Os amantes da natureza ou do sossego, apaixonados por trilhas ecológicas ou que, simplesmente, queiram abandonar, durante um fim de semana ou feriadão, o estresse da capital, podem desbravar paraísos pouco explorados, a exemplo da Cachoeira do Anel, localizada em um povoado do mesmo nome às margens do Rio Paraíba, na cidade de Viçosa, a 86 quilômetros de Maceió. A beleza das praias alagoanas difundida em meios de comunicação e revistas especializadas ofusca outros potenciais turísticos do interior do Estado, a exemplo das cachoeiras e rios pouco visitados.
O proprietário da Fazenda Baixa Funda e Pousada Natures Paradise, Eduardo Melo (Duda), diz que as belezas da fauna e da flora do local, cuja propriedade tem aproximadamente 70 hectares, tornou-se refúgio de famílias, casais e grupos de amigos dispostos a descansar ou fazer trilha ecológica, rapel e ciclismo. Duda ressalta que, com relação à prática do rapel, o espaço é alugado mas a pessoa interessada tem de vir por grupos credenciados que se responsabilizem pelo esporte. A pousada tem quatro quartos, sendo dois para casais, dois para solteiros e um chalé afastado, chamado Oásis Pedra de Jade.
Mas o ponto alto da aventura versus descanso é, sem dúvida, conhecer de perto a cachoeira, cujas águas caudalosas descem como um véu branco, tornando-se um espetáculo à parte. O visitante tem duas opções: ou descer pela parte alta, caminhando em média meio quilômetro, como se estivesse entrando em um fundo buraco até avistar o espetáculo da tão esperada cachoeira, ou driblando pedras gigantescas, água e cipós, caminhando em média três quilômetros.
A equipe de reportagem da Agência Alagoas aceitou o desafio e fez os dois percursos de acesso à cachoeira. Ou seja, desceu pela parte alta (por fora da fazenda), equilibrando-se em cipós para não derrapar nas pedras úmidas e cair no buraco gigantesco, que forma uma piscina natural das águas que descem da cachoeira. A comitiva retornou à fazenda pelo percurso mais longo e penoso, porém menos arriscado. A trilha requer preparo físico, atenção e equilíbrio, uma vez que um descuido pode provocar um acidente, considerando que o caminho é uma descida íngreme com barro escorregadio e pedras gigantes.
Atencioso, o responsável pela limpeza da fazenda e cunhado do dono, Antônio Santos, guiou a equipe, apontando os percursos menos perigosos e atento ao surgimento de possíveis cobras e insetos, uma vez que a trilha passa por dentro da selva cercada de espécies nativas da mata atlântica e flores tropicais de beleza rara. O lugar ainda não tem a infraestrutura necessária para a prática do turismo, mas o cenário pode ser explorado por curiosos que, previamente, façam contato com o proprietário da chácara, considerando que parte da beleza paradisíaca fica concentrada em área particular.
O lugar é aconchegante e familiar, mas desprovido de requinte e da modernidade dos grandes hotéis e pousadas. O visitante deve estar preparado para ter uma alimentação nutritiva, mas simples e natural, cujo cardápio é, na maioria das vezes, feito com os produtos extraídos daquela terra. No local, não é comercializada bebida alcoólica e, tampouco, permitido som de carro dos hóspedes. A palavra de ordem é respeitar o silêncio que impera naquele cenário, quebrado apenas pelo canto dos pássaros e sons dos animais da mata.
Entusiasmado, Duda Melo conta que, na década de 80, deixou sua cidade natal, o Rio de Janeiro, para ajudar ao pai na fazenda Baixa Funda, recanto de sua avó Maria Vitória de Melo, conhecida como Dona Sinhazinha. Ele diz que começou a surfar aos 12 anos e, por muito tempo, sobreviveu do esporte, confeccionando e vendendo pranchas. “Viajei o Nordeste inteiro, trabalhava seis meses e viajava mais seis. Cheguei em 1980 em Viçosa para ajudar ao meu pai Elói e há 15 anos casei com Maria José, com quem tenho dois filhos”.
Mãe-terra - Maria José é uma negra bonita e jovem que gosta de trabalhar na terra, a quem ela chama carinhosamente de mãe. “Sempre gostei de trabalhar na roça e agora mais ainda porque planto e colho para suprir a nossa família e a pousada”, disse a esposa de Duda. Visitantes do Brasil, a exemplo do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Goiânia, Sergipe e Pernambuco, bem como de outros países como a Itália, França, Alemanha e Suíça já conhecem esse paraíso natural de Viçosa.
De acordo com ela, alguns turistas, quando pagam a conta, já agendam visita para a próxima temporada. O ambiente chama a atenção pela simplicidade, higiene e preservação da natureza. Redes espalhadas entre as árvores e com vista privilegiada para a mata atlântica são um convite para descansar e estirar o corpo, sobretudo depois de longa caminhada pela mata. Durante a trilha, o aventureiro pode se deparar com cobras, insetos ou assustar as vacas, que insistem em ficar no caminho.
Para ir ao local e ter acesso às belezas naturais, o interessado precisa agendar a visita, previamente, com o dono da propriedade, por meio do telefone 9901-3054. O lema da pousada é Natureza e Esporte - O lado bom da vida. Vizinha à casa de Duda, mora sua mãe dona Maria Antonieta, também uma apaixonada pela natureza e que tem muitas histórias para contar sobre o velho engenho Baixa Funda, a Zona da Mata e região serrana dos quilombos.