Este é o ano de ouro do cinema brasileiro. Finalmente se fez uma reconciliação com o público em filmes de bastante qualidade e gosto variado. É verdade que fomos ajudados pela queda da produção internacional, tanto em número de títulos quanto (e principalmente) de qualidade.

E olha que nem todos os bons filmes brasileiros do ano foram descobertos pelo público de tal forma, que mesmo eu tive dificuldade de acompanhar todos os lançamentos (e deixei escapar alguns, mea culpa!). Principalmente aqueles inúmeros documentários que ficam em cartaz nas salas especializadas. Para mim, o melhor e eu julgo com o coração, e como resgate de um pedaço esquecido e importante de nossa história artística, foi o filme dos DziCroquettes. Pelo menos , nada me comoveu tanto.

Neste momento em que escrevo recebo a notícia de que Tropa de Elite 2 supera Avatar como o filme de maior bilheteria no Brasil! O que é ótimo (ele já tinha superado há algum tempo Dona Flor e seus Dois Maridos). Um recorde importante que espero deixe os exibidores felizes (talvez não os políticos, já que o filme é uma denúncia forte e assumida, nunca vista antes nas telas, parece que o filme passara agora em Sundance, onde espero que seja melhor recebido do que seu antecessor, que foi injustamente pichado de fascitóide).

Valho-me de informações de João Paulo Beltrão, que muito me ajudaram num artigo chamado “ano recorde para a indústria de cinema no Brasil e para os filmes nacionais”.

Diz o jornalista que o Sindicato dos Distribuidores apontava crescimento de 32% e 19 % de participação no mercado (atenção, tudo indica que esses números podem ser maiores ainda). Ou seja, teríamos 135 milhões de espectadores de filmes nacionais este ano (contra 112 milhões no ano passando), o que iria gerar uma renda de R$ 1.27 bilhões (os dados finais só saberemos no fim de janeiro), mas é impressionante esse aumento de bilheteria de 32 % . Tudo isso porque pela primeira vez desde a retomada tivemos três filmes nacionais entre as dez maiores bilheterias do ano: Tropa de Elite 2, Chico Xavier e Nosso Lar.

Claro que nem tudo são flores. Se a comédia carioca Muita Calma nessa Hora, de Felipe Joffily, fez mais de um milhão de espectadores, o católico Aparecida, o Milagre foi uma decepção de bilheteria. Se aposta agora numa comedinha nacional sem grandes nomes, mas muito marketing, que é De Pernas para o Ar, que virou a maior atração do fim de ano nos cinemas.

De qualquer forma, o número de salas está crescendo (6,3 %) devendo chegar a 2,500 em todo o Brasil, um número ridículo para o tamanho do país. Nos EUA, um filme grande estreia sozinho nessa quantidade de salas. Mas ao menos e aos poucos vai aumentando. O que ajudou muito foi o 3D, que caiu no gosto do público (108,9 milhões de espectadores com renda bruta de R$ 1,04 bilhões). Por isso, o Brasil ultrapassou o México, se tornando esse ano o maior mercado de cinema da América Latina (espero que isso signifique alguma coisa e os diretores e atores ao menos façam a viagem até nós, para promoverem os filmes, sempre fomos desprezados nesse aspecto).

Os melhores nacionais do ano

Sem dúvida, como já falamos em cima, tivemos os três grandes. O primeiro foi Chico Xavier, de Daniel Filho, um projeto pessoal do diretor (e que tem versão mais longa agora passando em janeiro na Rede Globo). Tem interpretações excepcionais no todo e em particular de Nelson Xavier no papel-título (parece que realmente baixou nele) e Angelo Antonio como ele jovem.

Depois vem Nosso Lar, um tema difícil, desta vez a visão do mundo pós-vida pelo kardecismo de um guia do mesmo Chico, que o diretor Wagner de Assis conseguiu transformar em realidade sem cair no brega ou no ridículo. Um feito excepcional e cheio de armadilhas que ele conseguiu evitar.

Foi sucesso embora tivesse também resmungos da crítica, mas foi aceito pelos fieis. O que era sua proposta. Se os dois representam uma vertente bem sucedida, o terceiro é sem dúvida o filme do ano. Melhor que o primeiro Tropa de Elite 2 (o inimigo agora é outro), novamente contou com o excelente Wagner Moura (já o considero aqui hors concours) e demonstrou a habilidade do diretor José Padilha, que conseguiu fazer quase uma previsão do que foram os movimentos de tomada de comunidades no Rio, no Morro do Alemão, e se tornou nesse meio tempo um ídolo popular.

De qualquer forma, merece por sua coragem em tomar a palavra e fazer as acusações de frente, sem medo, dizendo o que o povo pensava e não tinha como expressar. Sucesso merecido.

Veja que justamente nesse ano de tantos êxitos tenhamos também o lamentável caso do filme de Lula, o filho do Brasil. Não tanto o filme em si, que é uma elegia a moda stalinista de culto a personalidade como os partidões sempre gostaram.

Trágico foi o acidente que deixou em coma até agora seu diretor Fábio Barreto, como lamentável foi sua escolha para representar o Brasil no Oscar de filme estrangeiro (por manipulação mudando as regras do jogo e mentindo que teria sido por unanimidade).

