O advogado do goleiro Bruno Fernandes de Souza, Claudio Dalledone Junior, afirmou nesta sexta-feira que não surpreendeu a decisão da juíza Marixa Fabiane Lopes, do Tribunal de Júri de Contagem (MG) de levar seu cliente a júri popular pelo desaparecimento de Eliza Samudio, sua ex-amante. O defensor disse ainda ter "plena convicção" de que o atleta será absolvido.
"Não surpreendeu a decisão. Entretanto, um ponto de justiça se levantou com a soltura dos demais. A acusação vem se desmontado, vem se esvaindo. Quando eu disse que efetivamente eram pálidas e anêmicas as acusações, eu tinha razão. Ela está se decompondo conforme o processo vai andando. Nós temos agora a fase do julgamento popular e eu tenho plena convicção que, com o que foi produzido dentro dos autos, Bruno Fernandes será absolvido", afirmou.
O advogado disse ainda que vai pedir a anulação do processo, alegando cerceamento de defesa, já que a juíza não ouviu alguns delegados de polícia. Para Dalledone, Bruno ficou "indefeso" em alguns momentos do processo - como quando o antigo defensor, Ércio Quaresma, dormiu em uma audiência - e a antiga defesa foi deficitária.
O advogado ainda citou que Bruno não esteve em algumas das audiências para ouvir testemunhas, o que ensejaria também a nulidade do processo. Segundo Dalledone, a juíza adotou um pré-julgamento e "condenou" o grupo antes mesmo de o processo ser concluído. "Tudo isso é causa de nulidade", afirmou. Ele vai fazer o pedido no Fórum de Contagem por meio de "recurso de sentido estrito". Segundo o advogado, a juíza encaminha esse recurso ao Tribunal de Justiça do Estado.
Mais cedo, a juíza decidiu que, além de Bruno, Luiz Henrique Romão (Macarrão), Sérgio Rosa Sales (primo do atleta) e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos (Bola) vão a júri popular por homicídio triplamente qualificado. A ex-mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, e a amante Fernanda Gomes Castro, assim como o caseiro Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques, o Coxinha, irão também a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado.
O caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos.
O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado. Após mais de 4 meses na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), Flavinho, o motorista de Bruno, foi solto em 27 de novembro, após ter prisão revogada pela Justiça. Ele foi excluído do pedido para que os réus fossem levados a júri popular, feito pelo Ministério Público dias antes, mas segue no processo até decisão final da Justiça mineira.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Conforme a sentença do juiz Marco Couto, o goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado.