Apesar das centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, terem realizado diversas manifestações para que o salário mínimo passasse a ser de R$ 580,00, o projeto do governo estipula o valor de R$ 545,00, que teria impacto de R$ 1,36 bilhão nas despesas públicas. Para justificar a proposta, assinada pelos ministros Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento), Carlos Lupi (Trabalho) e Garibaldi Alves (Previdência) o texto diz que o incemento assegura a manutenção do poder de compra dos trabalhadores e dos beneficiários da previdência social.
Além do aumento do piso salarial, o projeto prevê a política de valorização de longo prazo do mínimo até 2014. Os ministros argumentaram ainda o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) foi “levemente negativo” em 2009, impossibilitando um ganho efetivo para o mínimo. O aumento beneficiará 29,1 milhões de trabalhadores formais e informais. A esse contingente se somam cerca de 18,6 milhões de beneficiários da Previdência Social.
Mas, para o professor de Economia Laurentino Veiga o aumento é irrisório. Ele afirmou não gostar da expressão ‘salário mínimo’, destacando que embora a inflação esteja controlada o governo deveria buscar outras formas de aumentar o poder aquisitivo da população, principalmente em relação à alimentação. Para Veiga,mesmo que o valor pago aos trabalhadores fosse mais alto, o preço dos produtos e serviços cresceria proporcionalmente.
´”Salário mínimo significa que o povo nunca vai ganhar o máximo. Só muda a posição da vírgula e as pessoas que vivem com esse dinheiro terão um aumento que na realidade mal será notado. A inflação está em menos de 7%, mas apenas reajustar o salário não é a solução. É preciso mexer na estrutura produtiva para que os bens e serviços cheguem aos trabalhadores. Mesmo que fosse R$ 600,00 não resolveria a questão. Tem que haver uma mudança vertical, o governo precisa subsidiar o setor alimentício, que é o que mais pesa”, lembrou.
Ele acredita que os pequenos e médios produtores precisam de estímulos para aumentar a produção, por meio de linhas de crédito para a compra das sementes.
“Quem planta grãos, como milho, feijão e arroz tem que produzir mais, só que não para exportação. O pagamentos das sementes poderia ser cobrado após a primeira colheita, com prazo estendido. Mas, o governo tem que frear quem compra por R$ 10,00 e vende por R$ 30,00. Na Ceasa é possível comprar valorizando a origem e o preço dos produtos”, explicou.
Veiga apontou a criação de cooperativas como uma alternativa para incrementar a produção, citando a Pindorama como referência em Alagoas, que começou a plantar maracujá e agora investe na cana-de-açúcar. O economista afirmou que a política de governo da presidente Dilma Rousseff é restritiva e ao contrário do que foi pregado pelo governo Lula, quer diminuir os meios de financiamento e os gastos, para controlar a inflação.
“Claro que é melhor um aumento no salário de 2 a 3% do que nada, mas valores fracionados não deveriam ser sugeridos. Se o reajuste fosse de R$ 1000 tudo aumentaria, porque calculam o valor nominal e não o real, com todos os descontos, além de água, luz e telefone, por exemplo. A euforia é momentânea, só que dois meses depois todos iriam perceber que ficariam com o mesmo valor", afirmou.
Aumento dos deputados
Laurentino Veiga afirmou que o aumento que seria concedido aos deputados estaduais do Estado é algo contraditório. “Esse reajuste de 61.8% que começou no Congresso é irreal e poderia ter um efeito cascata, com o aumento na remuneração dos deputados estaduais e vereadores. Em um estado como o nosso esses salários seriam descabidos, sorte que o governador vetou, mas parece que os parlamentares querem se vingar, pois ainda não aprovaram o orçamento”, destacou