A descoberta de bactérias que vivem no arsênico, divulgada nesta quinta-feira (2) muda a forma como os cientistas definem os elementos que compõe a vida na Terra, de acordo com a Nasa (agência espacial dos EUA). Ed Weiler, diretor de missões científicas do órgão, diz que "a definição de vida foi expandida".

– À medida que nós procuramos sinais de vida no Sistema Solar, nós temos de pensar de modo mais abrangente, mais diverso, e considerar a vida de um modo como não conhecemos.

Felisa Wolfe-Simon, do Instituto de Astrobiologia da Nasa, em Menlo Park, na Califórnia, explica que "todas as formas de vida que conhecemos se compõem, principalmente, de seis elementos: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo".

– Nós encontramos uma bactéria que pode substituir o fósforo pelo arsênico.

Nas fotografias mostradas pela pesquisadora, as bactérias, chamadas GFAJ-1, têm o aspecto de feijões brancos. Elas foram encontradas no Lago Mono, na Califórnia.

A divulgação da pesquisa, durante uma entrevista coletiva, acabou com as expectativas sobre o assunto. A convocação da entrevista pela Nasa, que mencionava "uma descoberta de astrobiologia que impactará na busca de vida extraterrestre", tinha alimentado especulações de que a agência haveria achado vida no espaço.

Apesar não cumprir as expectativas, a astrobióloga Pamela Conrad, do Centro Goddard de Voo Espacial, qualificou o achado como "muito interessante". Segundo ela, a descoberta "significa que ainda não sabemos tudo o que precisamos sobre as condições essenciais para sustentar a vida".

– Em termos de vida extraterrestre, o arsênico talvez não seja um dos elementos essenciais, mas também pode ser que seja um entre tantos elementos que, sim, sustentam a vida.

A descoberta foi assunto de intensas especulações nos blogs tecnológicos, como Gawker e PC World, que falavam nos últimos dias sobre a possibilidade de a agência americana anunciar hoje que havia encontrado vida no espaço. A descoberta provocará mudanças nessa atividade de busca da Nasa, que até agora só procurou vida em planetas que continham os elementos até hoje considerados imprescindíveis para a existência de qualquer ser.

Segundo a pesquisadora da Nasa, a descoberta permite se pensar que outros elementos químicos poderiam propiciar a vida, não se limitando portanto aos já determinados - carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo.

– Apesar de esses seis elementos formarem os ácidos nucleicos, as proteínas e os lipídios e, portanto, a maior parte da matéria viva, é possível, teoricamente, que alguns outros elementos da tabela periódica possam cumprir as mesmas funções.

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O arsênico é tóxico para os organismos vivos - pelo menos os conhecidos até agora - porque prejudica os processos metabólicos. Os cientistas já tinham encontrado antes outros organismos que podiam alterar quimicamente o arsênico. Esses organismos se vincularam ao envenenamento de água subterrânea em Bangladesh e outras partes da Ásia, onde a população recorreu à água de poços ou mananciais para evitar a contaminação de cólera.

Os pesquisadores da Nasa cultivaram a bactéria, que cresce e se multiplica confortavelmente no meio tóxico, em laboratório e substituiu gradualmente o sal de fosfato por arsênico. O processo continuou até que as bactérias crescessem sem necessidade de fosfato, um elemento essencial na construção de várias macromoléculas presentes em todas as células.

Os cientistas acompanharam de perto o efeito do arsênico na bactéria, desde a ingestão do químico até sua incorporação em vários componentes celulares. Dessa forma, determinaram que o arsênico tinha substituído completamente o fósforo nas moléculas da bactéria até seu próprio DNA.