Depondo como testemunha de acusação, o médico-legista do Instituto Médico Legal de São Paulo, Paulo Sérgio Tieppo Alves, disse ao juiz Maurício Fossen que Isabella Nardoni apresentava \'sinais evidentes de esganadura\' e que a garota estava com padrões vitais já comprometidos antes mesmo do crime que levou à sua morte. Ele foi o segundo a depor nesta terça-feira, segundo dia do julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, pai e madrasta da menina Isabella. O júri foi suspenso às 19h30m após o depoimento do perito baiano Luiz Eduardo Carvalho Dória, autor de livros sobre perícias criminais, que disse que seu trabalho foi distorcido por uma perita contratada pelos advogados que defenderam o casal Nardoni no início do caso.
Os réus deixaram o Fórum de Santana com destino a penitenciárias da capital onde passam a noite. Eles demonstravam cansaço e a Anna Carolina Jatobá quase cochilou no depoimento do perito baiano.
Nesta quarta-feira, os trabalhos foram retomados às 9h, com o depoimento da perita Rosângela Monteiro, do Instituto de Criminalística (IC), que assinou o relatório com a conclusão da perícia.
O depoimento de Paulo Sérgio Tieppo foi bastante contundente e com explicações estritamente técnicas. Tieppo disse que as lesões externas detectadas no corpo da garota (poucas escoriações) não eram compatíveis com o impacto de uma queda de 20 metros de altura. Ele, no entanto, disse que em relação a lesões internas havia um conjunto de características decorrentes de diferentes mecanismos de traumas. Para Alves, as agressões que a menina sofreu antes da cair do sexto andar foram mais decisivas que a própria queda.
Tieppo reiterou ainda a tese da acusação de que Isabella teria sido agredida pelo casal antes de chegar ao prédio onde a família morava. Segundo ele, o ferimento na testa provocado por um instrumento contundente e uma deformidade na cavidade oral, como detectado em exames elaborados por um médico odontolegista, não podem ser associados a eventual queda. Para o legista, o ferimento na cavidade oral indica que alguém evitou, à força, que ela gritasse.
- A parte interna da bochecha está compromida entre os dentes, o que indicaria que a asfixia foi uma tentativa de fazer com que a garota parasse de gritar.
Logo no primeiro contato com o corpo da vítima, verificamos sinais evidentes de asfixia. Havia uma discrepância entre uma queda e o que se via no cadáver. E essa discrepância deveria ser melhor analisada - disse Tieppo que, em seguida, pontuou características que indicam a possibilidade de Isabella ter sido esganada.
- Encontramos lesões relacionadas à asfixia mecânica, como congestão do pólo cefálico. Havia uma grande quantidade de sangue nos vasos da face e nas regiões do pescoço e do ouvido. A língua também estava parcialmente para fora e havia uma coloração azulada sob a unha da vítima - explicou o legista, ainda garantindo que encontrou sinais de vômito no pulmão da menina.
De forma didática, o médico ainda falou sobre a possibilidade de Isabella ter sofrido uma pequena queda, provavelmente ainda dentro do apartamento, antes de eventualmente ter sido jogada do sexto andar do edifício London.
- Essa vítima apresentou quatro diferentes lesões, as quais, cada uma delas, é encontrada quando se cai sentada, ou seja, se cai da sua própria altura. Apareceram manchas roxas nos pulmões, escoriação no punho, fratura no rádio, e lesões no períneo - disse ele.
A pedido do promotor Francisco Cembranelli, Tieppo apresentou algumas fotos do corpo de Isabella ao júri, formado por quatro mulheres e três homens. A avó da menina, Rosa Maria Oliveira, saiu do plenário neste momento. Pouco antes, de o médico ser sabatinado pelos advogados de defesa, ele também descartou a tese que vinha sendo defendida pelos primeiros advogados do casal Nardoni de que os sinais de asfixia poderia ter sido provocados pela equipe resgate que socorreu a menina.
- Essas lesões não têm associação com qualquer manobra de ressuscitação. Aliás, isso nem é comum de acontecer - disse.
O advogado do casal, Roberto Podval, perguntou ao perito por que não foi feita um exame sob as unhas de Isabella, se havia evidência de esganadura. Segundo o advogado, poderiam ter sido encontrados vestígios de pele de Anna Carolina Jatobá. O perito disse apenas que o exame não foi feito.
A delegada Renata Helena da Silva Pontes, responsável pelo inquérito policial que apurou a morte de Isabella Nardoni, 5 anos, foi a primeira a depor nesta terça e afirmou no Tribunal do Júri que fez todas as diligências necessárias para investigar o crime. Segundo a delegada, a cada nova diligência ela tinha mais certeza da culpa dos réus.Para ela, não havia tempo suficiente, de acordo com a sequência dos fatos, para uma terceira pessoa ter cometido o crime e fugido sem ser vista por alguém. Ela depôs por quatro horas.
- No inquérito, a cada dia, não teve um com retrocesso. Cada depoimento, diligência, informação do IML, ia dando embasamento para a autoria dos réus. Tive 100% de certeza, convicção absoluta da participação dos dois - afirmou.
Ao interrogar a delegada, o advogado Roberto Podval disse que a polícia fez um pré-julgamento do casal e eles foram tratados como assassinos desde o começo da investigação.
A delegada disse ainda que não havia na casa aos fundos do prédio nenhuma escada ou objeto que pudesse facilitar a entrada de um estranho ao edifício.
O promotor também fez perguntas sobre a experiência profissional da delegada, que atua no cargo há 13 anos e já visitou 136 locais de crime, e citou um elogio que ela e a equipe de técnicos receberam em decorrência das investigações do caso.
O juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri, que preside o julgamento, determinou que Alexandre e Anna Carolina Jatobá não se falem, nem mesmo durante os intervalos do julgamento.
O segundo dia de julgamento do casal começou com uma hora de atraso por causa da montagem da maquete utilizada pelo promotor Francisco Cembranelli para que os jurados visualizassem o prédio e o apartamento do casal.