O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, que vem sofrendo pressão da comunidade exterior para encontrar um fim para os conflitos em seu país, lançou em 2010 um processo de reconciliação com os talibãs, que estão cada vez mais ativos e até o momento reticentes a negociações. Com quase 700 soldados estrangeiros mortos neste ano e um saldo de 1.271 civis que perderam a vida apenas no primeiro semestre, o conflito afegão se estendeu até níveis desconhecidos desde o início da ocupação do país, em 2001.
Em palavras do novo general responsável pela Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf, na sigla em inglês), David Petraeus, que assumiu seu cargo em julho, a guerra está em um "momento crítico". No país estão cerca de 150 mil soldados estrangeiros após a chegada dos últimos reforços, mas há sinais de desânimo: os Estados Unidos repetem que não ficarão no Afeganistão "para sempre", e a Holanda iniciou sua retirada em agosto, ao término do prazo de sua missão.
Há pelo menos movimento no flanco político, e não só pelas eleições legislativas de setembro, marcadas por fraudes, que fez com que os cidadãos elegessem seus representantes para a Câmara baixa, a maioria deles formada por candidatos independentes. Karzai, reeleito por sua vez como presidente em 2009 após outro polêmico pleito, lançou em janeiro deste ano um "plano de reconciliação" com os insurgentes, até agora sem resultados significativos.
O governante iniciou suas manobras com a realização, em junho, de uma assembleia de Paz afegã, um conclave de aproximadamente 1,6 mil líderes locais que pediram a libertação de presos talibãs ou a retirada de nomes das "listas negras" da ONU como iniciativa para chegar à paz. Posteriormente, assegurou o apoio da comunidade internacional com a Conferência de Cabul, na qual revelou que o Afeganistão empregará nos próximos cinco anos US$ 784 milhões em ajuda estrangeira para tentar, entre outras coisas, "reintegrar" 36 mil insurgentes.
No horizonte está 2014, ano no qual, segundo a Otan, as forças de segurança afegãs devem assumir a responsabilidade total das operações militares e garantir a segurança em todas as províncias do país. Segundo o secretário da Otan, Anders Fogh Rasmussen, essa transferência deve ser "irreversível", embora persistam as dúvidas sobre a capacidade das forças afegãs, que estão sendo formadas com ajuda da comunidade internacional.
O propósito é contar com 171,6 mil soldados e 134 mil policiais em outubro de 2011, embora várias ONGs tenham alertado para a baixa confiabilidade das forças de segurança nacionais e de sua incapacidade para enfrentar por si sós a expansão insurgente. Ao mesmo tempo, Karzai segue em sua ideia de estabelecer pontes de diálogo com os talibãs, e estimulou a criação de um Conselho de Paz, um grupo de 68 membros que iniciou suas sessões em outubro.
Com as primeiras atividades do Conselho de Paz, diferentes meios de imprensa anglo-saxões revelaram a existência de conversas secretas entre o governo afegão e os talibãs para negociar o final do conflito, embora as partes tenham negado em público qualquer contato. "O momento da derrota dos invasores se aproxima. (...) O inimigo se retira de todo o país (...) As informações sobre negociação são propaganda sem fundamentos", afirmou em novembro o líder talibã mulá Omar.
Como já ocorreu em 2009, os talibãs ampliaram seu raio de ação, e cometeram ataques e atentados suicidas em áreas do norte do país anteriormente consideradas tranquilas. Em seus esforços para atrair os talibãs à corrente democrática, Karzai deverá se entender com a nova Câmara saída das urnas, depois de a anterior ter bloqueado a nomeação de alguns ministros.