Após a polêmica envolvendo a não concessão por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos renováveis (Ibama) da licença para a construção do Estaleiro Eisa e a notícia de que o governador Teotônio Vilela conseguiu reverter ontem em Brasíla a situaçao ao conseguir a autorização para que o Instituto do Meio Ambiente (IMA) emita o laudo se criou uma histeria em torno da importância da obra.

Mas, segundo o professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles o empreendimento não pode ser visto como “salvador”da pátria", citando como exemplo a Brasken, que tem feito um investimento de 1 bilhão de dólares por ano, mas que mesmo assim não resolveu por completo o problema do desemprego no Estado.

"O estaleiro é uma obra volumosa, por conta do dinheiro que será aplicado. No entanto, temos que distinguir o projeto da implantação real, como aconteceu com a mineradora Vale Verde, em Craíbas. Não perdemos o empreendimento porque ele nem veio para Alagoas. Em Pernambuco, que já possui um estaleiro existe mais mão-de-obra qualificada e toda uma estrutura em Suape, que é um pólo industrial há mais de 30 anos e por isso atrai empresas. Nosso Estado não tem dinheiro para oferecer infra-estrutura como contrapartida, por isso sofremos com a falta de indústrias", destacou.

Péricles lembrou que toda obra física precisa de um relatório de impacto ambiental, afirmando que a licença para a construção do estaleiro pode não ter sido concedida devido a falhas no projeto. "Empreendimentos assim implicam prejuízos para a natureza, não que esse seja o caso do Eisa. O Ibama não é uma órgão local, por isso não acredito em conspiração. Isso já aconteceu com a Petrobrás, inclusive por parte do IMA", lembrou o economista.

Sobre a importância do empreendimento para a região sul do Estado, em termos de geração de empregos, o economista ressaltou que a instalação do estaleiro praticamente  criaria um comércio paralela nas imediações. "É claro que nesse quesito o impacto em Coruripe seria positivo, já que a obra prevê 8 mil empregos diretos e indiretos, gerando uma dinâmica na economia local", reforçou.

Questionado sobre o atraso histórico no desenvolvimento da economia alagoana, o professor lembrou que isso ainda é sentido atualmente por conta do sistema escravista que vigorou em Alagoas. Péricles reafirmou que é preciso mais que um estaleiro para mudar a situação econômica do Estado, que segundo ele, precisa de mais empresas pequenas para absorver a mão de obra não tão qualificada.

"Nossas raízes sociais e políticas vêm de uma pequena e concentrada forma de economia, onde a maioria das pessoas não tinha renda fixa. Com a cana-de-açúcar o modelo de produção era voltado para a exportação e os habitantes do Estados ficavam excluídos. Não fizemos reforma agrária e ainda possuímos os menores indicadores sociais. Mais da metade da população recebe o Bolsa Família, por isso acho que o estaleiro não faria nenhum milagre", ressaltou

Veja esse vídeo:Trabalhadores do estaleiro Eisa, na Ilha do Governador, contam como se tornaram empregados do setor naval.