Sakineh participa de documentário exibido por TV iraniana; ex-advogado diz
que mulher condenada ao apedrejamento ajudou a matar o marido
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Sakineh Mohammadi Ashtiani, a mulher iraniana condenada a apedrejamento por suposto adultério e assassinato, ajudou a preparar a morte do marido e sofreu durante anos com as agressões do companheiro, segundo a versão de seu ex-advogado, Mohammad Mostafaei.
Mostafaei, que está na Noruega desde que fugiu do Irã, em julho, declarou ao jornal britânico The Times que sua cliente está "em uma situação muito difícil" e disse temer que sua execução seja iminente.
- Antes de executar alguém, (as autoridades iranianas) mostram-nas na televisão estatal para que falem de seus crimes e condenem a si próprias.
O ex-defensor da iraniana faz referência ao fato de Sakineh ter sido supostamente obrigada a recriar o assassinato de seu marido em um documentário para a TV. Violando o sigilo de sua cliente, Mostafaei explicou ao The Times que a mulher contou que vinha de uma família pobre da cidade de Osku, e que seu pai a tinha obrigado a se casar com Ebrahim Ghaderzadeh, que desde o princípio "a tratou brutalmente".
Sempre de acordo com o ex-advogado, Sakineh "deu dois filhos ao marido com a esperança de amenizar seu comportamento, mas ocorreu exatamente o contrário". Mostafaei diz que Ghaderzadeh abusou física e verbalmente da mulher, não a deixava visitar seus próprios parentes e lhe negou o divórcio.
A mulher também relatou ao advogado que seu marido havia se viciado em heroína e que tinha proposto que ela se prostituísse para pagar a droga. Em 2004, um homem a estuprou em sua casa com a aprovação do marido, segundo Sakineh teria contado entre soluços.
De acordo com o ex-advogado, único "aliado" da iraniana era um parente solteiro de seu marido chamado Issa Taheri, que aproveitou a situação oferecendo sua simpatia para ganhar o afeto da mulher.
Quando Ghaderzadeh proibiu Taheri de pisar em sua casa, ele disse a Sakineh que queria matá-lo. Ela resistiu, mas o parente insistiu e a convenceu dizendo que tudo o que tinha que fazer era aplicar uma injeção para que o marido perdesse a consciência.
De acordo com Mostafaei, isso foi o que aconteceu em 14 de setembro de 2005, enquanto os filhos da mulher estavam fora de casa. Após a aplicação da droga, Taheri eletrocutou o marido inconsciente. Sakineh informou as autoridades sobre a morte, mas disse que havia sido um suicídio.
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Segundo Mostafaei, sua cliente é uma mulher humilde que sofreu muito e é facilmente manipulável.
O sistema penal iraniano permite que Taheri esteja livre - graças ao perdão dos filhos da vítima -, enquanto Sakineh corre o risco de ser executada. A mulher foi declarada culpada de cumplicidade e condenada a dez anos de prisão. Ao mesmo tempo, foi sentenciada por relações ilícitas com um homem e recebeu 99 chibatadas. Mais tarde, foi condenada à morte por apedrejamento por adultério.O suposto assassino, por não ser casado, recebeu apenas chibatadas.
Segundo Mostafaei, os tribunais e a mídia controlados pelo Estado não levaram em conta as circunstâncias atenuantes do episódio e, de acordo com o ex-advogado, o regime "ressuscitou" a acusação de assassinato para justificar a execução, apesar de Sakineh ter sido julgada há cinco anos pela morte do marido.