“Morre o rei vesgo da selva brasileira”. Esse foi o título da chamada de primeira página do Le Monde, o influente jornal francês, noticiando há 72 anos a morte de Lampião – que foi o mais importante chefe de cangaceiros que atuaram no Sertão nordestino entre o final do século 19 e meados do século 20.

Há 72 anos, completados na última quarta-feira, 28, a polícia alagoana finalmente conseguiu cercar e abater Lampião e mais onze comparsas, que estavam bivacados em Angico, o esconderijo que o cangaceiro considerava inexpugnável. A operação policial para matar Lampião contou com lances de sorte.

COMO FOI

O palco da cena final do chefe de cangaceiros foi a cidade de Piranhas, às margens do Rio São Francisco, no alto sertão alagoano. O relato é do ex-prefeito e acadêmico de História, Inácio Loiola, neto do telegrafista da Rede Ferroviária que passou o telegrama para o tenente João Bezerra avisando-o da presença de Lampião na região.

- “Tudo começou com uma briga entre o Joca Bernardes, fabricante de queijo, e o coiteiro de Lampião conhecido como Pedro de Cândido”– conta Inácio, que repete os relatos que ouvia do avô, o ferroviário Valdemar Damasceno.

Pedro de Cândido apareceu na casa de Joca Bernardes e levou à força todo o estoque de queijo que ele tinha, e que se destinava a uma encomenda de um cliente em Pão de Açúcar. Revoltado, Bernardes procurou o sargento Aniceto e disse que Pedro de Cândido tinha levado os queijos para Lampião.

- “Todo mundo já desconfiava que Pedro de Cânido era coiteiro de Lampião. Como o Pedro não negociava com queijo, o Joca Bernardes concluiu que o queijo que ele levou só poderia ser para abastecer os cangaceiros. E estava certo” – completou Inácio.

O CERCO

O tenente João Bezerra tinha saído numa diligência para Delmiro Gouveia, depois de ter sido informado de que Lampião estava em Paulo Afonso, na divisa com Alagoas. Com a informação de Bernardes, o sargento Aniceto pediu ao telegrafista Valdemar Dasmasceno para passar o telegrama endereçado ao tenente Bezerra, em Delmiro.

- “O teor do telegrama foi esse: tem boi no pasto. Era um código e o tenente Bezerra logo entendeu e retornou a Piranhas” – conta Inácio.

Depois de prender Pedro de Cândido, o tenente Bezerra o obrigou a levar a polícia até o esconderijo de Lampião. A toca onde Lampião estava arranchado ficava na fazenda Angico, de propriedade da família de Pedro de Cândido, localizada no município sergipano de Poço Redondo.

Numa manhã de terça-feira, 28 de julho de 1938, a polícia alagoana cercou o esconderijo. Dividida em três colunas, a polícia atacou o cangaceiro de surpresa. Além de Lampião, também morreram a mulher dele, Maria Bonita, o compadre Luiz Pedro e mais nove cangaceiros.

Terminava assim a história do mais temido chefe de cangaceiros. Lampião nasceu em Pernambuco, se tornou cangaceiro em Alagoas e morreu em Sergipe. Mas, quem morreu foi o homem, porque o mito permanece vivo e ainda atrai centenas de curiosos em verdadeira romaria ao local onde tombou mortalmente ferido. A grota do Angico virou verdadeiro santuário e tem até direito a celebrações religiosas.