A Comissão Pastoral da Terra de Alagoas (CPT-AL) vem por meio desta nota, esclarecer a sociedade alagoana e os veículos de comunicação sobre os últimos acontecimentos relacionados ao Acampamento Bota Velha localizado no município de Murici, zona da mata alagoana, e que tem 102 famílias camponesas acompanhadas.
O Acampamento existe há nove anos, as famílias que fixaram nas terras improdutivas arrendadas à Usina Santa Clotilde possuem uma boa produção agroecológica (hortaliças, macaxeira, inhame, abóbora, melancia, feijão, etc) e uma pequena criação de animais (galinhas, ovelhas, patos). No local, existe energia elétrica, as casas são de taipa com telhas e algumas de alvenaria; foi instalada uma casa de farinha, com recursos dos próprios camponeses, e juntos conseguem produzir cerca de 500kg de farinha por semana que é comercializado nas feiras livres dos municípios vizinhos.
O Juiz da Vara Agrária, Ayrton Tenório, determinou para o dia 20 de janeiro a reintegração de posse deste imóvel rural, porém, as 102 famílias não têm para onde ir e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-AL) não tem uma outra área na região que possa ser apresentada e transformada em assentamento. Após uma reunião na tarde de ontem, foi determinado que as famílias deixem o local nos próximos 30 dias, mas, a luta continuará!
A CPT avalia que a mobilização das famílias camponesas foi importante e também comoveu a sociedade civil. Contamos com o envolvimento dos movimentos rurais, inclusive, com a presença do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) no local do conflito agrário com a Polícia Militar; além disso, recebemos a solidariedade de intelectuais, professores universitários e também de profissionais de diversos setores e instituições internacionais que apóiam a reforma agrária no Brasil. Companheiros da Itália, Canadá, Alemanha e Suíça encaminharam cartas às autoridades brasileiras para que repensassem a determinação judicial e respeitasse a luta das famílias que só querem um pedaço de chão para plantar e sobreviver.
Gostaríamos ainda de agradecer aos veículos de comunicação pela divulgação e visibilidade que deram ao caso. A CPT irá se empenhar ainda mais e se articular para que as famílias permaneçam no acampamento e tenham uma vida digna no campo; para que não aumentem, ainda mais, a lista de famílias desassistidas pelo Estado; para que não sejam vítimas do êxodo rural, exploração e sofrimento.
A CPT é uma pastoral social vinculada à Igreja Católica, que existe há 26 anos no Estado de Alagoas, é uma instituição comprometida com as famílias camponesas e atualmente acompanha 28 acampamentos e 18 assentamentos da reforma agrária. Busca defender seus direitos para se fixarem na terra, produzindo alimentos agroecológicos e o acesso à água potável, saúde, educação e cidadania.
Atenciosamente,
Coordenação da Comissão Pastoral da Terra