Brasil, 2010. Produção de Carlos Diegues. Direção de Cacau Amaral, Cadu Barcelos, Luciana Bezerra, Manaira Carneiro, Rodrigo Felha, Wagner Novais, Luciano Vidigal. Com Zozimo Bulbul, Hugo Carvana, Flavio Bauraqui, Edyr de Castro, Ruy Guerra, Dandara Guerra, Silvio Guindane, Thiago Martins.

Perca seus preconceitos com os sucessivos filmes de favela e assista à este, que é muito parecido e totalmente diferente dos outros. Na verdade, eu mergulhei inteiramente no filme (cuidado com o trailer, que não faz jus a sua qualidade). Ri, me interessei pelos personagens, admirei várias soluções e sai perfeitamente convencido de que há uma nova geração de cineastas promissores, que superara as dificuldades e diferenças sociais.

Houve momentos em que o filme me fez recordar muito os trabalhos de Vittorio De Sica, o poeta do neo-realismo, que trabalhava de forma parecida: com gente do povo, misturando amadores e profissionais, contando histórias humanas e com sabor de realidade, mas sem nunca perder a paixão, o humor e a crítica social. Tudo isso presente no melhor do neo-realismo e agora também neste projeto.

É preciso elogiar o trabalho de Carlos Diegues (junto com a esposa Renata Almeida Magalhães), que já conhecia o pessoal das comunidades (fez, inclusive, Orfeu por lá) e que soube gerar e administrar o projeto (com a ajuda de alguns amigos famosos que fazem pequenos papéis, em particular uma ponta muito simpática de Ruy Guerra).

Foto: Divulgação/Sony Pictures Entertainment/RioFilme

Principal vencedor do recente III Festival de Paulínia, com sete prêmios, o filme mostra a favela pelo ponto de vista daqueles que moram e agem por lá, ao contrário do Cinco Vezes Favela (que foi um filme produzido pelo CPC em 1962 e que foi o primeiro filme do chamado Cinema Novo, reunindo os diretores Miguel Borges, Cacá, Marcos Farias, Leon Hirzman e Joaquim Pedro de Andrade, que já havia realizado o curta premiado Couro de Gato, que foi agregado ao filme).

Embora hoje o filme tenha problemas visíveis (o maior deles, repetido depois por outros trabalhos, é uma visão externa de intelectual denunciando o que ele acha que existe de errado na comunidade).

Este novo filme é quase a resposta a essa crítica, feita por quem sabe e não tem problemas em morar na comunidade, de serem pobres e mesmo assim são felizes. É verdade que num filme em episódios, há os que têm maior ou menor comunicação com a plateia. E realmente deve ter sido um problema resolver o que vem antes ou depois. O importante é que todos tem qualidade.

Foto: Divulgação/Sony Pictures Entertainment/RioFilme

Fonte de Renda é uma historia irônica que reflete a maneira de pensar da comunidade em particular na conclusão. O experiente Silvio Guindane faz o rapaz da favela que consegue a chance de entrar para uma Faculdade de Direito. Mas para poder pagar as contas e ir adiante, é obrigado a passar drogas entre os colegas. Uma história que é também neo-realista por excelência.

Foto: Divulgação/Sony Pictures Entertainment/RioFilme

Arroz com Feijão é a aventura de dois garotos que tentam comprar ou conseguir um frango que deve servir para comemorar o aniversario do pai. É provavelmente o melhor filme da coletânea, uma comédia criativa com grandes sacadas e muito riso.

 

Concerto para Violino é o mais dramático e o mais difícil de resumir. Tem um policial que tinha uma dupla de amigos, um casal e cada um deles toma um caminho diferente na vida. É o mais violento e poético. Mas deixa um gosto amargo na gente.

 

Deixa Voar é bem simpático, um garotão que perdeu uma pipa ou papagaio que foi parar num bairro dominado por uma turma rival e inimiga, e onde também mora sua paquera da escola.

 

E, finalmente, o último Acende a Luz é o mais comédia “a lá italiana” de todos (quando forço a semelhança não é crítica ao contrário, só demonstrar o que sempre se soube, que o povo brasileiro e italiano são muito parecidos). Na véspera de Natal, quando se prepara uma comemoração tradicional falta luz na favela! E tudo termina para cima, com alegria e emoção.

Em suma, para mim, até agora o melhor filme do ano. Tomara que o público o prestigie.