Durante o período dos dois governos Lula, o salário médio dos torneiros mecânicos no ABC paulista teve aumento real, acima da inflação, de 14,6%, ou 1,72% ao ano em média. O aumento é bem acima da alta do salário médio do emprego formal em geral na região, que foi de 6,1% no período, ou 0,74% ao ano. Os dados são do Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos (Dise) da Prefeitura de Santo André.
Apesar de estar sendo substituída aos poucos com a chegada de máquinas computadorizadas, a profissão original de Luiz Inácio Lula da Silva ainda é vista com prestígio na região até hoje conhecida por conta das indústrias metalúrgicas, onde ficam cidades como São Bernardo do Campo, onde Lula tem residência; e onde empresas como Ford, Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania e Karmann Ghia mantêm unidades.
“Com a forte demanda do setor automobilístico, algumas empresas disputam profissionais a tapa. Aqui na região, tem empresas que vão cooptar o trabalhador para sair de uma e ir para a outra. Há casos em que a empresa convidou ex-trabalhador aposentado para voltar”, diz Moisés Selerges Junior, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
De acordo com o Dise de Santo André, o salário do torneiro mecânico aumentou de R$ 1.527,05 em 2002 para R$ 1.750 em 2010, em valores corrigidos. A remuneração dos metalúrgicos em geral, com alta similar, cresceu de R$ 2.494,64 há oito anos para R$ 2.858,94 atualmente. O salário médio do emprego formal no ABC subiu de R$ 1.917,24 para R$ 2.034,32 no mesmo intervalo. Os valores foram corrigidos com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE).
Reconhecimento da categoria
Os próprios torneiros reconhecem que o momento é próspero para o setor. Recém admitido para a função, Thiago Aparecido Rodrigues da Silva, de 25 anos, que vive e trabalha em Mauá, também no ABC, diz que não tem faltado emprego no ramo metalúrgico. “Cheguei a ficar desempregado um tempo, mas foi por conta própria. Se tivesse procurado, teria encontrado”, diz.
Silva fez curso de usinagem há cinco anos e sempre trabalhou como ajudante ou operador de máquina. Há três meses, conseguiu emprego de torneiro mecânico, o que considera como uma espécie de evolução na carreira. Para continuar crescendo, pretende fazer curso de ferramentaria, outra função dentro do ramo. Como iniciante, ele afirma receber aproximadamente R$ 1,2 mil por mês, mas espera receber aumento conforme adquirir experiência. “O salário, além de gostar da área, foi um dos motivos que me atraiu”, revela.
“Se o Lula conseguiu virar presidente, estou estudando para ver se consigo crescer dentro da empresa"
Diego Cabralino, de 21 anos
Substituição
O torno mecânico, contudo, vem saindo aos poucos da linha de montagem de grandes indústrias com a chegada de uma nova máquina, o torno CNC. Para a produção em série, o novo equipamento é considerado mais ágil, exigindo dos operadores conhecimentos de programação. “A profissão de torneiro mecânico nas grandes indústrias está escassa e foi transferida para fora, nas pequenas empresas que prestam serviços para as maiores”, avalia Joseildo Rodrigues de Queiroz, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.
Há 25 anos trabalhando como torneiro mecânico, Palmir Oliveira da Silva, de 39 anos, também de Mauá, avalia as mudanças na profissão do presidente ao longo dos anos. “Hoje existe o torno CNC, que tem que aprender a programar. O torno mecânico é mais na raça mesmo. É manual, um serviço artesanal”, avaliou. “No CNC, o torneiro só aperta o botão. No convencional, tem que ter um pouquinho de malícia”, complementa o trabalhador.
O metalúrgico afirma que as brincadeiras sobre a profissão do Lula são constantes entre os colegas de trabalho. “Eu acho legal a gente ver que ele trabalhou no torno. Afinal, tenho a profissão do presidente.”
Silva diz que recebe de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil e alerta os interessados sobre a evolução das linhas de montagem. “Hoje eu partiria para a programação CNC. É lógico que sempre vai ter torneiro mecânico para pequenos ajustes, mas é uma profissão antiga, vai saindo do mercado”.
Curso técnico
O curso técnico de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), onde Lula estudou, foi extinto e substituído por um novo, o de mecânico de usinagem. De acordo com Pedro Bardini, professor do Senai Almirante Tamandaré, em São Bernardo do Campo, a mudança ocorreu para atender uma necessidade de mercado. “Já faz tempo que mudou. O mercado estava precisando de um profissional mais eclético”, diz.
O professor explica que o curso atual contempla o aprendizado em máquinas como o torno mecânico, a fresadora, furadeiras de bancada e retificadoras. Recentemente, foi incluído o torno CNC nos últimos dois semestres do curso. “A maioria das empresas que trabalha com produção já usa a máquina CNC. Mas nas fábricas que não trabalham com peças seriadas, usa-se o torno mecânico. Ele ainda é muito usado”, avalia.
Diego CabralinoDiego Cabralino estuda para crescer na profissão.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Formado há três anos no curso do Senai, Diego Cabralino, de 21 anos, opera atualmente o torno CNC em uma das montadoras de São Bernardo do Campo. Ele afirma, porém, que já operou o torno mecânico. “O que eu fazia manualmente, agora eu programo”, afirma.
Com salário de aproximadamente R$ 3,5 mil ao mês, o jovem reconhece o bom momento vivido pela profissão e afirma que fez muitas horas extras em 2010. De olho nas evoluções da carreira, está cursando a faculdade de engenharia mecânica. “Se o Lula conseguiu virar presidente, estou estudando para ver se consigo crescer dentro da empresa", compara.
Ainda com "Lula" apenas no apelido, Luiz Inácio da Silva teve a carteira assinada pela primeira vez aos 14 anos. Logo entrou no curso de torneiro mecânico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e se tornou metalúrgico. Depois do golpe militar de 1964, passou por várias fábricas, até ingressar nas Indústrias Villares, que ficavam em São Bernardo do Campo, onde começou a ter contato com o movimento sindical.