MST questiona prisão e transferência de agricultor e diz sofrer represália devido a ocupação de fazenda

08/03/2010 09:14 - Interior
Por Redação

Sem Terra preso em Inhapi é transferido para a Delegacia de São Miguel dos Campos
Preso sob a acusação de participar de uma invasão à Fazenda Capim, na cidade de Inhapi, Sertão de Alagoas, o agricultor José Aparecido Costa da Silva foi transferido na última sexta-feira (05) da Delegacia Regional de Delmiro Gouveia, onde estava detido, para a unidade de São Miguel dos Campos.

A decisão sobre a transferência do agricultor foi do juiz Ferdinando Sremin Neto. De acordo com o delegado Cícero Firminiano, de Delmiro, o agricultor participou da ocupação da fazenda, apesar do Movimento dos Sem Terra (MST) alegar que a prisão foi uma forma de represália ao MST.

O delegado explicou que a fazenda já havia sido ocupada no ano passado pelos sem terra e que, o proprietário solicitou a reintegração de posse à Justiça, o que foi concedida. “No ano passado, os policiais estiveram no local e retiraram os agricultores após a decisão da Justiça a favor do dono das terras. Só que mais uma vez o grupo voltou a ocupar a fazenda e ainda atearam fogo em barracos. A prisão ocorreu devido a essa ocupação, já que eles invadiram o curso do processo”, afirmou Firminiano, lembrando ainda que a justiça decretou a prisão de outras dez pessoas.

O preso, que já se encontra nas dependências da Delegacia de São Miguel, não deve ficar no local por muito tempo. É que o delegado informou que já existe um novo pedido de transferência para um presídio, o que deve acontecer nos próximos dias.

Em nota enviada à reportagem do CadaMinuto, o MST que ‘Cido’, como é conhecido, foi preso quando cinco viaturas da polícia o abordaram quando seguia de sua casa, no assentamento Frei Damião, para o Centro de Inhapi, acompanhado de um carona.

Segundo o movimento, a prisão do agricultor ocorreu como uma medida de repressão à re-ocupação da fazenda. Os dois foram abordados pelos policiais que perguntaram de seu envolvimento com o MST e a re-ocupação da fazenda. Depois de serem fotografados pelos policiais, o outro passageiro da moto foi liberado e o assentado José Aparecido foi levado pela polícia.

Eles dizem ainda que ‘Cido’, foi espancado na delegacia em frente aos outros presos e foi forçado a assinar um falso depoimento e que a prisão aconteceu devido um vídeo que comprovaria sua participação na ocupação do dia 11 de novembro.

Briga no campo

A fazenda Capim foi ocupada pela primeira vez pelo MST em 2003, ainda sob posse de José Luna Torres. Expulsos por uma ação de reintegração de posse, as famílias retornaram à fazenda Capim em 2005. No ano de 2006, uma articulação de ex-empregados do antigo dono da área formalizou junto ao Governo uma associação para adquirir as terras em questão pelo Crédito Fundiário, iniciando uma nova fase do conflito, agora colocando trabalhador rural contra trabalhador rural. Durante todos esses anos, a pistolagem foi marca da violência do antigo proprietário e seus empregados, havendo tiroteios em 2006 e denúncias da presença de jagunços na área desde o fim do ano passado.

A região do Alto Sertão entre Inhapi e Mata Grande vive momentos de tensão provocados pelo Estado e pela ação truculenta dos latifundiários. Uma assistente social, amiga da família de “Cido”, foi seguida por uma moto após visitar o militante na delegacia. Ela foi abordada por uma viatura de polícia que exigiu sua identificação e deu o “recado” de forma bem direta: “Avise a quem está na fazenda para sair imediatamente, pois eles estão errados!”

A tensão na região entre fazendeiros, pistoleiros e famílias Sem Terra não se resume a situação do acampamento 11 de Novembro. O exemplo da fazenda Curral de Fora, no município vizinho de Mata Grande, é a ilustração, onde os próprios fazendeiros quebraram tudo no antigo acampamento, expulsando a gritos as famílias que ali produziam.

A situação de violência sustentada pela elite de Alagoas, seja pela administração do Estado e comando da Polícia (que precisaria de ordem judicial para efetuar qualquer prisão), seja pela ação direta da pistolagem ligada ao latifúndio é uma afronta aos Direitos Humanos. A luta pela Reforma Agrária é um passo para a consolidação de um desenvolvimento que se volte para o próprio povo, redistribuindo terras, renda e poder. No contexto em que o próprio Governo Federal lança à sociedade no PNDH-3 uma proposta que flexibiliza o atual procedimento de reintegração de posse, exigindo para isso Audiências Públicas que debatam cada área, a atuação truculenta e oportuna da Polícia Militar comandada pelo Governo Téo Vilela assusta pela violência.

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