Mas antes de qualquer coisa, o que seria exatamente uma constelação? Bom, não existe nenhuma regra ou lei específica que defina o que é uma constelação, nem quais propriedades ela precisa ter para poder ser considerada como tal.
Talvez, poderíamos definir uma constelação como um conjunto de estrelas visíveis a olho nu, a partir da superfície da Terra. Essa definição também englobaria a palavra asterismo, mas em geral podemos dizer que asterismos são pequenos conjuntos, e constelações conjuntos maiores.
Naturalmente, ao olharmos para o céu, temos a tendência de agrupar as estrelas, seja por seus brilhos, suas cores e, principalmente, por suas posições relativas. Conjuntos de estrelas mais brilhantes, próximas entre si, às vezes com cores diferentes das demais, saltam aos olhos quando prestamos atenção no céu.
E assim como aquela brincadeira de criança chamada “liga-pontos” - na qual a criança traça com um lápis linhas que unem pontos aparentemente aleatórios, para assim formarem um desenho que tenha algum significado -, também nos é natural imaginar, a partir dos “pontos aparentemente aleatórios” no céu, desenhos que nos tenham algum significado.
Foi assim que, ao longo dos séculos, diversos povos espalhados pelo planeta, passaram a imaginar desenhos na esfera celeste, a partir dessa brincadeira de “liga-pontos” com as estrelas.
No céu que podemos ver a partir da superfície de nosso planeta - no qual existem cerca de 9 mil estrelas visíveis a olho nu – existem muitos conjuntos de estrelas aos quais diferentes povos associaram imagens que lhes faziam sentido (imagens de animais, heróis, divindades, instrumentos, etc).
E claro que as estrelas mais brilhantes, bem como as de cores mais diferenciadas, acabaram por sempre terem “papel de destaque” nas constelações imaginadas pelos diferentes povos.
Por isso, há várias regiões do céu onde determinados povos viam/vêem certos desenhos, enquanto que outros povos viam/vêem outros desenhos completamente distintos, mesmo que às vezes o grupo de estrelas seja exatamente o mesmo. Uma das ciências que se preocupa em estudar essas diferentes concepções do céu é a chamada Etnoastronomia.
Bom, mas essa “brincadeira” de ficar olhando para o céu, tentando imaginar desenhos a partir das estrelas, tem uma grande utilidade para os astrônomos.
O que ocorre é que as estrelas aparentemente não mudam suas posições relativas. Ou seja, se hoje você olhou pro céu e identificou lá uma constelação, pode ter certeza que amanhã ela estará lá de novo! Formada pelas mesmas estrelas, com os mesmos brilhos e cores, posicionadas entre si da mesma maneira (o horário em que ela aparece muda um pouquinho, como iremos discutir numa próxima semana...).
Na verdade, as estrelas mudam suas posições relativas, mas isso demora muitos e muitos milhares de anos para acontecer. Por isso, fique tranquilo, porque as constelações que você inventar hoje, certamente poderão ser mostradas por você para os seus netos! =)
E bom, já que as estrelas não mudam de posição – só o fazem em milhares de anos -, podemos usá-las como referências para identificar objetos no céu. Por exemplo, posso dizer que hoje a Lua está na direção da constelação da Bola de Futebol. Amanhã, veríamos que a Lua não está mais na direção dessa constelação, e então chegaríamos à conclusão que a Lua se moveu entre as estrelas.
Ou então um astrônomo poderia falar que acaba de descobrir uma nova galáxia na direção dessa tal constelação da Bola de Futebol. Daí quem souber onde está essa constelação, saberá para onde olhar se quiser observar a mesma galáxia.
Bem, acho que deu pra perceber, com este exemplo, que há um problema chave nessa história: se você quiser usar as constelações como uma referência para localizar objetos no céu, tem que definir um padrão de constelações! Você, por exemplo, caro leitor, saberia onde fica a constelação de Bola de Futebol?! Eu sei onde ela fica, porque fui eu quem a inventei... =)
Há cerca de 90 anos, a União Astronômica Internacional (IAU) resolveu convencionar a existência de um padrão de 88 constelações, as quais poderiam então passar a ser usadas oficialmente de referência, por qualquer astrônomo profissional, para a identificação de objetos celestes.
As 88 constelações escolhidas são, em sua maioria, herança da cultura grego-romana antiga. Ou seja, refletem a maneira como esses povos enxergavam o céu a centenas de anos. Muitas histórias das mitologias grega e romana foram inventadas a partir dos personagens que foram sendo criados por esses povos no céu.
Como exemplo, temos a famosa história que relaciona o gigante caçador Orion e o Escorpião. Estas são duas constelações que se encontram em direções opostas no céu: quando uma nasce, a outra se põe, e vice-versa. Por causa disso, na mitologia esses dois personagens protagonizam uma história em que, no final, ambos passam a viver em uma eterna perseguição mútua.
Há também diversas constelações mais recentes, como algumas inventadas na época das grandes navegações. Exemplos são as constelações do Compasso, do Oitante, da Bússola.
Um detalhe importante de se falar é que, nessa convenção estabelecida pela IAU, houve a preocupação de dividir o céu inteiro em 88 partes. Assim, nenhum objeto do céu pode ficar fora de uma constelação. O que foi feito, na prática, foi uma divisão do céu num grande “quebra-cabeças” de 88 partes, que se encaixam perfeitamente, ocupando assim todo a esfera celeste.