A melhora das vendas de carros de luxo no quarto trimestre ajudou tanto a BMW quanto a Volkswagen a anunciarem resultados anuais positivos para 2009 nesta semana. Mas, a Volks continua a enfrentar problemas para a venda de seus modelos de preço mais baixo.

A BMW anunciou que sua divisão de automóveis havia saído do vermelho no quarto trimestre, com a estabilização das vendas em marcados estabelecidos e o crescimento em países emergentes como o Brasil e a China. A forte demanda pelos modelos de mais alto preço, como os da Série 7, contribuiu para o resultado positivo.

A BMW superou as expectativas em termos de resultados anuais, a despeito de uma queda de lucros de 36%, para 210 milhões de euros (US$ 286 milhões). Analistas pesquisados pela agência de notícias Reuters haviam previsto em média um lucro de 174 milhões de euros. O faturamento total caiu em 4,7 por cento, para 50,7 bilhões de euros.

A Volkswagen também registrou lucro anual, e recorde de vendas, confirmando números divulgados alguns dias atrás. Mas, uma observação mais detalhada revela que sua divisão de carros de luxo, a Audi, respondeu por quase todo o lucro operacional de 1,9 bilhão de euros da montadora, valor 71% mais baixo que o de 2008.

A Audi reportou na semana passada lucro operacional de 1,6 bilhão de euros, o que significa que as marcas mais populares da Volkswagen, como a Skoda, na República Tcheca, e a Seat, na Espanha, além da VW em si, mal conseguiram ficar acima do vermelho, de acordo com Ferdinand Dudenhöffer, diretor do Centro de Pesquisa Automotiva da Universidade de Duisburg-Essen, Alemanha.

"O lucro do grupo Volkswagen se baseia quase inteiramente na força da Audi", escreveu Dudenhöffer. "As marcas mais populares do grupo estão a caminho de novos problemas de custos".

Os resultados da Volkswagen foram especialmente incômodos porque a empresa, sediada em Wolfsburg, na Alemanha, vinha sendo vista como uma das mais saudáveis do setor, com participações consideráveis em mercados crescentes e uma ampla carteira de produtos, que inclui 75 modelos novos ou melhorados apenas no ano passado.

"Entre as montadoras europeias de automóveis, a Volkswagen certamente tem o melhor posicionamento, em termos mundiais", disse Georg Stürzer, analista do UniCredit, em Munique.

Incluídas todas as suas marcas, a Volkswagen vendeu cerca de 6,3 milhões de automóveis e caminhões em 2009, um avanço de 1,3%. Mas, as vendas caíram em termos de valor. O faturamento da empresa caiu em 7,6%, para 105,2 bilhões de euros, informou a companhia.

"Temos de continuar a trabalhar com afinco em nossas estruturas de custos", afirmou Hans Dieter Pötsch, o vice-presidente de finanças da Volkswagen, em comunicado.

Poucas montadoras mostram tamanha força na China e em outros países emergentes quanto a Volkswagen, cujas vendas nesses mercados devem crescer muito mais rápido que na Europa Ocidental. As vendas da Volkswagen na China subiram em 37% em 2009, para 1,4 milhão de veículos, total superior ao que o grupo vendeu na Alemanha.

As vendas no exterior ajudarão a compensar os baixos lucros e as linhas montagem utilizadas apenas parcialmente que a montadora mantém em seu país de origem, disse Stürzer, mas "outras montadoras não poderão fazer a mesma coisa".

A Volkswagen afirmou que antecipava uma melhora nos lucros, para este ano, mas que as vendas não retornariam ao nível de 2007 antes de 2012.

A BMW também está recorrendo aos mercados emergentes como fonte de crescimento. Anunciou que suas vendas cresceram em 38% na China e em 100% no Brasil, em 2009. O volume de vendas caiu em 20% nos Estados Unidos, no período, mas a montadora afirmou que já houve recuperação este ano.

Especialmente notável foi a disparada nas vendas dos modelos mais caros da BMW. A série 7, cujo modelo mais simples custa US$ 79 mil e tem variantes vendidas a até US$ 145 mil - por exemplo uma versão limusine cujos assentos traseiros trazem massageadores embutidos - registrou alta de vendas da ordem de 36%, chegando a um total de 52,68 mil carros vendidos.

O X6, um modelo com tração nas quatro rodas, e o esportivo Z4 também conquistaram fortes aumentos de vendas, informou a BMW.

A divisão de automóveis do grupo, que também fabrica as marcas Rolls-Royce e Mini, ficou no vermelho nos nove meses iniciais de 2009, mas voltou a um lucro operacional de 93 milhões de euros no quarto trimestre, anunciou a BMW.

A empresa se manteve lucrativa em 2009 devido aos lucros gerados pelas suas divisões financeira e de motocicletas.

"Saímo-nos bem em 2009 a despeito das condições difíceis de mercado em todo o mundo", afirmou Norbert Reithofer, o presidente-executivo da montadora, em comunicado.

A BMW passou pela crise financeira em melhor forma que rivais como a Daimler, fabricante dos modelos Mercedes Benz, porque reduziu sua capacidade de produção no começo de 2008 e não acumulou grandes estoques de veículos não vendidos.

A companhia disse que esperava uma melhora das vendas este ano, com o lançamento da nova versão da Série 5 e do Mini Countryman, dotado de tração nas quatro rodas.

A BMW anunciou na terça-feira que as vendas de todas as suas marcas automotivas haviam subido em 14% em fevereiro, ante o mesmo mês em 2009, para 92 mil veículos. Em 2009, a montadora vendeu quase 1,3 milhão de carros, incluindo Minis e Rolls-Royces, uma queda de 10,4% ante 2008.