O imenso globo de vidro chega até o teto, na edificação de pé direito altíssimo. Dentro do globo, há 276 mil recipientes de vidro, fechados e de diversos tamanhos. Em suas prateleiras estão armazenados vermes, aranhas, caranguejos, caracóis, peixes, lagartos e sapos – todos colecionados desde o ano de 1770 até hoje, desnaturados e conservados em uma solução com 70% de álcool.
Colecionar para pesquisar
Pois no álcool, explica Reinhold Leinfelder, diretor-geral do Museu, é possível conservar os tecidos e o DNA, o que, segundo ele, é especialmente importante para a pesquisa. A coleção completa de seres mergulhados no álcool, intitulada "Coleção Embebida", só pode ser observada na nova e reaberta ala leste do Museu, cujo acesso foi pela primeira vez liberado para o público. "Queremos mostrar com isso que essas coleções são muito importantes para as pesquisas", completa Leinfelder.
Todos os objetos ali expostos são importantes do ponto de vista científico, não importando desde quando estão ali, pois, no âmbito das pesquisas, estão sempre surgindo questões novas. Ninguém que tenha embebido peixes em uma solução de álcool, há 200 anos atrás, poderia imaginar, por exemplo, que outra pessoa iria, algum dia, fazer exames de DNA nos mesmos.
Tradicionais e modernos
O Museu de História Natural, em Berlim, tornou-se há um ano membro da Sociedade Leibniz, através da qual trabalham ali regularmente 100 cientistas. Eles pesquisam a evolução da terra e da vida, as mudanças ambientais, a constituição do nosso planeta e também como esse tipo de saber é levado até a sociedade – tudo na melhor tradição herdada dos irmãos Wilhelm e Alexander von Humboldt, os fundadores, há 200 anos, do Museu de História Natural.
Principalmente Wilhelm von Humboldt defendia um conceito muito moderno. Ele, que foi praticamente o fundador da Universidade berlinense, dizia que só é possível educar através da pesquisa. E para a pesquisa, no campo das Ciências Naturais, são necessárias coleções", diz Leinfelder. Diante disso, Wilhelm von Humboldt acabou convencendo o rei prussiano de entregar sua coleção própria, uma espécie de gabinete de raridades. Em cooperação com coleções especiais e privadas, eles criaram então a base do Museu hoje existente.
Aventureiros e pioneiros
Uma exposição atual, no andar térreo da imponente edificação onde o Museu de História Natural funciona desde 1989, conta este e outros detalhes da história do Museu. Ali pode-se aprender sobre destemidos pesquisadores, que se puseram a caminho dos mais longínquos lugares e trouxeram de volta tudo o que, de alguma forma, podia ser conservado, além de cadernetas de anotação, amostras de terra, besouros, peixes, pássaros e até mesmo pedaços de carapaça de fósseis de tatu. Uma armação tão alta quanto o teto é decorada com chifres e pele de antílope, trazidos das ex-colônias alemãs na África como troféus por ávidos caçadores.
É claro que a história das coleçõess está intimamente ligada aos variados contextos políticos, diz Ferdinand Damaschun, responsável pela exposição. Nos tempos da Alemanha Oriental, por exemplo, as viagens dos cientistas eram limitadas. Eles tinham permissão para ir até a Mongólia, esporadicamente a Cuba e era isso. "Ou seja, naquele tempo, os pesquisadores concentravam-se mais no que já tinham ali", conta Damaschun.
Do mundo todo a Berlim
Para os cientistas, havia material mais que suficiente, pois o Museu de História Natural havia, há muito, se transformado em um rico e abarrotado arquivo de histórias sobre a terra e a vida, graças às expedições, doações e compras no decorrer dos anos. Somente depois da famosa expedição Tendaguru, rumo à região onde fica hoje a Tanzânia, na África, os pesquisadores levaram para Berlim nada menos que 250 toneladas de fósseis de dinossauros.
A maioria dos tesouros sobreviveram ilesos à Segunda Guerra Mundial; apenas a ala leste do Museu, com seus salões para insetos e mamíferos, foi destruída por uma bomba no ano de 1945. Os espaços restantes do prédio foram sendo reformados até os anos 1980 e rearranjados para o acesso público. A ala leste, contudo, só foi reconstruída agora, 20 anos após a queda do Muro.