Releitura de "Gosto de Sangue" (1985), dos irmãos Coen, "Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão", do chinês Zhang Yimou, é daqueles filmes que ficam melhores quanto mais se pensa neles. É um dos destaques da programação de hoje na Mostra de São Paulo 2010.

"Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão" nasceu de uma série de coincindências. Yimou havia visto o filme pela primeira vez no Festival de Cannes. E sem legendas, o que tornou a experiência ainda mais intrigante, segundo o próprio diretor contou no 60º Festival de Berlim, em fevereiro. "Eu fiquei muito impressionado com tudo o que acontecia, aquela sucessão de eventos", disse ele. "E o filme não saía da minha cabeça."

Anos depois, Yimou conseguiu rever "Gosto de Sangue", desta vez com legendas que ajudaram a explicar o labirinto narrativo e cheio de reviravoltas criado pelos irmãos Coen. Com as lacunas preenchidas, ele teve a ideia de recriar a história, ambientando-a na China. "Embora goste muito dos filmes deles, eu nunca os encontrei pessoalmente, nem havia conversado longamente com eles, a não ser em ocasiões como festivais ou grandes eventos", explicou o diretor, durante o festival alemão. "E quando quis comprar os direitos de adaptação, eles me mandaram um e-mail dizendo que se sentiam honrados. Fiquei muito feliz com isso."

Com título inspirado em uma declaração de Jean-Luc Godard, estética de uma antiga ópera chinesa e formato de uma comédia de erros, "Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão" mostra o que acontece em um pequeno povoado encravado no deserto quando o dono de um restaurante de sopa de macarrão descobre que está sendo traído pela jovem mulher com um de seus funcionários. Ao mesmo tempo em que ela planeja matá-lo, ele contrata um dos soldados da guarda imperial para eliminar o casal adúltero. O resultado é um filme sombrio e inteligente que homenageia não apenas o cinema dos irmãos Coen, mas o cinema narrativo de uma forma mais ampla.

A versão exibida em Berlim e na Mostra de São Paulo é mais enxuta do que a lançada no mercado chinês . "Havia muitas piadas locais, que ficariam deslocadas e passariam despercebidas para uma platéia estrangeira", explicou ele, por ocasião do Festival de Berlim. "O meu distribuidor sugeriu que cortássemos essas passagens e eu achei que seria uma boa medida. Isso atrapalharia o ritmo do filme."