinta-feira (17), cujo objetivo é justamente proteger a população e bombardear apenas alvos militares. O Conselho de Segurança também criou uma zona de exclusão aérea sobre o país.

Já o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, disse nesta segunda-feira que a resolução era "defeituosa e falha" e comparou a medida à convocação medieval para as cruzadas.

Mas a Rússia não usou seu poder de veto contra a resolução na quinta-feira e simplesmente se absteve, assim como o Brasil e a China, essa última que também criticou os ataques aéreos contra a Líbia.

Rússia e China se tornaram grandes críticas da operação

O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, comparou nesta segunda-feira a resolução 1.973 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia a um "chamado medieval para uma cruzada".

- [A resolução] me lembra quando alguém era chamado para ir a determinado lugar para libertar algo.

Putin indicou que quando se lê o conteúdo da resolução, "fica absolutamente claro que permite a todos adotar qualquer ação contra um Estado soberano".

O primeiro-ministro acrescentou que a resolução adotada pelo Conselho de Segurança - em cuja votação a Rússia, que conta com direito a veto, se absteve - é "deficiente e danosa".

O primeiro-ministro destacou que, apesar do Gabinete de Ministros não se ocupar dos assuntos de política externa, que é prerrogativa exclusiva do chefe do Estado, o presidente Dmitri Medvedev, ele tem sua opinião pessoal sobre os eventos registrados na Líbia.

A mais forte condenação chinesa das manobras do Ocidente contra as forças do líder líbio apareceu no Diário do Povo, órgão do Partido Comunista, e mostrou como o conflito militar pode se tornar uma nova frente de atrito entre Pequim e Washington.

O jornal usou palavras pouco veladas para acusar os Estados Unidos e seus aliados de violar regras internacionais, embora a China não tenha também chegado a vetar a resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que efetivamente autorizou os ataques aéreos.

O diário apontou semelhanças entre a iniciativa na Líbia à invasão norte-americana do Iraque em 2003, e deu a entender que segue um padrão de interferência do Ocidente nos assuntos de outras nações.

- As tempestades ensanguentadas que o Iraque sofre há oito anos e o sofrimento indizível de seu povo são um reflexo e um alerta. Os ataques militares à Líbia são, após as guerras no Afeganistão e no Iraque, a terceira vez que alguns países lançaram ações armadas contra países soberanos.

O comentário apareceu sob o nome de "Zhong Sheng", pseudônimo que em chinês se parece a "Voz do Centro", dando a entender que verbaliza a opinião do alto escalão do governo.