O presidente Barack Obama admitiu nesta quinta-feira, em entrevista à imprensa, que a ocupação do Afeganistão ainda é "uma tarefa muito difícil" e que vencer a Al-Qaeda levará tempo, mas que os Estados Unidos mantêm-se firmes para conseguir seus objetivos - em particular iniciar uma retirada a partir de julho de 2011.
Obama falou sobre o assunto ao receber um relatório sobre a guerra, com um balanço de um ano de estratégia na região, destacando a fragilidade das conquistas.
O documento confidencial, que teve um resumo publicado pela Casa Branca, observa que a "dinâmica adquirida pelos talibãs nos últimos anos foi paralisada em grande parte do país e repelida em setores importantes; mas que os progressos ainda são frágeis e precários".
O texto havia sido encomendado por Obama à equipe de segurança nacional, em dezembro de 2009, quando anunciou que manteria um contingente americano no Afeganistaão de 100.000 homens, ou seja o triplo do número de soldados que estavam no país quando tomou posse, no início de 2009.
"Estamos voltados a atingir, desmantelar e derrotar a Al-Qaeda no Afeganistão e Paquistão, e interromper sua capacidade de ameaçar os Estados Unidos e nossos aliados no futuro", disse Obama.
"Derrotar completamente a Al-Qaeda levará tempo. Ainda é inimigo forte e impiedoso dedicado a atacar nosso país", acrescentou.
Apesar disso, os Estados Unidos "saúdam" os esforços do Paquistão contra os extremistas islâmicos, incluindo suas ofensivas nas regiões tribais, disse o presidente.
"No entanto, não se avançou o suficiente, e por isso seguiremos insistindo com os líderes paquistaneses que devem combater os locais de refúgio dos terroristas" nas fronteiras, afirmou.
O documento afirma que alguns aspectos da estratégia estão dando resultados, depois do ano mais violento do conflito, mas muitas conquistas obtidas nos nove anos de guerra pouco avançaram.
O informe destaca ainda que a liderança da Al-Qaeda no Paquistão passa por momento de maior fragilidade desde o começo da guerra, iniciada após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
O avanço citado permitirá uma "redução responsável" das forças americanas no Afeganistão (que atualmente são de 100.000 soldados) a partir de julho do próximo ano, mas a transferência total do controle da segurança aos afegãos só deve acontecer em 2014, segundo o informe.
A aliança antiterrorista dos Estados Unidos com o Paquistão foi "importante", mas também "irregular", no último ano, desde que Obama prometeu forjar uma relação de confiança e respeito com Islamabad, de acordo com o relatório.
O estudo, produto de uma análise de todos os aspectos da estratégia dos Estados Unidos, é divulgado no momento em que o país enfrenta o conflito mais longo de sua história no exterior, com o número de baixas de soldados americanos e civis afegãos aumentando cada vez mais.
Obama ligou para o presidente afegão Hamid Karzai antes da divulgação do informe e os dois concordaram em "insistir no ataque à área de refúgio dos terroristas", segundo o governo de Cabul.
Os termos aparentemente fazem referência ao cinturão tribal semiautônomo do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão, onde estão refugiados os talibãs que operam no Afeganistão e a direção da Al-Qaeda.
De acordo com o resumo do documento divulgado pela Casa Branca, não estão previstas mudanças importantes na estratégia, mas alguns aspectos do enfoque dos Estados Unidos, especialmente no Paquistão, devem ser revistos.
"A cúpula da Al-Qaeda no Paquistão está frágil e sob importante pressão mais que em qualquer outro momento desde que deixou o Afeganistão em 2001", afirma o relatório.
"No Paquistão, estamos estabelecendo a criação de uma associação estratégica baseada no respeito e na confiança mútua, por meio de um diálogo maior, uma cooperação melhor e uma troca maior de informações e programas de assistência".
"E no Afeganistão, o progresso alcançado pelos talibãs nos anos recentes foi contido em grande parte do país e revertido em algumas áreas chave, mas as conquistas continuam sendo frágeis".
"Apesar de a estratégia mostrar progressos nas três áreas avaliadas, Al-Qaeda, Paquistão e Afeganistão, o desafio é que nossas conquistas sejam duradouras e sustentáveis", diz o relatório.
O resumo divulgado mantém silêncio sobre as tensões nas relações entre os Estados Unidos e os dirigentes afegãos durante o ano. Documentos confidenciais revelados pelo site WikiLeaks nas últimas semanas mostraram a desconfiança dos diplomatas americanos em relação ao presidente Hamid Karza¯, entre acusações de corrupção e paranoia.
Dois documentos dos serviços de informação americano publicados nesta semana pelo New York Times e Los Angeles Times mostram-se muito mais pessimistas, em relação ao relatório divulgado pela Casa Branca.