Professores despreparados para o método adotado no país comprometem desempenho na educação

08/12/2010 06:40 - Brasil/Mundo
Por Redação

O desempenho brasileiro abaixo da média no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) passa por um ciclo vicioso em que o sistema educacional adotado no país - o construtivismo - não funciona porque os professores estão despreparados para aplicá-lo com eficiência. É base do construtivismo que professores trabalhem como tutores e ensinem os alunos a 'construírem', organizarem e controlarem o seu conhecimento. Sem o preparo adequado, quem deveria ser o condutor do aprendizado pode tirá-lo dos trilhos.

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Para Cláudio Gomide, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a desvalorização social do papel do professor reflete em profissionais sem formação inicial e continuada. "Sem um regime de trabalho justo e plano de carreira é impossível que uma instituição mantenha um corpo docente de qualidade apto à função de ensinar”, diz. “Optar por um modelo democrático construtivista requer professores preparados e essa é justamente a carência do Brasil”, afirma Neide Noffs, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Faculdade de Educação da PUC-SP. A especialista ainda completa: “É preciso que existam propostas pedagógicas adequadas a cada região. O Brasil é muito grande e não é possível abordar a educação de um ponto de vista único em todos os estados”.

Embora a posição do Brasil no ranking do Pisa seja insatisfatória, os números indicam uma pequena evolução, se comparados aos dados de 2006. Noffs associa essa melhora a algumas mudanças de legislação que ocorreram nos últimos anos. Ela cita, por exemplo, a recente obrigatoriedade na apresentação de planos curriculares na rede pública municipal. “A fiscalização melhorou, mas é preciso que o país acompanhe de perto essas medidas operacionais”, lembra.

Para Gomide, o tímido aperfeiçoamento está vinculado ao crescimento da inclusão educacional no Brasil. “Mais crianças começaram a frequentar a escola e isso melhora o desempenho de modo geral, mas não é suficiente para elevar o nível do setor”, pondera. “Ainda sofremos com a falta de acesso à informação e com o total desconhecimento dos valores que movem cada aluno”, ressalta o especialista ao citar as razões pelas quais os brasileiros são tão mal avaliados em exames internacionais.

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Problema invisível – Segundo o relatório do Pisa, com base na opinião de escolas brasileiras, o uso de álcool e drogas ilícitas, aliado a prática do bullying - palavra inglesa usada para designar o ato de intimidar e atormentar –, é o que mais compromete o rendimento dos alunos brasileiros. O problema é velho conhecido de países ricos, como Estados Unidos e Grã-Bretanha, mas parece comprometer mais a educação por aqui do que em nações desenvolvidas.

De acordo com os especialistas, há motivos de sobra para tais fatores influenciarem o setor no Brasil. “Faltam psicólogos nas escolas que possam ajudar os alunos e a sociedade a enfrentarem esses problemas. Hoje todas essas questões ficam nos ombros dos professores, que se dividem entre vários colégios para conseguir renda”, lembra Gomide. Noffs concorda com o acadêmico e complementa: “As medidas de penalização em outros países são mais severas. Nos EUA, por exemplo, um aluno de oito anos pode ser preso se for flagrado praticando o bullying. Aqui a gente simplesmente finge que isso não acontece.”

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