O céu se abriu para Felipe Camargo. De malas prontas para tentar trabalhar nos Estados Unidos, há um ano sem trabalhar e 17 sem um papel principal, ele voltou às telas como Dante, protagonista de Som & fúria, em julho deste ano. E o próximo convite não demorou: o ator interpreta Portinho, um astrônomo que vive no mundo da Lua, na próxima novela das sete, Tempos modernos (o nome inicial, Bom dia, Frankenstein, não agradou), que estreia em janeiro na Globo.

– O Portinho é desligado. Costumo falar que ele é tão concentrado no que faz que se desliga do resto – diz Camargo.

O personagem também faz um par romântico diferente: o astrônomo foi casado com Regiane, interpretada por Viviane Pasmanter, mas mesmo após o divórcio eles ainda se encontram – às escondidas, já que Regeane está noiva do vilão Albano (Guilherme Weber).

– Eles se separam por incompatibilidade de temperamento, mas têm essa coisa de pele, e não conseguem se desligar.

Para dar as “escapadas” com Regeane, Portinho usa sua moto com um side car, que é um acoplamento lateral, ou, como Camargo sintetiza, “uma moto como aquela do Indiana Jones”. O ator nunca tinha pilotado uma moto, mas disse que não teve dificuldade e precisou apenas de “umas aulinhas”.

– Não tem muito mistério, o difícil é que tem uma determinada curva que se você não fizer direito ela capota; mas como não estou correndo, não tem perigo. Ao fazer a curva da direita tem que tomar cuidado para não pegar no meio-fio, por causa da carona do lado. Eu até subi numa calçada lá em São Paulo – brinca Camargo.

As primeiras gravações da novela foram feitas na terra da garoa, mas a equipe já voltou para o Rio de Janeiro, no Projac, onde foram reproduzidos as livrarias, pizzarias, e galerias da capital paulista – e, claro, os prédios, como o Titã, nome fictício para o maior arranha-céu da cidade, do qual o protagonista Leal (Antônio Fagundes) é dono.

– São Paulo tem essa força cosmopolita e é uma cidade tão diversa, tem todo tipo de gente. É uma cidade vertical, com muitos prédios, uma coisa um pouco sufocante, mas ela é muito rica em cultura, em diversão, é muito efervescente – elogia.

A cidade é um contraponto com a personalidade de Portinho, como explica Camargo:

– É interessante o fato de ele ser um astrônomo em São Paulo, tem que procurar nesgas de céu no meio dos prédios. Mas por um lado a cidade não oprime tanto o Portinho quanto os outros personagens, porque ele está muito no mundo da lua, está sempre pensando para fora.

O papel em Som & fúria foi visto como um recomeço da carreira do ator – pelo papel, Felipe Camargo acabou de ganhar o prêmio de melhor ator em 2009 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); Som & fúria ficou com o de melhor série.

– Há bastante tempo não recebia uma oportunidade tão boa de mostrar meu trabalho. Sou ator, gosto de trabalhar, e sempre quero fazer bons personagens. O Fernando Meirelles me deu essa oportunidade maravilhosa, fiz com o maior prazer e adorei o resultado.

O envolvimento com álcool e drogas e o relacionamento conturbado com a atriz Vera Fischer acabaram desviando a atenção de seu trabalho para a vida pessoal.

– As pessoas se esqueceram durante um tempo que sou um bom ator, sempre fiz protagonistas. Não que eu só vá ficar fazendo protagonistas a partir de agora, estou com um papel delicioso na novela. Bacana são os bons personagens.

Mas ele não acha que ficou estigmatizado pelo seu passado.

– Com o Som & fúria, a resposta veio imediatamente. Vejo na rua que tenho respeito e um grande carinho do público, eles sabem quem eu sou, minha história de pai e de profissional. O público não é como a imprensa.