EUA pressionaram governo russo a favor de Visa e MasterCard, revela WikiLeaks

08/12/2010 15:57 - Negócios
Por Redação

Documentos vazados pelo WikiLeaks revelam que os EUA pressionaram a Rússia em nome das operadoras de cartão de crédito Visa e Mastercard buscando protegê-las de leis desfavoráveis, informa o jornal "The Guardian", nesta quarta-feira.

Um telegrama divulgado pelo site que já divulgou mais de 250 mil documentos do Departamento de Estado dos EUA mostra que diplomatas americanos pressionaram a Rússia para alterar um projeto de lei que tramitava no Congresso russo. Segundo o "Guardian", o objetivo explícito era evitar que as normas viessem a prejudicar as duas empresas americanas.

No começo do ano, o governo russo apresentou uma proposta de criar um novo sistema de pagamento de cartões que aplicaria taxas sobre as transações domésticas.

O projeto previa a criação de um consórcio de bancos, sob a tutela do Estado, que passaria a administrar as taxas de transações de cartões de crédito no país, coletando até "US$ 4 bilhões por ano", indica o telegrama.

Além disso, o "Guardian" indica que a legislação proibiria o envio de dados das operadoras ao exterior, o que impactaria diretamente a Visa e a MasterCard.

De acordo com o diário britânico um telegrama emitido ainda no dia 1º de fevereiro de 2010 pelo diplomata Matthias Mitman, especializado em assuntos econômicos e baseado na Embaixada dos EUA em Moscou, pede que a administração Obama dê atenção específica ao assunto, alertando para as prováveis perdas que a Visa e a MasterCard --ambas corporações americanas-- poderiam sofrer com a nova legislação.

Informações adiantadas pelo diplomata a Washington explicavam ainda que as duas operadoras americanas seriam prejudicadas mesmo que não se integrassem ao novo sistema. Caso se alinhassem às novas regras, pagariam taxas "abusivas" e se não aderissem, teriam que criar centros de processamento de pagamento em território russo -- um investimento gigantesco.

Segundo o arquivo, o presidente Obama aceitou o pedido de formar uma comissão bilateral com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, a respeito do assunto.

ATAQUES

O telegrama vem à tona no mesmo dia em que hackers lançaram ataques contra a Visa e a MasterCard, em retaliação à suspensão das operadoras das transações direcionadas ao WikiLeaks.

Em apoio a Julian Assange, criador do WikiLeaks preso nesta terça-feira (7) em Londres (Reino Unido), hackers atacaram ainda os sites dos "inimigos" da Procuradoria-Geral da Suécia, do advogado que defende as duas supostas vítimas de assédio sexual e estupro e do banco suíço PostFinance.

As ações dos ativistas envolvem um "ataque distribuído de negação de serviço" --um método praticado por hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar. Conhecido como DDoS (um acrônimo em inglês para Distributed Denial of Service), o ataque é uma tentativa de tornar os recursos de um sistema indisponíveis através de sobrecarga.

Um computador mestre tem sob seu comando até milhares de outras máquinas, preparadas para acessar um site em uma mesma hora de uma mesma data. Como servidores web possuem um número limitado de usuários que pode atender simultaneamente, o grande e repentino número de requisições de acesso esgota o atendimento.

Per Hellqvist, um especialista em segurança da Symantec, gigante internacional do setor, disse que uma rede de ativistas da web chamada "Anonymous" ("Anônima") pode estar por trás dos ataques.

O grupo, que tinha como tradicionais "inimigos" a Igreja da Cientologia e a indústria musical, já tinha declarado que sairia em defesa de Assange e tiraria do ar sites que fosse contra o WikiLeaks.

"Embora não tenhamos muito em afiliação com o WikiLeaks, nós lutamos pelas mesmas razões", disse o grupo, em comunicado em seu site. "Nós queremos transparência e nós encontramos censura. Isto é o motivo de querermos utilizar nossos recursos para levantar alerta, atacar aqueles contra e apoiar aqueles que ajudam a levar nosso mundo para liberdade e democracia".

O comunicado não detalhe que sites estão sendo atacados ou serão alvos do grupo, embora ativistas no Twitter e outros fóruns comemorem cada site atacado.

O site da MasterCard, que já anunciou que não receberá mais doações ao WikiLeaks, estava fora do ar ou enfrentando grande lentidão nesta quarta-feira. A companhia disse que experimentava "tráfego pesado", mas não deu mais detalhes.

Já o site do advogado sueco Claes Borgstrom, que representa as duas mulheres que acusam Assange de crimes sexuais, estava inacessível.

O portal do banco suíço PostFinance, que fechou a conta de Assange na segunda-feira (6), também enfrentava problemas. O porta-voz, Alex Josty, disse que o site enfrentava tráfego muito intenso, mas que parecia já ter melhorado.

"Ontem foi muito, muito difícil, mas as coisas melhoraram ao longo da noite", disse. "Mas ainda não voltamos ao normal".

Enquanto várias empresas cortaram seus laços com o site de vazamento em meio a intensa pressão do governo dos EUA --A Amazon.com, PayPal Inc., EveryDNS--, os esforços do governo francês para impedir a empresa Web OHV de hospedar o WikiLeaks falhou.

A empresa de serviços, que está entre aqueles que hospeda o site atual wikileaks.ch, apelou a dois tribunais por uma decisão sobre a legalidade de hospedar o WikiLeaks na França. O juiz disse nesta semana que não poderia decidir sobre o caso, altamente técnico, no curto prazo.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..