Mas com tudo isso tivemos realmente bons filmes nacionais, fora os que já mencionei acima, vou citar alguns de qualidade:

Os Famosos e os Duendes da Morte - Um título infeliz para a estreia de um jovem talentoso, Esmir Filho, feito no interior do Rio Grande Sul. Quase um lado dark e sinistro de outro filme muito bom feito na região: Antes Que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, feito pela competência do pessoal da casa de Cinema de Porto Alegre. Recomendo os dois, mas em particular este segundo que também tem um título ruim (mas era de um livro conhecido por lá) que é romântico e lírico.

Eu e meu Guarda Chuva - Um bem sucedido filme juvenil, muito bem realizado por Toni Vanzolini. Também não encontrou seu público, mas é surpreendente.

As Melhores Coisas do Mundo – Lais Bodansky acerta com outro filme de e para jovens, no caso, sobre alunos de escola paulista e as crises de uma família. Revelou o jovem filho de Fabio Jr., o hoje famoso Fiuk.

Como Esquecer - Um raro filme sobre relacionamento lésbico. E que tem ainda a ousadia de trazer uma protagonista chata e difícil (muito bem interpretada por Ana Paula Arósio). Direção talentosa de Malu di Martino.

5 x Favela, Agora por nós Mesmos - Os elogios e prêmios não serviram para convencer o público de que deveriam descobrir este filme de favela diferente. Muito espirituoso, criativo, dá uma visão de dentro para fora, das comunidades, sem preconceitos ou intelectualismos. Dirigido por jovens, supervisionados por Carlos Diegues, são cinco episódios inteligentes e refrescantes. Descubra agora em DVD.

Reflexões de um Liquidificador, de André Klotzel. Quase um solo da ótima atriz Ana Lucia Torre, que conversa com um liquidificador (que tem a voz de Selton Mello!). Certamente a melhor atriz do ano.

Bônus- Esta é a lista oficial do Filme B, a grande fonte de pesquisa, sobre as bilheterias do ano do cinema brasileiro:

1. Tropa de Elite 2 - 11.081.199

2. Nosso Lar - 4.060.000

3. Chico Xavier - 3.414.900

4. Muita Calma Nessa Hora - 1.283.391

5. Xuxa em O Mistério de Feiurinha - 1.299.044

6. O Bem Amado - 966.519

7. Lula, O Filho do Brasil - 852.212

8. As Melhores Coisas do Mundo - 310.029

9. Quincas Berro d'Água - 281.173

10. A Suprema Felicidade - 218.124

11. High School Musical - O Desafio - 292.932

12. 5X Favela - Agora por Nós Mesmos - 158.433

13. 400 Contra 1 - A História do Comando Vermelho - 142.534

14. Aparecida, O Milagre - 120.093

15. Federal - 111.695

16. Do Começo ao Fim - 89.258

17. Uma Noite em 67 - 80.766

18. Eu e meu Guarda-Chuva - 97.950

19. Soberano - Seis Vezes São Paulo - 45.434

20. Amor por Acaso - 47.607

21. Como Esquecer - 33.066

22. Segurança Nacional - 37.169

23. José e Pilar - 27.767

24. Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo - 26.361

25. Dzi Croquettes - 23.528

26. Em Teu Nome - 53.721

27. Antes que o Mundo Acabe - 28.390

28. Sonhos Roubados - 23.573

29. Reflexões de um Liquidificador - 23.664

30. O Homem que Engarrafava Nuvens - 19.324

31. Olhos Azuis - 16.193

32. É Proibido Fumar - 15.385

33. Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos - 11.208

34. Cabeça a Prêmio - 10.608

35. A Casa Verde - 24.588

36. Os Inquilinos - 9.813

37. Os Famosos e os Duendes da Morte - 8.406

38. Utopia e Barbárie - 9.909

39. As Cartas Psicografadas por Chico Xavier - 7.336

40. Caro Francis - 5.033

41. Só Dez Por Cento É Mentira - 6.150

42. Rita Cadillac - A Lady do Povo - 4.103

43. O Amor Segundo B. Schianberg - 4.390

44. No Meu Lugar - 5.829

45. Vida Sobre Rodas - 3.491

46. Pachamama - 4.217

47. Todo Poderoso: O Filme - 2.423

48. Cidadão Boilesen - 8.448

49. Quanto Dura o Amor? - 6.212

50. Besouro - 7.388

51. O Sol do Meio-Dia - 2.811

52. Programa Casé - 2.644

53. Praça Saens Peña - 2.138

54. Insolação - 2.235

55. Terra Deu, Terra Come - 2.530

56. Netto e o Domador de Cavalos - 2.170

57. A Guerra dos Vizinhos - 1.829

58. Jards Macalé - 1.805

59. Bellini e o Demônio - 1.933

60. O Grão - 1.976

61. Léo e Bia - 1.367

62. Noel, Poeta da Vila - 4.348

63. Um Lugar ao Sol - 1.806

64. Solo - 992

65. O Abraço Corporativo - 1.001

66. Elevado 3,5 - 900

67. Cildo - 850

68. Veias e Vinhos - 2.500

69. Embarque Imediato - 1.155

70. Topografia de um Desnudo - 1.202

71. Terras - 662

72. Supremacia Vermelha - 568

73. B1 - Tenório em Pequim - 536

74. Ouro Negro - 680

75. Diário de Sintra - 584

76. Meu Mundo em Perigo - 541

77. Plastic City - 426

78. Grêmio 10X0 - 392

79. A Falta que Me Faz - 388

80. A Alma do Osso - 344

81. Fluidos - 274

82. Acácio - 258

83. Alô Alô Terezinha - 378

84. Elza - 248

85. Luto como Mãe - 328