O governo dos Estados Unidos sabia que os governos de Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak (Egito) e Muammar Gaddafi (Líbia) eram autoritários -- e nos bastidores diplomáticos Washington acompanhava tanto o nível de repressão praticado no norte da África quanto as possibilidades de reforma.
Parte do trabalho feito pelas embaixadas norte-americanas na região veio à tona com os vazamentos da organização WikiLeaks, que aos poucos publica os telegramas diplomáticos trocados entre Washington e suas representações no mundo.
Entre outros detalhes, é possível descobrir que a embaixada em Tripoli se preocupava com a "enfermeira ucraniana" que costumava acompanhar Gaddafi em todos os lugares para onde o líder líbio viajava. Em outro documento, a representação dos EUA no Cairo antecipa que os blogueiros começavam a ganhar peso no quadro político do Egito. Sobre a Tunísia, a embaixada em Túnis não usou meias palavras: "o regime está esclerosado".
Leia abaixo alguns trechos selecionados entre os documentos norte-americanos vazamentos pelo WikiLeaks, nos quais é possível acompanhar a opinião recente dos EUA sobre os principais centros da atual onda de revolta no mundo árabe. Todos eles são telegramas enviados da capital do país em questão, e entre parênteses aparece a data da comunicação.
Corrupção na Líbia (2006)
“[Muammar] Gaddafi frequentemente discursa contra a corrupção no governo, mas a elite politicamente relacionada têm acesso direto a lucrativos contratos de negócios. (...) A família Gaddafi e outros políticos favoritos da Jamahiriya tiram proveito do poder de manipular as dinâmicas -- de muitos níveis e sempre em mudança -- dos mecanismos de governo da Líbia”
“Os interesses financeiros de Gaddafi e seus principais aliados apresentam oportunidades e desafios para os esforços de reforma na Líbia. No mínimo, parece seguro dizer que a reforma terá seus altos e baixos, a longo prazo, à medida que interesses individuais, do regime e da nação entrarem em jogo”
Gaddafi hipocondríaco (2009)
“(...) XXXXX nos contou que ele [Gaddafi] não sofre de câncer, mas é hipertenso e diabético. Gaddafi foi descrito como ‘hipocondríaco’, que insiste que todos os exames e consultas sejam gravados e depois gasta horas revisando-os com médicos de confiança. Embora a natureza específica de suas doenças continuam sem confirmação, parece que Gaddafi não está completamente bem. XXXXXX nos contou que a agenda de reuniões de Gaddafi – especialmente de noite – está menos intensa do que costumava ser e ele gasta mais tempo descansando durante o dia”









