Ele tira o chapéu até para quem lhe deu rasteira. No ano em que completa 50 anos como apresentador, Raul Gil diz não ter inimigos e garante que nem pensa em parar de trabalhar. “Meu sonho é curtir meu programa até o fim da minha vida”, conta.

Prestes a ser avô pela segunda vez, o paulista reconhece que a luta pela audiência é acirrada, mas não parece se preocupar. “Quando saio às ruas, se eu converso com 80 pessoas, 60 viram meu programa”, explica.

Apesar de toda a grana conquistada, confessa que seus luxos são apenas traumas da infância pobre, em que chegou a vender frutas na feira. “Por ter morado em casa de pau-a-pique, eu compro um monte de casas. Hoje eu tenho mansões fechadas”, revela. No entanto, ‘seu Raul’, como é chamado pelo público, não se acha melhor do que ninguém. “Para mim, todo mundo é igual. Cada um tem mais sorte que o outro”, responde, sem medo.

Com 50 anos de experiência, como o senhor consegue manter o público fiel?

Eles veem a família no Programa Raul Gil. As pessoas idosas, crianças e gente de 30 e poucos anos também. A pessoa que zela, conserva muito pela família, não deixa de curtir o programa. A gente fala muito de Deus. São pessoas que não gostam de baixaria e te acompanham. Aonde você vai, a pessoa vai junto.

O senhor já desbancou a Globo no Ibope e esteve em primeiro lugar várias vezes. Fica preocupado com a audiência?

Já ganhei (do “Caldeirão do Huck”) dois anos e meio. Não só do Luciano, do filme, dos programas e do início das novelas das seis. Preocupação a gente tem, não posso dizer que não, porque a audiência você acompanha como se fosse um vício. Você vê coisas que não acredita. Mas não posso dizer a você que não acredito no Ibope. Quando eu estava dando 30 pontos, eu achava maravilhoso. Não é agora que dou sete, seis, que vou achar que não presta. Eu acredito no Ibope. Quando saio às ruas, se eu converso com 80 pessoas, 60 viram meu programa. A disputa hoje é grande. Procuro continuar o mesmo esquema que sempre fiz.

Já foi pressionado para fazer um programa mais apelativo?

Às vezes, a gente vê os programas de baixaria crescerem tanto, que dá vontade de fazer também. Já (rolou pressão). Quando você vê isso dando audiência, pensa: “Será que o povo quer isso?”. Ao meu ver, o povo não quer isso. Você vê também programas que mostram desgraça. O povo gosta de desgraça? Ninguém aguenta mais. Não dá pra entender.

O que o senhor assiste?

Um pouco de cada. Um pouco do Silvio Santos, um pouco do Faustão. Se eu não assistir, não tenho o que falar. Só não assisto novela porque não cai no meu horário. Gosto do “CQC” e do “Pânico na TV!”. Gosto muito de ver meus colegas trabalhando e da Eliana, que começou comigo.

Tem alguém que o senhor lançou que foi mal agradecido?

Mal agradecido não é a palavra certa. Tem pessoa que esquece ou tem vergonha de falar que começou em programa de calouros. Também não fico preocupado. Na vida da gente, a gente tem que respeitar a Deus. Tudo o que os outros negam, Deus sabe o que faz. Se você nega aquilo de onde você veio, quando você está no fundo do poço, você quer voltar para aquilo de antes. Quantos começaram aqui e fizeram de conta que esqueceram? Aí, quando perdem o grande sucesso, voltam e pedem uma chance. Começam a colocar a culpa no empresário, na gravadora. Quem sou eu para perdoar? Eu só desculpo, Deus é quem perdoa.

De quem o senhor se orgulha de ter lançado?

De todos que saíram daqui. Eu não lancei, abri as portas. O Lulu Santos, por exemplo, não era conhecido quando veio ao meu programa. Ele me abraçou e falou: ‘De hoje em diante, o senhor é meu padrinho. Não se esqueça de mim’. Um dia, fui falar com ele, ele fez de conta que não me conhecia. Depois, ele refletiu. Com toda a humildade, veio aqui no meu programa, ajoelhou-se e pediu perdão. Ele disse ao auditório: ‘Eu magoei este homem aqui’. Achei de uma humildade tão grande. O próprio Gugu ficou conhecido pelo meu programa, ele jurado em 82. O Silvio Santos ficou com ciúmes e deu um programa para ele (risos). Tem a Maisa. Meu filho Raul que fez a Maisa cantar.

O senhor tem algum ressentimento em relação à Maisa?

Estou feliz que a Maisa foi ganhar dinheiro no Silvio Santos. Ele é o dono da emissora, pode oferecer R$ 200 mil para ela, eu não posso, sou funcionário, um contratado da Band. Se eu pagar a Maisa, vou ter quer tirar do meu bolso. E ela foi para o bem dela, é uma menina extraordinária. A gente a ensinou como se portar no palco e cantar. Desde que ela foi para o SBT, não conversou mais comigo. Quem deveria dizer para ela ‘liga para o vô Raul Gil’ são os pais. Se eles não fizeram isso, ela não vai tomar essa atitude porque é muito criança.

Muita gente copia seu programa?

A Luciana Gimenez tá fazendo o “Porta da Fama”, igual ao “Para Quem Você Tira o Chapéu”. Isso não é imitar. Você vê as crianças em programas da Eliana e da Ana Hickmann. As crianças estavam esquecidas. Até hoje trabalho com elas.

O que o senhor planeja para os próximos anos?

Eu não sou rico, vivo bem. Rico é quem para de trabalhar. Se eu parar, dancei. Meu sonho é curtir meu programa até o fim da minha vida. Você vê a Hebe Camargo, tadinha, está passando momentos desagradáveis. Acho até maldade do Silvio. Mas eu o adoro, ele é meu ídolo. Acho maldade dele não dizer se vai renovar o contrato dela ou mandá-la procurar outro lugar. É difícil para uma mulher de 80 anos, com o talento da Hebe, com que ela já fez pela televisão brasileira, ficar nesse vai ou não vai. A Hebe não merece isso, e não sei por que ele está fazendo isso, pois é uma pessoa muito correta.

Quais são seus luxos?

Eu tenho traumas e complexos de criança. Por ter morado em casa de pau-a-pique, eu compro um monte de casa. Hoje eu tenho mansões fechadas. Há um condomínio em que tenho oito casas. Como sempre quis ter uma bicicleta e nunca tive, compro vários automóveis. Tenho 15 carros, dez importados e dois Jaguar. Mas é tudo trauma, eu uso um só. Estou até pensando em vender. Mas se Deus me deu, acho que mereço.